Kingdom Come: Deliverance II – Regresso em grande
Sete anos depois, Kingdom Come: Deliverance II regressa com a jornada de Henry.
Jogo: Kingdom Come: Deliverance II
Disponível para: PC, PlayStation 5, Xbox Series
Versão testada: PlayStation 5
Desenvolvedor: Warhorse Studios
Editora: Deep Silver, Plaion
Confesso que Kingdom Come: Deliverance foi um jogo que, inicialmente, me passou ao lado. No entanto, antes de embarcar nesta nova aventura, decidi que deveria jogá-lo. Portanto, estão a ler uma análise de alguém que o jogou de uma assentada, mesmo que em plataformas diferentes. Posso, desde já, adiantar que Kingdom Come: Deliverance II não é uma revolução completa face ao primeiro jogo, mas as melhorias introduzidas fazem dele um título impressionante.
A história começa exatamente onde o original terminou, com Henry a entregar uma carta crucial a um aliado do principal antagonista, o rei Sigismundo. Todo o universo do jogo está mergulhado numa guerra civil brutal, e Henry, filho de um humilde ferreiro, vê-se novamente envolvido em conflitos que estão muito além da sua posição. A escala e a intensidade da narrativa aumentaram significativamente, com a cidade de Kuttenberg a servir como um dos dois grandes centros do jogo. A história supera a do primeiro título em todos os aspetos, com um ritmo viciante e cinematográfico que prende o jogador do início ao fim.
Antes de mergulharmos mais fundo na narrativa, vale a pena destacar o que mudou em relação ao primeiro jogo. Desde logo, nota-se que os controlos foram refinados: a câmara em primeira pessoa responde melhor, a mira está mais fluida e o combate com espadas perdeu alguma da sua rigidez. O sistema de ataque em forma de roseta foi simplificado de cinco para quatro direções, tornando os duelos mais dinâmicos e acessíveis. Os contra-ataques também receberam ajustes, tornando as batalhas mais recompensadoras e estratégicas. Além disso, há novas opções para combate à distância: bestas e armas de fogo.
A atenção ao detalhe na recriação histórica destas armas é notável, mas usá-las no calor da batalha é um verdadeiro desafio. As bestas demoram uma eternidade a recarregar e as handgunnes (sim, o jogo usa a grafia da época) são incrivelmente imprecisas. Para quem sonhava em ser arqueiro, a experiência pode acabar por ser frustrante, empurrando muitos jogadores de volta para o combate corpo a corpo.
Por outro lado, um dos grandes acréscimos ao jogo é o sistema de ferreiro. Henry pode finalmente seguir os passos do pai e forjar armas. O processo é relativamente simples e até serve como uma boa forma de ganhar dinheiro. Curiosamente, as ferraduras são os itens mais difíceis de fabricar, mas a mecânica é bem conseguida e dá um toque extra de imersão.
O sistema de habilidades recebeu um grande reforço e está mais equilibrado do que nunca. A evolução ocorre de forma orgânica: ao praticar furtividade, os roubos tornam-se mais fáceis; ao ler livros, Henry torna-se mais persuasivo. Há um total de 278 habilidades, incluindo algumas que mudam significativamente a forma de jogar. Um deles permite curar vida apenas por tomar banho, enquanto outro concede um grito de guerra que diminui a moral dos inimigos.
A reputação também é um fator crucial. Cada vila e cidade tem uma opinião sobre Henry, e ser mal visto pode dificultar bastante a vida. No início, muitos NPCs recusam-se a falar contigo, obrigando-te a conquistar a sua confiança através de missões e boas ações. No entanto, a reputação torna-se demasiado fácil de gerir à medida que o jogo avança – um bom conjunto de roupas e um nível alto de Fala garantem que Henry é respeitado em praticamente todo o lado.
O sistema de diálogos continua a ser um dos grandes destaques do jogo. As opções de conversa são variadas, sem recorrer a indicadores óbvios de moralidade. As decisões influenciam a história e algumas até desbloqueiam missões secundárias.
Uma das grandes forças de Kingdom Come: Deliverance II são as suas missões secundárias. Algumas rivalizam com as missões principais em termos de qualidade cinematográfica e impacto narrativo. No entanto, nem todas atingem o mesmo nível de excelência. Algumas são dececionantes, com finais abruptos e sem recompensas significativas. Um exemplo frustrante envolve uma missão em que Henry viaja por quase todo o mapa para encontrar um local de escavação. Quando finalmente chega lá, depara-se com duas fações rivais a disputar o saque. Após negociar um acordo pacífico, o jogo simplesmente ignora a resolução e não concede qualquer recompensa, tornando a experiência frustrante.
Apesar destes momentos, as boas missões secundárias são memoráveis e contribuem para um mundo mais envolvente. Durante uma das missões principais, por exemplo, personagens anteriormente ajudadas juntam-se a Henry para celebrar um casamento, comentando sobre eventos passados. É um pequeno detalhe, mas faz uma grande diferença na imersão.
Além disso, o mapa de Kingdom Come: Deliverance II é o dobro do tamanho do primeiro jogo, repleto de vilas, castelos e florestas detalhadas. Para viajar rapidamente, há um sistema de fast travel, mas este consome recursos como comida e sono, o que adiciona um elemento estratégico.
A autenticidade histórica continua a ser um dos pilares do jogo, com elementos de sobrevivência como a necessidade de comer, dormir e cuidar da higiene. No início, isto pode parecer um peso, mas, à medida que Henry progride, estas mecânicas tornam-se mais fáceis de gerir. No entanto, o sistema de salvamento continua a ser um dos aspetos mais discutíveis do jogo. Ainda é necessário usar o infame Savior Schnapps para gravar o progresso, mas agora existem mais opções, incluindo auto-saves após eventos importantes. Mesmo assim, perder horas de jogo devido a uma decisão errada continua a ser uma possibilidade.
Graficamente, Kingdom Come: Deliverance II é impressionante, com paisagens deslumbrantes e cidades animadas. No entanto, há algumas falhas técnicas, como a repetição de rostos e vozes em NPCs secundários. O áudio também sofre de alguns problemas, com certas personagens a falarem mais baixo do que outras, tornando difícil ouvi-las sem ajustar constantemente o volume.
No final do dia, o que realmente faz Kingdom Come: Deliverance II brilhar é a sua narrativa principal. O enredo é envolvente, cinematográfico e repleto de momentos memoráveis, estabelecendo um novo padrão para histórias em jogos de mundo aberto. Se conseguir ultrapassar a curva de dificuldade inicial, o jogador será recompensado com uma das experiências RPG mais ricas e imersivas de sempre.
Kingdom Come: Deliverance II mantém a essência do primeiro jogo, aprimorando-a com pequenas mudanças que tornam a jornada de Henry ainda mais marcante. O realismo pode ser desafiador, mas a autenticidade e a qualidade narrativa fazem com que valha a pena insistir.
Nota: 9,5/10
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.