IndieLisboa 2024 – Programação completa já disponível
Falta pouco para o regresso do melhor cinema independente contemporâneo. A 21ª edição do IndieLisboa acontece de 23 de maio a 2 de junho, nas salas de sempre, com um olhar atento e urgente sobre o mundo, agora.
A Competição Nacional, secção central do festival, regressa com 8 longas metragens e 18 curtas metragens, num equilíbrio saudável entre cineastas que regressam ao festival e outros que por cá se estreiam. Nesta edição, tão importante do ponto de vista inspiracional, tendo em conta a celebração de Abril e dos seus 50 anos da Revolução, a Competição Nacional celebra um número recorde de títulos a concurso, uma ambição desmedida pelo formato mais longo, um conjunto de cineastas particularmente vibrante e um gesto de questionamento permanente da história – e do país – através de uma expressão artística explícita.
Há 3 estreias mundiais entre as longas metragens e 11 estreias mundiais entre as curtas metragens. Destacamos alguns filmes, começando por uma estreia mundial – Banzo, de Margarida Cardoso, que acompanha um médico de uma plantação numa ilha tropical africana que, em 1907, terá de curar um grupo de serviçais “infectados” pelo Banzo, a nostalgia dos escravos. Morrem às dezenas, de fraqueza ou suicidando-se. Também em estreia mundial, O Ouro e o Mundo, de Ico Costa, foca-se num jovem casal de uma pequena cidade de Moçambique. Para escapar à precariedade, Domingos embarca então numa viagem por Moçambique, com destino às minas de ouro no norte do país. A terceira estreia mundial é O Melhor dos Mundos, de Rita Nunes, um drama passado em 2027 sobre um casal de cientistas frequentemente em pólos opostos. Este conflito será posto à prova numa noite decisiva em que dados analisados por Marta apontam para uma probabilidade muito alta de um enorme sismo poder atingir Lisboa. Os cientistas ficam indecisos sobre alertar a população para a possível tragédia iminente. O novo filme de Diogo Costa Amarante chama-se Estamos no Ar e a sua protagonista, Fátima, diz que não sente nada, mas sonha com o polícia que se mudou recentemente para o apartamento ao lado. Vítor, o filho, usa secretamente a farda do vizinho na expectativa de que o rapaz que conheceu online sinta alguma coisa por ele. Júlia, a avó, quer fugir do lar, mas sente-se cansada de andar às voltas para não ir a lado nenhum. Tudo o que estas pessoas desejam parece dissolver-se no ar. Basil da Cunha regressa à Reboleira em Manga d’Terra para contar a história de Rosa, jovem cabo-verdiana que trabalha num bar para enviar dinheiro para os filhos. Presa entre o assédio dos mafiosos e a violência policial quotidiana, Rosa tenta encontrar consolo no seio das mulheres da comunidade, mas o seu verdadeiro escape é a música. Mãos no Fogo, de Margarida Gil, estreado no Festival de Berlim, explora as características imateriais do cinema através de Maria do Mar, jovem estudante de cinema, e uma tese sobre o Real no Cinema. Mar tem uma confiança ilimitada no “visível” e a sua candura, a par da sua ingenuidade, também a inclinam para ver o lado bom das coisas e o que há de genuíno nas pessoas e seus costumes. Jorge Jácome volta ao IndieLisboa com a sua aventura poética Shrooms e os seus cogumelos mágicos. Em Greice, de Leonardo Mouramateus, uma jovem estudante brasileira de 22 anos envolve-se com o misterioso Afonso. O casal é responsabilizado por um estranho acidente que ocorre numa festa e precipita o regresso de Greice a Fortaleza. Contos do Esquecimento questiona o papel de Portugal no tráfico transatlântico de africanos escravizados a partir de achados arqueológicos recentes em Lagos, no sul de Portugal. O filme de Dulce Fernandes invoca a distância entre o que queremos esquecer e a urgência da memória. Em estreia nacional está o aclamado filme de Catarina Vasconcelos, Nocturno para uma Floresta, que fala sobre um muro erguido no sec. XV por monges no Buçaco, impedindo a entrada de mulheres. Mas os muros impelem para a reviravolta do universo. Todas as longas da Competição Nacional têm legendas descritivas.
