Filmografia de Jane Campion é destaque no Batalha Centro Cinema
De 5 abril a 15 junho, o Batalha Centro de Cinema celebra a obra de Jane Campion com uma retrospectiva completa das suas nove longas-metragens e a exibição da grande maioria das suas curtas-metragens.
A seleção “Jane Campion, Sem Cedências” reúne filmes que ilustram a trajetória singular da neozelandesa, desde os seus primeiros trabalhos até às produções mais recentes.
A mostra destaca a contínua exploração da psique humana pela cineasta, revelando sensibilidade e audácia.
Constitui uma oportunidade única para revisitar a filmografia de uma das mais importantes realizadoras contemporâneas, reconhecida por seu talento singular e por uma trajetória notável, duradoura e sem concessões.
Jane Campion
Filha de Richard Campion, diretor de teatro e professor de interpretação, e Edith Campion, atriz e dramaturga, Jane Campion não poderia ter nascido em ambiente mais propício à criatividade.
Desde cedo, ela e os seus irmãos Anna e Michael respiraram a atmosfera artística nos bastidores da companhia teatral New Zealand Players, fundada pelos seus pais e pioneira no profissionalismo teatral da Nova Zelândia.
Embora inicialmente tenha resistido à influência familiar, procurando por um caminho diferente na Antropologia, a paixão pelas artes finalmente a encontrou.
Em 1976, ela iniciou a jornada no mundo das artes, matriculando-se na Chelsea Art School, em Londres. A sua atração pela expressão artística levou-a a procurar aprimoramento, e em 1981, obteve um diploma de pós-graduação em artes visuais pela Sydney College of the Arts, da Universidade de Sydney.
A experiência de Campion na Sydney College of the Arts deixou uma marca definitiva na sua essência artística. A pintora mexicana Frida Kahlo, com as suas pinceladas rápidas e carregadas de emoção, e o escultor alemão Joseph Beuys, com a sua arte provocativa e engajada, foram figuras que a inspiraram profundamente.
Das artes visuais ao cinema
Embora concentrada no mundo das artes visuais, ela procurava algo mais. As limitações da pintura impulsionaram-na em direção ao cinema, onde encontrou a liberdade de expressão que tanto ansiava.
Em 1980, deu os seus primeiros passos nessa nova jornada com a criação do curta-metragem “Tissues”.
Motivada por sua paixão pelo cinema, Campion ingressou na Australian Film, Television and Radio School em 1981. Durante a formação, que concluiu em 1984, ela realizou diversos outras curtas-metragens, aprimorando as habilidades e consolidando o seu talento como realizadora.
A fama
Em 1989, “Sweetie” catapultou Jane Campion ao estrelato no seu país natal.
O filme aclamado no Festival de Cannes e premiado no Independent Spirit e no AACTA Award consolidou o seu nome como uma força a ser reconhecida.
O reconhecimento internacional não tardou a chegar. “Um Anjo em Minha Mesa” (1990) rendeu-lhe elogios da crítica, mas foi com o espetacular “O Piano” (1993) que ela conquistou o mundo.
A longa-metragem rendeu-lhe o Óscar de Melhor Argumento Original e uma nomeação ao Óscar de Melhor Realização, consagrando-a como uma das realizadoras mais talentosas da sua geração.
Suas obras
Nas obras de Campion, podemos observar a recorrência de temas e elementos que as moldam.
Entre eles, destacam-se as adaptações de densas obras literárias, o explorar do erotismo, a análise do impacto do poder nas relações sociais entre homens e mulheres, os conflitos geracionais no seio familiar, a desconstrução simbólica das relações sociais, personagens lidando com opressão e abuso psicológico, a presença marcante da natureza e paisagens como expressões emocionais e os espaços vazios que surgem com as transformações.
A meticulosidade de Campion é evidente em todos os aspectos da sua produção, revelando a busca pela perfeição. Ela demonstra critérios exigentes na parte técnica dos seus filmes, dedicando especial atenção à fotografia, direção de arte, figurino e música. Essa abordagem atenta contribui para a criação de uma estética visualmente deslumbrante e uma experiência sensorial envolvente.
Até ao momento, Campion já realizou nove longas-metragens, sendo o mais recente “O Poder do Cão”. Muitos desses filmes também foram escritos, coescritos ou adaptados por ela.
Programação
A programação de abril é a seguinte:
- “Sweetie” – 5 de abril, às 21:15
- “An Angel at My Table” – 7 de abril, às 19:15
- “Curtas-metragens de Jane Campion” – 13 de abril, às 19:15
- “An Angel at My Table” – 24 de abril, às 15:15
- “Two Friends”– 26 de abril, às 19:15
Brasileiro, Tenório é jornalista, assessor de imprensa, correspondente freelancer, professor, poeta e ativista político. Nomeado seis vezes ao prémio Ibest e ao prémio Gandhi de Comunicação, iniciou sua carreira no jornalismo ainda durante a graduação em Geografia na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), escrevendo colunas sobre cinema para sites, jornais, revistas e portais do Nordeste e Sudeste do Brasil.