Roald Dahl: 9 filmes baseados nas obras do escritor
Roald Dahl pode não ser um nome tão familiar, mas é um autor britânico renomado por criar clássicos infantis. Certamente, você já se deparou com algumas das suas histórias incríveis, como “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”, “James e o Pêssego Gigante” e “Matilda”.
Se ele ainda estivesse entre nós, Dahl teria celebrado os seus 107 anos a 13 de setembro passado.
A Obra
Considerado “o contador de histórias número 1 do mundo”, a obra de Dahl é marcada pela quebra de padrões. Ao contrário de outras obras do género, os seus livros eram frequentemente caracterizados por uma atmosfera sombria e cómica, incorporando elementos de violência, sarcasmo e morte.
De maneira não convencional, os antagonistas nas suas narrativas eram comumente retratados como adultos malévolos, representando ameaças para as crianças protagonistas, que se destacavam pela sua precocidade e nobreza.
Em vista disso, a obra de Roald Dahl ultrapassou a marca de 300 milhões de cópias vendidas globalmente, com traduções em mais de 60 idiomas. Não é à toa que títulos como “O Fantástico Senhor Raposo”, “Charlie e a Fábrica de Chocolate”, “O BFG” e “Matilda” figuram com frequência nas listas dos melhores livros infantis de todos os tempos, inclusive as compiladas pela BBC Culture.
Ademais, parte de seu portfólio foi adaptado para o palco e a ecrãs em diversas ocasiões, incluindo o recente anúncio de uma prequela de “Charlie e a Fábrica de Chocolate”, “Wonka” na qual Timothée Chalamet protagoniza como o jovem Willy Wonka e a série de curtas de Wes Anderson para Netflix.
Revisão polémica
A revisão da obra de Roald Dahl, promovida pela Puffin Books, do grupo Penguin Random House, e pela Roald Dahl Story Company, responsável pelo legado do autor, gerou divisão entre os fãs. A editora britânica optou por remover conteúdo considerado ofensivo dos livros que estão sendo relançados atualmente. O facto foi noticiado num artigo especial de Ian Youngs e Paul Glynn da BBC.
Nas novas edições, inclusive no clássico “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”, referências ao género, aparência e peso dos personagens foram apagados ou modificados. Enquanto uma parte da opinião pública concordou com as mudanças, muitos se manifestaram contra, incluindo o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak.
A Roald Dahl Story Company afirmou que as mudanças decorrentes do processo de revisão, iniciado em 2020, foram “pequenas e cuidadosamente analisadas”. Algumas alterações incluem a descrição do personagem Augustus Gloop, agora referido como “enorme” em “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”, e a remoção da palavra “fat” (gordo) de todos os livros.
Na obra “Os Twits” – que pode ganhar uma adaptação cinematográfica, com a realização do indicado ao Óscar Phil Johnston – a Senhora Twit não é mais descrita como “feia e animalesca”, mas simplesmente “animalesca”. Além disso, a referência a “uma estranha língua africana” foi modificada para simplesmente “estranha”. As palavras “louco” e “desequilibrado” foram retiradas devido à preocupação com a saúde mental.
Em “Matilda”, uma ameaça de “acabar com ela” foi substituída por “dar uma dura reprimenda”. As referências às cores também sofreram alterações, como no livro “O BGA”, onde o casaco não é mais preto, e Mary agora permanece “imóvel como uma estátua” em vez de “branca como um lençol”.
Contos adultos
É importante desfazer a ideia de que a bibliografia de Roald Dahl se limitou unicamente às histórias infantis. Ao mesmo tempo, o britânico construiu uma carreira bem-sucedida dedicando-se à escrita de contos macabros voltados para o público adulto.
Nesse sentido, ao contrário da estrutura apresentada em seu “eu” infantil, as narrativas eram distinguidas por um humor ácido e desfechos surpreendentes. No total, Dahl escreveu mais de 60 contos, alguns dos quais foram originalmente publicados em revistas norte-americanas como Ladies Home Journal, Harper’s, Playboy e The New Yorker.
Mais tarde, compilou-os em antologias que também foram aclamadas globalmente. Algumas dessas coleções só foram publicadas em formato de livro após a morte do autor.
As adaptações de Wes Anderson
No mês passado, Wes Anderson lançou uma série de quatro curtas-metragens baseados nos contos macabros de Roald Dahl. Os filmes, disponíveis na Netflix, são adaptações de histórias da coletânea “The Wonderful Story of Henry Sugar and Six More”, publicada em 1977.
Os curtas “A Incrível História de Henry Sugar”, “O Cisne”, “O Caçador de Ratos” e “Veneno” foram lançados sequencialmente entre 27 e 30 de setembro. Eles apresentam uma estética característica de Anderson, com um visual colorido e estilizado. Além disso, são marcados por um humor ácido e finais surpreendentes, características distintivas da obra adulta de Dahl.
A produção das curtas marca o regresso de Anderson ao universo literário de Dahl. Em 2009, o realizador adaptou o conto infantil “O Fantástico Senhor Raposo” para o cinema. O filme foi um sucesso de crítica e público, arrecadando mais de US$ 325 milhões em bilheteria.
O lado guionista
Durante um breve intervalo nos anos 1960, Dahl dedicou-se à escrita de argumentos, alcançando certo êxito. Destacam-se entre suas contribuições os argumentos para o filme de James Bond “Só Se Vive Duas Vezes”, de Lewis Gilbert e “Chitty Chitty Bang Bang”, de Ken Hughes, ambos baseados em romances de Ian Fleming.
