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Mirthwood: um género renascido das cinzas

Mirthwood
Mirthwood

Mirthwood chegou ao radar do Central Comics sem grande alarido, mas causou grande impressão e representa uma lufada de ar fresco no saturado género de simuladores de vida e agricultura.

Jogo: Mirthwood

Disponível para: PC

Plataforma testada: PC

Estúdio: Bad Ridge Games

Editora: V Publishing

Sinopse de Mirthwood

Embarca numa aventura tão encantadora quanto brutal e mergulha numa imersiva experiência de fantasia medieval. Vais reconstruir um novo lar e viver uma vida de comércio e relações pessoais próximas? Ou vais pegar na espada e partir para a aventura enquanto exploras um mundo deslumbrante. Seja como for, és tu quem decide.

Mirthwood é um jogo de aventura sandbox e um simulador de vida e agricultura medieval desenvolvido pela Bad Ridge Games e publicado pela V Publishing.

Análise TLDR de Mirthwood

Na minha opinião pessoal, nos últimos anos, jogar a simuladores de vida e agricultura tornou-se uma experiência semelhante a ver catálogos de tinta para exteriores, num género que estagnou com escassa inovação e uma capacidade de reter a minha atenção, na melhor das hipóteses, pouco mais de uma dezena de horas. Porém, mal posso esperar para terminar este artigo para voltar a jogar Mirthwood, que conseguiu reavivar em mim um entusiasmo que já não sentia desde Stardew Valley — vou referir este título várias vezes, já que me parece ser um excelente ponto de comparação.

Arte, som, música, atmosfera, linhas narrativas independentes e liberdade de escolha: todos estes aspetos conseguiram cativar-me a atenção, mas o mais impressionante é que o melhor ainda está para vir. Se a equipa (dupla) de desenvolvimento continuar neste caminho, vamos ter um caso sério de jogo indie que vai dar que falar ao ressuscitar um género acarinhado por muitos.

Aventura de fantasia medieval.

História de Mirthwood

Há algum tempo que os ventos da incerteza e do sofrimento sopram na direção da idílica quinta da nossa família. Embora esperada, a crise que se abate sobre a nossa família e a nossa comunidade obriga-nos a abandonar o conforto e a servidão de uma vida feudal e a fugir para uma terra em que todos são absolutamente livres… para o bem e para o mal.

Assim que desembarcamos nesta nova terra implacável, é-nos cedida uma propriedade decrépita para recuperarmos, mas somos nós que decidimos o rumo da nossa experiência, seja ela moldada pela labuta e pela criação de laços com a comunidade, ou pela violência e por atos de heroísmo.

A ideia é semelhante a outros títulos do género, mas Mirthwood afasta-se da habitual atmosfera pacífica e amiúde infantil normalmente associada a este tipo de jogos e leva-nos para um mundo bem mais cruel e implacável que, na minha opinião, é incomparavelmente mais imersivo, já que nos incute um sentido de alerta normalmente ausente nos simuladores de agricultura.

A nossa quinta.

Jogabilidade de Mirthwood

Em Mirthwood, existem várias mecânicas e sistemas de jogo que podemos experimentar. Embora seja um jogo sandbox (temos liberdade total para decidir o que vamos fazer sem ter de seguir uma progressão pré-definida), existem diversas linhas narrativas dentro do jogo que podemos seguir e explorar. O Central Comics já experimentou vários títulos ao longo dos últimos anos, mas, em toda a sinceridade, nenhum me roubou (nem de perto) as horas que Stardew Valley me conseguiu roubar e depressa me aborreci com cada uma dessas experiências. Não sei se o mesmo me vai acontecer em Mirthwood, mas é com grande confiança que vos digo que, ao fim de pouco mais de 5 horas de jogo, a experiência está a ser empolgante e mal posso esperar para voltar a jogar.

Posto isto, comecemos pelo aspeto de simulador de vida e agricultura. No início do jogo é-nos cedida uma propriedade decrépita, mas com um enorme potencial, que podemos recuperar e onde podemos montar um sistema de produção agrícola, com colheitas, animais e outros produtos alimentares que, posteriormente, vendemos. Com os lucros, podemos reinvestir em receitas, sementes, ferramentas, armas, decorações e etc. Portanto, o típico neste género. Porém, aqui, o sistema de progressão está bem montado, sendo que começamos com poucas opções e temos de ir desbloqueando o resto, tendo também de ter em conta as estações do ano.

