Festa do Cinema Italiano entra na maioridade
Após uma infância despreocupada e uma adolescência turbulenta, a Festa do Cinema Italiano atinge finalmente a maioridade. Faz isso através de uma programação ousada e consciente, sempre em equilíbrio entre novas propostas autorais, grandes sucessos de público e o riquíssimo património cinematográfico italiano.
Paradigmática nesse sentido é a escolha do filme de abertura e de encerramento desta 18ª edição do festival.
Filmes que abordam temas centrais para quem acaba de alcançar a maturidade, como a consciência política tratada em A Grande Ambição, o filme de Andrea Segre (convidado do festival) sobre Enrico Berlinguer, muito estimado e aclamado secretário do Partido Comunista Italiano e a sua luta para encontrar a todo custo um compromisso entre as diversas e opostas forças da vida parlamentar italiana.

Da mesma forma, os dezoito anos marcam também a chegada da exploração livre da própria sexualidade, uma liberdade encarnada no filme de encerramento Diva Futura – Cicciolina e a Revolução do Desejo, por Cicciolina, Moana e todas as estrelas porno da agência de espetáculos de Gianni Schicchi que, a partir dos anos 80, revolucionaram a forma como o sexo era visto e considerado em Itália.
Entre política e pornografia, surgem então propostas de programação muito diversas, que tornam o festival, também este ano, rico e aliciante para todo tipo de público.
Entre as estreias do festival, além dos já mencionados filmes de abertura e encerramento, são destacados dois grandes sucessos de bilheteria italianos deste ano: o melodrama feminino Diamantes, de Ferzan Ozpetek, sobre os laços humanos e criativos num atelier de figurinos para cinema, e LoucaMente, de Paolo Genovese — o aclamado autor de Amigos Amigos, Telemóveis à Parte — que aqui se aventura numa divertida comédia inspirada em Divertida-Mente.

Há também espaço para o cinema de autor com O Último Padrinho, que leva à tela a história de Matteo Messina Denaro, o último boss da Máfia capturado em 2023 após quase 30 anos foragido. Os protagonistas do filme são dois dos maiores atores italianos da atualidade, Elio Germano e Toni Servillo, e os dois realizadores, Antonio Piazza e Fabio Grassadonia, estarão em Lisboa e Cascais para apresentar o filme.
Do Festival de Cannes chega Marcello Mio, de Christophe Honoré, uma divertida e surreal comédia em que Chiara Mastroianni decide viver como se fosse o seu pai. Um filme de cinefilia pura e amor paterno.
O Regresso de Ulisses de Uberto Pasolini conta com um elenco internacional de luxo; Ralph Fiennes e Juliette Binoche, que revisitam as façanhas de Ulisses, de Homero, na sua jornada para se reunir com Penélope. Por fim, o grande sucesso da crítica deste ano: Vermiglio, de Maura Delpero, vencedor do Leão de Prata no Festival de Cinema de Veneza e candidato italiano ao Óscar.

Uma sessão especial será dedicada ao controverso Food For Profit – O Negócio da Comida, de Giulia Innocenzi, um documentário sobre as dinâmicas de poder que controlam a indústria da criação intensiva de animais na Europa. Em Itália, este filme alcançou um sucesso inesperado, demonstrando o grande interesse do público por estes temas. A realizadora Giulia Innocenzi estará em Lisboa para apresentar este documentário.
Também este ano, a secção Amarcord do festival apresenta uma rica oferta dedicada à redescoberta do património cinematográfico italiano.
A programação começa já dia 1 de abril com Antonio Pietrangeli, esse desconhecido, uma retrospectiva organizada pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, renovando uma vez mais a colaboração com a Festa do Cinema Italiano. Pietrangeli é um dos nomes mais sensíveis e perspicazes do cinema italiano, cuja obra marca a transição entre o neorrealismo e a commedia all’italiana. Esta iniciativa permitirá rever no cinema a totalidade dos filmes de Pietrangeli, muitas vezes unidos pela atenção especial e pela poesia com que retrata as personagens femininas, como em Io la conoscevo bene (1965), com uma maravilhosa Stefania Sandrelli; Adua e le sue compagne (1960), sobre o mundo da prostituição; e La visita, com Sandra Milo num dos seus papéis mais célebres.
Já Mastroianni 100 reunirá diversas iniciativas para comemorar o centenário das maiores estrelas do cinema italiano, Marcello Mastroianni.
A secção Pereira sono io será o espaço que a Festa do Cinema Italiano dedica à forte ligação que o ator italiano estabeleceu com Portugal, especialmente no final da sua longa carreira. Roberto Faenza estará em Lisboa para acompanhar a projeção de Afirma Pereira (1995) e a estreia mundial de um documentário feito para o 30º aniversário desse filme. Também será exibida a versão integral do documentário Mi ricordo, sì io mi ricordo, de Anna Maria Tatò, um verdadeiro testamento artístico e espiritual de Mastroianni, filmado em Portugal durante as gravações de Viagem ao Princípio do Mundo (1996), de Manoel de Oliveira, a última aparição do ator italiano na tela. Para acompanhar esta homenagem, haverá também uma exposição fotográfica no Cinema São Jorge, com foco especial no período passado pelo ator em Portugal.Uma seleção das grandes interpretações de Marcello Mastroianni, como La Dolce Vita e Una Giornata Particolare, será mostrada no Cinema Fernando Lopes.

