Cinema: Critica – “Vive”, de Andy Serkis
‘Vive’ marca a estreia de Andy Serkis, o ator mais conhecido como Gollum nos filmes “Senhor dos Anéis” e César na franquia “Planeta dos Macacos”, como realizador e revela-se promissor neste cargo.
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Muito deste drama, baseado em factos verídicos, assenta no sentimento e na manipulação, onde beneficia de uma trilha sonora e de uma narrativa lisonjeira. É de forma intensa que Serkis descreve o romance e o casamento de Robin Cavendish (Andrew Garfield) com Diana (Claire Foy) e a sua vida idílica no Quénia, no início dos anos 60, onde trabalha como intermediário de chá (há apenas uma menção passageira à violência anticolonial, em África, mas essa é outra história).
Diana está grávida e tudo parece correr bem, mas quando nada faria prever eis que acontece algo inesperado. Cavendish contraiu a poliomielite. Ele fica paralisado do pescoço para baixo e deve respirar através de um ventilador para o resto da sua vida.
Numa clínica alemã estéril e reluzente para deficientes físicos, uma ala branca abriga filas de pacientes atingidos pela paralisia e nas máquinas de suporte de vida. Robin Cavendish, com deficiência similar, entra numa cadeira de rodas improvisada por ele e por um amigo. Existe logo aqui um contraste entre a desumanização bem intencionada e o poder da ingenuidade combinada com um espírito determinado para superar as limitações.
Ao longo do filme visionamos Cavendish a conseguir superar inúmeras limitações. Estes incluem a cadeira de rodas acima mencionada, equipada com um respirador tal como uma carrinha concebida especialmente para ele e que melhoraria a vida de milhares de outros pacientes. A vida de Cavendish torna-se inspiradora pois deparams-nos com um triunfo após o outro, e até mesmo um imprevisto mecânico quase desastroso, durante a viagem em Espanha se transforma numa festa com os locais.
Todos estes sucessos são inspiradores, mas as emoções mais profundas e complexas acabaram por não ser exploradas. Não podemos atribuir a culpa ao desempenho de Foy pois ela traz profundidade, humor e convicção ao seu papel como esposa devotada. Garfield, por outro lado, trabalhou afincadamente, mas não conseguiu superar a superficialidade da personagem como no argumento feito por William Nicholson (“Shadowlands”). Demasiado esforço foi dedicado a comemorar o direito de viver para, então, girar o foco no direito de morrer.
Trinta minutos de filme e temos certeza de que sabemos como o filme vai acabar – mesmo que não conheçamos a jornada notável de Robin e o seu impacto duradouro. Isto não significa que “Vive” não vale a pena ver; isto significa que mesmo que estejamos a presenciar Robin a atravessar uma dor física e emocional quase insuportavelmente dolorosa, é uma viagem bastante confortável para o espectador.
★★★
Breathe – Vive
Realizado por Andy Serkis. Argumento de William Nicholson. Com a participação de Andrew Garfield, Claire Foy, Tom Hollander, Stephen Mangan, Diana Rigg, Hugh Bonneville.
Mariana Martins