Existe também uma componente de survival RPG, com um conjunto de métricas a terem de ser controladas, nomeadamente, fome, energia e pontos de vida, além de que vamos desenvolvendo as competências do nosso personagem com pontos de experiência adquiridos à medida que vamos progredindo. E falando em pontos de vida, aproveito para dizer que o vasto e interessantíssimo mapa de Mirthwood está repleto de inimigos espalhados por diversos biomas, onde os temos de enfrentar no caso de querermos ir além do conforto da nossa quinta. O sistema de combate é aceitável, no sentido em que apresenta uma clara evolução em comparação a Stardew Valley e a outros do género, mas também não esperem um combate complexo ao estilo de um puro souls like, já que não é a direção que se pretende neste título.

Ainda um pouco relacionado com a vertente RPG, mas merecendo o seu próprio pequeno parágrafo, temos o sistema de moralidade, em que as escolhas que fazemos no mundo e a forma como agimos afetam a forma como o mundo nos vê: mais bondosos, ou mais maléficos.

Por último, falo-vos de outra vertente também comum no género: a de interações sociais com NPC. Nunca foi algo que me atraísse muito no género, mas, neste caso, sendo o contexto mais pesado e os diálogos bem mais desenvolvidos, desperta-me mais o interesse, embora tenha de confessar que não testei este aspeto a fundo, já que passei a maioria do tempo a recuperar a quinta e a explorar o fantástico mundo em que fui lançado, enquanto completava pequenas missões com que me ia deparando.

No geral, considero a jogabilidade de Mirthwood excelente pela sua diversidade e por cada componente estar muito bem desenvolvido a nível individual, apesar dos ainda visíveis bugs que pouco afetam a experiência (joguei este jogo alguns dias antes de ser lançado em acesso antecipado, portanto, é normal que me tenha deparado com algumas coisas que vão desaparecer no momento do lançamento).

Gráficos e som de Mirthwood

Este é, sem dúvida, um dos pontos fortes do jogo. A arte de Mirthwood é deslumbrante, com gráficos de 2D sobre 3D num estilo de ilustração pintada à mão. O mundo em si também está muito bem montado e transmitiu-me a sensação de “estar vivo”, por oposição a um simples cenário em que divagamos sem interações.

Quanto ao som e à música: 10/10! Parte da razão de me ter conseguido convencer que estava mesmo num mundo de fantasia medieval dinâmico foi a música relaxante nos momentos descontraídos, que logo varia de intensidade para nos fazer bater o coração nos momentos de maior ação.

Não posso deixar de referir que adorei a narração de Mirthwood, com vozes incríveis e adaptadas ao contexto na perfeição.

Um mundo deslumbrante…

Postas de pescada e um par de botas

Para mim, Stardew Valley, embora não seja o primeiro jogo do género de grande destaque, será sempre o título que definiu esta categoria e estabeleceu a fasquia para tudo o que veio depois. Mirthwood ainda não bateu esta fasquia, mas não está assim tão longe quanto isso e acredito que tem potencial de sobra para o fazer. Encontrei poucos aspetos negativos a apontar, apesar de existirem: barreiras invisíveis em locais que não podemos aceder, quebras de FPS, sistema de fome, energia e vida desequilibrado e demasiado fácil de manter em cheque, e demais pequenos bugs. Isto é especialmente impressionante tendo em conta a fase de desenvolvimento do jogo. Não sei quanto tempo vou continuar a jogar, por agora, mas vou acompanhar de perto o desenvolvimento de Mirthwood e vou seguramente recomeçar um novo jogo (se não mesmo vários) após algumas atualizações. Não tenho dúvidas de que, se ainda cá andar, vou estar a jogar a este título dentro de alguns anos.

Não fui informado de quanto vai ser o preço de lançamento do jogo (recordo-vos que o testei alguns dias antes do lançamento em acesso antecipado), mas ser rondar os 15 ou 20 euros, é sem qualquer hesitação que o recomendo fortemente (mais que isso, talvez recomende esperar por uma promoção, já que não estamos a falar de um AAA que nos faz o IRS e aspira a casa ao fim de semana).

+++

Atmosfera, arte, gráficos, som, música, narrativas individuais, voz da narração, liberdade de escolha e capacidade de imersão.

Quebras de FPS e demais pequenos bugs, barreiras invisíveis e sistemas de sobrevivência a precisar de afinação.

… mas também sombrio.

Classificação: 8/10

Limpem-se os bugs, otimize-se o desempenho do jogo e equilibre-se os sistemas de jogabilidade, e o 9 está seguro – acrescente-se um pouco mais de conteúdo ao mesmo nível de interesse do já existente, e teria todo o gosto em chegar aos 9,5.

Mirthwood está disponível no Steam.

Para terminar, fica a dica indispensável: os bandidos também têm direito a amar… de modo que quando limparem o sebo a um, não se esqueçam de fazer o mesmo à sua cara metade .

Gameplay de Mirthwood:

Trailer de Mirthwood:

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