Por fim, La Bella Confusione, o livro do escritor e guionista Francesco Piccolo, será apresentado em Lisboa pelo autor, que nos guiará por uma jornada épica entre os sets de O Leopardo, de Luchino Visconti, e 8 e ½, de Federico Fellini. Dois cineastas opostos que, durante o verão de 1963, trabalharam simultaneamente nas filmagens dos seus respectivos marcos cinematográficos, disputando Claudia Cardinale por meio de provocações e rivalidades. Um episódio que resume os incríveis patamares alcançados nesses anos pelo cinema italiano.
A programação da Festa do Cinema Italiano amplia-se este ano, com três focos especiais.
O primeiro sobre Cinema Suíço de Língua Italiana, um programa criado em colaboração com a Swiss Film, o Festival de Cinema de Locarno e a Embaixada da Suíça em Portugal, que permitirá aos nossos espectadores descobrir filmes como La prodigiosa trasformazione della classe operaia in stranieri de Samir apresentado no Festival de Locarno, e o grande sucesso junto do público Bon Schuur Ticino, uma comédia sobre uma revolta fantasma de Ticino contra a obrigação de falar francês.
Por sua vez, Sombras: Histórias de Colonialismo, Solidariedade e Liberdade é um olhar multifacetado sobre os caminhos da colonização e descolonização de Portugal e Itália. Experiências diferentes mas que se entrelaçam surpreendentemente, sobretudo no cinema. Este ciclo, que alterna a videoarte com o arquivo militante, debates com apresentações de livros, não se limita a reconstruir o passado, mas pretende estimular a reflexão crítica sobre o presente, analisando como o colonialismo influenciou as sociedades contemporâneas e a forma como é narrado e representado.
Ópera na Tela explora as relações entre o cinema e uma das expressões artísticas e musicais mais tipicamente italianas, a Ópera. Fá-lo-á trazendo para as telas da Festa do Cinema Italiano obras inesquecíveis como La Traviata (filmada por Mario Martone), La Rondine (por ocasião do centenário de Puccini) e La Forza del Destino de Giuseppe Verdi, abertura da Temporada de Ópera 24/25 do Teatro La Scala.
A maturidade do festival não limitou, no entanto, o espírito curioso e informal da Festa do Cinema Italiano, que combina, como de costume, uma ampla programação cinematográfica com eventos paralelos, como encontros, leituras, música e gastronomia.
Haverá o concerto dos C’mon Tigre!, uma das descobertas mais interessantes da música independente italiana. Um coletivo que cruza a pesquisa musical com o cinema experimental e a animação, através de uma combinação de influências que vão do jazz à electrónica, passando pela música brasileira. Os C’mon Tigre! tocam no Musicbox na sexta-feira, 11 de abril.
O humorista e ilustrador Hugo van der Ding será o convidado no espetáculo sobre o cinema italiano, por meio de palavras, música e desenhos.
Continuam também as já famosas noites de karaoke, stand-up e ilusionismo italiano, além do lendário Cine-jantar, que este ano será dedicado a um dos personagens mais populares do cinema italiano: o anti-herói Fantozzi, vítima trágica do sistema capitalista, levado à tela há 50 anos pelo genial Paolo Villaggio.
A Festa do Cinema Italiano prepara-se para levar mais uma vez o melhor da cinematografia italiana a mais de 20 cidades em Portugal, reafirmando-se como um dos eventos culturais mais aguardados do ano.
LISBOA
9 a 17 Abril
Cinema São Jorge
UCI El Corte Inglés
Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema
Cine-teatro Turim
Cinema Fernando Lopes
CASCAIS
10 a 16 abril
Centro Cultural de Cascais
SETÚBAL
10 a 13 abril
Cinema Charlot – Auditório Municipal
BEJA
15 a 17 abril
Pax Julia Teatro Municipal
ALVERCA
16 e 17 abril
Teatro Estúdio Ildefonso Valério
AVEIRO
22 e 23 abril
Teatro Aveirense
FUNCHAL
29 e 30 abril
Centro Cultural e de Investigação do Funchal CCIF
BRAGA
30 abril, 1 e 2 maio
Centro de Juventude de Braga
FIGUEIRA DA FOZ
2 a 5 maio
Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz
SINTRA
4, 10, 17 e 18 maio
Centro Cultural Olga Cadaval
ALMADA
6 a 10 maio
Auditório Fernando Lopes-Graça
COIMBRA
7 a 11 maio
Casa do Cinema de Coimbra
Teatro Académico Gil Vicente
ÉVORA
8 a 10 maio
Auditório Soror Mariana
PORTO
14 a 18 maio
Batalha Centro de Cinema
Outras salas a anunciar
OEIRAS
22 a 24 de maio
Sala a confirmar
VILA FRANCA DE XIRA
23 a 25 maio
Auditório da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira
LAGOS
27 a 31 maio
Biblioteca Municipal de Lagos Júlio Dantas
MOITA
1, 6 e 7 de junho
Fórum Cultural José Manuel Figueiredo
LOULÉ
7 e 8 junho
Cineteatro Louletano
LEIRIA
16, 17 e 18 junho
Teatro Miguel Franco
ABRANTES / SARDOAL
Datas a anunciar
Centro Cultural Gil Vicente
BARREIRO
Datas a anunciar
Cine Clube do Barreiro
ODEMIRA
Datas e local a anunciar
… e mais a anunciar!
Começou a caminhar nos alicerces de uma sala de cinema, cresceu entre cartazes de filmes e película. E o trabalho no meio audiovisual aconteceu naturalmente, estando presente desde a pré-produção até à exibição.