Como argumentista, Dahl também esboçou uma adaptação cinematográfica da sua obra “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”, porém, este foi reescrito por David Seltzer e incorporado ao filme “Willy Wonka e a Fantástica Fábrica de Chocolate”, de Mel Stuart, lançado em 1971.
Posteriormente, Dahl distanciou-se da produção. Após o falecimento do autor, ocorreu um reconhecimento póstumo ao atribuir-lhe créditos pelas letras das músicas na banda sonora da versão de Tim Burton em 2005. Essa honra deve-se à inclusão de várias canções originalmente escritas por Dahl para o livro, agora harmonizadas com a música de Danny Elfman no filme de Burton.
A seguir, o Central Comics, selecionou sete adaptações cinematográficas baseadas nas obras de Roald Dahl:
“Matilda” (1996), de Danny DeVito e “Matilda: O Musical” (2022), de Matthew Warchus
Em 1988, Roald Dahl lançou a fascinante história de Matilda, a menina apaixonada por livros e dotada de poderes telecinéticos. O enredo chegou ao grande ecrã oito anos depois, revelando a curiosa abordagem de Dahl aos adultos, retratando-os como simplórios e ignorantes, com a exceção da Srta. Mel (ou Miss Honey), enquanto Matilda brilha com sua inteligência excepcional. Aos 4 anos, ela já havia devorado obras como “Moby Dick”, de Herman Melville, “As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck e “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway. O filme, realizado por Danny DeVito, que também interpreta o pai de Matilda, permanece fiel ao livro, e conquistou verdadeiros devotos.
Sob a realização de Matthew Warchus, a obra ganhou um reboot em forma de musical para a Netflix 2022.
“Willy Wonka e a Fantástica Fábrica de Chocolate” (1971), de Mel Stuart e “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate” (2005), de Tim Burton
Publicado em 1964, “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate” conta a história de Charlie, um garoto que encontra um bilhete premiado, garantindo-lhe um passeio pela peculiar fábrica de chocolates de Willy Wonka. Depois de “Matilda”, é a obra mais conhecida de Roald Dahl.
O livro inspirou duas adaptações cinematográficas: a de 1971, estrelada por Gene Wilder, e a de 2005, realizada por Tim Burton, com Johnny Depp no papel de Wonka.
O enredo também é a base do futuro filme “Wonka” de Paul King.
“As Bruxas” (1990), de Nicolas Roeg e “As Bruxas” (2020), de Robert Zemeckis
Publicado em 1983, “As Bruxas” narra a história de um menino órfão que passa as férias num hotel luxuoso com a sua avó. Lá, ele descobre que a convenção das bruxas da Inglaterra, conhecidas como as mais cruéis do mundo, está em andamento. Essas bruxas têm um plano cruel: transformar todas as crianças do planeta em ratos.
A obra possui uma adaptação cinematográfica realizada por Nicolas Roeg, lançada em 1990, e em 2020, o vencedor do Óscar Robert Zemeckis realizou um remake.
“O Fantástico Senhor Raposo” (2009), de Wes Anderson
O protagonista do livro, lançado em 1970, é uma astuta e inteligente raposa. Ele enfrenta o desafio de ludibriar os fazendeiros Boque, Buno e Bino para garantir comida para sua família. A história foi adaptada para uma animação em stop-motion em 2009, sob a realização de Wes Anderson.
“O Amigo Gigante” (2016), de Steven Spielberg
As letras do título representam a abreviação de “O Bom Gigante Amigo”. Roald Dahl lançou esta obra em 1982, dedicando-a à sua filha Olivia, que faleceu aos sete anos de idade. A protagonista é Sofia, mais uma criança órfã na narrativa. Numa noite, ela avista um gigante e, como é o destino de todos que veem essas criaturas, é levada para a Terra dos Gigantes. Steven Spielberg realizou a adaptação cinematográfica.
Bónus:
“Gremlins – O Pequeno Monstro” (1984), de Joe Dante
Em 1943, Roald Dahl lançou “Os Gremlins”, um livro infantil baseado em suas próprias experiências como piloto da Royal Air Force (RAF) durante a Segunda Guerra Mundial. O protagonista da história, Gus, um piloto da RAF, tem o seu Hawker Hurricane destruído sobre o Canal da Mancha por um gremlin, criaturas travessas que faziam parte do folclore da RAF. Ao saltar de paraquedas na água, Gus convence os gremlins a unir forças contra um inimigo comum: Hitler e os nazis. Este foi o primeiro livro de Dahl, originalmente escrito para a Walt Disney Productions, em antecipação numa longa-metragem de animação que nunca foi realizada.
O filme “Gremlins – O Pequeno Monstro” de 1984, produzido por Steven Spielberg e realizado por Joe Dante, é vagamente inspirado nos personagens de Dahl, apresentando monstros malignos e destrutivos que se transformam em pequenas criaturas peludas.
Brasileiro, Tenório é jornalista, assessor de imprensa, correspondente freelancer, professor, poeta e ativista político. Nomeado seis vezes ao prémio Ibest e ao prémio Gandhi de Comunicação, iniciou sua carreira no jornalismo ainda durante a graduação em Geografia na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), escrevendo colunas sobre cinema para sites, jornais, revistas e portais do Nordeste e Sudeste do Brasil.