Neva: Perda e Crescimento
Neva destaca-se como uma experiência única e com uma identidade muito própria.
Jogo: Neva
Disponível para: PC, Nintendo Switch, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox Series
Plataforma testada: PlayStation 5
Estúdio: Nomada Studio
Editora: Devolver Digital
Quando acima falava numa identidade muito própria, a verdade é que tal não me surpreende. Neva foi desenvolvido pela Nomada Studio, os mesmos criadores do aclamado Gris, trazendo assim uma nova história para uma identidade visual facilmente reconhecida.
Neva conta a história de Alba, uma jovem que precisa de enfrentar a perda enquanto constrói um novo caminho ao lado de uma cria de lobo órfã num mundo que se encontra a desmoronar. A premissa é simples, mas a execução do jogo transforma-a numa experiência marcante. No seu âmago, Neva é uma viagem de crescimento pessoal, ambientada num mundo progressivamente hostil e em ruína, que envolve os jogadores numa experiência emotiva, misturando narrativa poderosa com uma jogabilidade fluida e envolvente.
Um dos maiores triunfos de Neva é a sua direção de arte. Tal como o seu antecessor Gris, Neva apresenta uma estética desenhada à mão, delicada e imersiva. O mundo é representado em tons suaves, quase pintados, contrastando momentos de serenidade com cenários mais escuros e ameaçadores. À medida que o jogador avança, o ambiente vai-se deteriorando, refletindo o tumulto interior de Alba enquanto enfrenta o luto e a perda. Cada nova área oferece elementos visualmente deslumbrantes, desde florestas vastas e ruínas desmoronadas até encontros surreais com criaturas aterrorizantes.
O uso da cor merece destaque. Tal como em Gris, onde a cor era usada como ferramenta narrativa, Neva utiliza contrastes vibrantes para indicar mudanças de humor e tom. As cenas calmas e em tons pastel dão lugar a ambientes sombrios e opressivos, à medida que Alba enfrenta desafios maiores, tanto emocionais quanto físicos. A animação é fluida e graciosa, com detalhes subtis que dão vida e personalidade tanto a Alba quanto à cria de lobo.
Em termos emocionais, a história de Neva acaba por se destacar. Sem depender fortemente de diálogos, o jogo comunica temas complexos através da narrativa ambiental e das interações entre Alba e a cria de lobo. Desde os primeiros momentos, fica claro que esta é uma história sobre luto e aceitação. Alba testemunha a destruição da sua terra natal e a morte do seu companheiro, eventos trágicos que definem o início da sua jornada de cura.
A cria de lobo, que Alba resgata no início do jogo, é mais do que um simples companheiro—torna-se um símbolo de esperança, crescimento e dependência mútua. Ao longo do jogo, a relação entre os dois evolui, desde uma necessidade de sobrevivência até uma profunda ligação emocional, sublinhada por momentos de ternura e medo. Juntos, precisam de navegar um mundo repleto de criaturas hostis e obstáculos naturais, enfrentando tanto perigos externos quanto as lutas internas de Alba.
O que distingue Neva é a sua exploração do crescimento pessoal perante a perda. Onde outros jogos se concentram exclusivamente em ação ou resolução de quebra-cabeças, Neva dá prioridade à resiliência emocional. O jogador é levado numa jornada de cuidado mútuo, onde a relação entre Alba e a cria de lobo é central, destacando temas de empatia e interdependência.
Neva combina exploração, plataformas e resolução de quebra-cabeças de forma fluida e elegante. As mecânicas são simples, mas eficazes, evitando a complicação excessiva para focar na narrativa e na profundidade emocional. As secções de plataformas envolvem guiar Alba e o lobo por um mundo cada vez mais perigoso. Embora os quebra-cabeças não sejam demasiado complexos, servem para aprofundar a ligação entre as personagens, já que muitos obstáculos exigem cooperação.
A cria de lobo desempenha um papel essencial na jogabilidade. Os jogadores podem dar comandos à cria, utilizando as suas habilidades para ajudar a superar obstáculos ou afastar inimigos. Isto introduz um elemento de estratégia leve, em que é necessário saber quando e como usar a cria para garantir a sobrevivência. À medida que o jogo avança, o lobo cresce e adquire novas habilidades, acrescentando variedade às mecânicas sem perder a conexão emocional no centro da experiência.
O combate em Neva é raro e subtil. Quando ocorrem encontros, estes são carregados de tensão e uma sensação de vulnerabilidade, reforçando a ideia de que Alba e o seu companheiro não são heróis tradicionais, mas sobreviventes num mundo hostil. Esta escolha de evitar combates frequentes permite ao jogo focar-se mais na atmosfera e no impacto emocional do que na adrenalina da ação.O design de som de Neva desempenha um papel crucial ao reforçar o peso emocional da experiência. A banda sonora, composta por Berlinist (os mesmos responsáveis pela música de Gris), é etérea e assombrosa, complementando na perfeição a estética visual. A música acompanha os momentos emocionais do jogo, intensificando-se durante os momentos de perigo e suavizando-se em cenas mais introspectivas e melancólicas.
Neva é um exemplo magistral de narrativa emocional e design artístico.Para quem procura uma jornada reflexiva e emocional através de um mundo que tanto tem decadente como de belo, este é o jogo ideal.
Nota: 9/10
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.