Este ano o festival estreia uma nova secção, a Rizoma, que apresenta um conjunto de filmes que pretende trabalhar questões relevantes da actualidade, cineastas de renome, e ante-estreias. Um programa mobilizador e que oferece uma perspectiva crítica sobre o presente em torno do cinema como reflexão e debate. Rizoma é o lugar do encontro e da celebração dos filmes em conjunto com o grande público do festival. Impossível não mencionar All of us Strangers, o emocionante novo filme de Andrew Haigh, em exibição única em Portugal. Este romance queer teve seis nomeações para os BAFTA e unanimidade total em relação às prestações de Andrew Scott e Paul Mescal, dois actores em estado de graça. No Other Land, um dos maiores destaques na última edição do Festival de Berlim, é um filme de um colectivo palestiniano sobre a destruição que Israel consegue causar na sua tentativa de ir ocupando maiores faixas de terreno. Mas é também sobre a ligação que se estabelece entre um jornalista israelita e um activista palestiniano que vão criar uma aliança singular. Em A Besta, de Bertrand Bonello, o romance e a distopia andam frequentemente de mãos dadas. Léa Seydoux é Gabrielle, uma mulher que vive numa sociedade futurista que abomina emoções que exaltem os seres humanos. Para o efeito, um processo de purificação do ADN leva o indivíduo a viajar por todas as suas vidas anteriores, separando-se de todas as coisas que a afectaram. Nessas viagens, surge Louis, num encontro que põe em causa todo o processo.
Concentrado no primeiro fim de semana do festival, Novíssimos é uma secção competitiva para jovens cineastas, não só em idade mas em vontade de experimentar o cinema. Não é tanto uma competição para filmes de escola, embora haja lugar para muitos deles, tanto do ensino secundário como do superior, mas sim para cineastas emergentes, mesmo quando a escola de cinema não está no seu caminho. Há espaço para diversidade temática e formal, numa selecção que cobre várias expressões artísticas, desde registos documentais como Conseguimos Fazer um Filme, de Tota Alves, até narrativas mais clássicas, como o filme de Mário Veloso, o coming of age Chuvas de Verão; o cinema experimental de Anima (Joana Patrão), a animação feminista de Maria João Lourenço, Clotilde, e até o videoclip Sunflowers – A Strange Feeling of Existential Angst, realizado por Carolina Bonzinho e Leander Meresaar. Cinema para todos os gostos e formatos, com a promessa de descoberta do futuro do cinema português.
Destaque ainda para as sessões que marcam o arranque e o final do festival – a abrir, I’m not everything I want to be, filme sobre Libuše Jarcovjáková, a “Nan Goldin da Checoslováquia”, e o ambiente sufocante vivido depois da Primavera de Praga de 1968. Há poucos locais onde se pode expressar livremente ou explorar a sua sexualidade. A câmara como companheira constante — e a origem do material do filme, composto pelas suas inúmeras fotografias e excertos dos seus diários — captura a ida dela para Berlim Ocidental, escapar para Tóquio, e o regresso à Europa. No encerramento, Dream Scenario, de Kristoffer Borgli, que o ano passado esteve na secção Boca do Inferno com o seu Sick of Myself, regressa agora com nova comédia negra, desta feita fazendo–se acompanhar de Nicholas Cage, sempre pronto para papeis desafiantes, e da produtora americana A24. Dream Scenario vê o personagem de Cage, um professor de biologia perfeitamente banal, a surgir nos sonhos de muitas outras pessoas. Ao ponto de se tornar famoso e, depois, ao ponto de se tornar infame. Pode consultar a lista completa de filmes aqui.
O IndieLisboa terá lugar entre o Cinema São Jorge, a Culturgest, a Cinemateca Portuguesa, o Cinema Ideal, o Cinema Fernando Lopes e a piscina da Penha de França entre os dias 23 de maio e 2 de junho. Os bilhetes estão à venda a partir do dia 9 de maio
Começou a caminhar nos alicerces de uma sala de cinema, cresceu entre cartazes de filmes e película. E o trabalho no meio audiovisual aconteceu naturalmente, estando presente desde a pré-produção até à exibição.