Encontros do Cinema Português: apresentados 55 projectos
A 8ª edição dos Encontros do Cinema Português decorreu dia 31 de maio nos Cinemas NOS Vasco da Gama, com a apresentação de 55 projetos de produções portuguesas, na maior edição de sempre do evento promovido pela NOS Audiovisuais, com o apoio do ICA – Instituto de Cinema e Audiovisual.
Mais de 200 pessoas do setor da produção cinematográfica nacional, incluindo exibidores, realizadores, atores portugueses, assim como o ICA, a RTP, a TVI e outros organismos institucionais, marcaram presença neste encontro anual, que voltou a dar palco à apresentação de projetos de cinema português, promovendo a aproximação entre os mais variados agentes do setor.
Luís Nascimento, administrador da NOS, referiu que quando a NOS e o ICA se juntaram para organizar a primeira edição, acreditavam que ‘o cinema português tinha um espaço e um papel muito relevante no desenvolvimento da indústria do cinema. Este ano, temos 55 projetos, que batem os 42 de 2019 e os 45 do ano passado. Acho que isto mostra claramente o quão vibrante e energizada está a criatividade nesta indústria e, por isso, podemos olhar para a frente com positivismo’. Em doze anos apenas 8 filmes levaram mais de 150 mil espectadores cada às salas de cinema, um número que já dá escala a um filme. Para haver um crescimento do mercado de cinema nacional e conseguirmos uma quota de mercado relevante, Luís Nascimento afirma que ‘há dois eixos que temos de trabalhar conjuntamente: (i) garantir que existe pelo menos um a dois filmes portugueses com mais de 150 mil espectadores cada e (ii) assegurar que se produzam mais histórias em português que façam os portugueses sair de casa e ir a uma sala de cinema.´
‘Como melhorar a relação do público com o Cinema Português?’ foi o tema do debate moderado pelo jornalista Vitor Moura, que contou com a participação de Ana Isabel Strindberg (Portugal Film), José Eduardo Moniz (TVI), Luís Chaby (ICA), Manuel Pureza (realizador), Ricardo Cabornero (Prime Video Espanha e Portugal) e Susanna Barbato (NOS Audiovisuais).
Para Susanna Barbato da NOS Audiovisuais, é importante analisar quem vai ao cinema hoje, já que apesar de existir conteúdo, um dos grandes desafios da indústria cinematográfica passa por trazer histórias às salas de cinema, que os portugueses queiram ver. Hoje o cinema português, salvaguardando algumas exceções apela a um target mais velho, que infelizmente vai menos às salas de cinema. ‘Basta analisarmos o top 10 da tabela de box office e vemos que o público que vai hoje ao cinema são os mais jovens e as famílias atraídos por géneros de filmes de ação, comédia, aventura e terror. Recuperámos os jovens durante a pandemia, mas ainda não temos o público com mais de 45 anos a ir ao cinema com regularidade. É necessário perceber que histórias é que o público está disposto a ver no cinema, e apostar na produção nacional de qualidade direcionada ao consumidor que vai ao cinema e saber promover e comunicar o cinema português de forma a ter impacto junto dos consumidores e despertar interesse para o seu consumo’.
Manuel Pureza, realizador que terminou recentemente as rodagens de ‘O Mistério do Colar de São Cajó’, prequela da série ‘Pôr do Sol’ para os cinemas, afirma que o maior problema é a educação: ‘ninguém sabe como é que o cinema é abordado nas escolas, nem as condições em que é isso é feito. Temos um Plano Nacional de Cinema que não é seguido nas escolas, e isto é assustador, porque em vez de contribuir para criar espectadores, esta ausência de conhecimento faz de nós um povo com muito poucas ideias e poucas histórias para contar’.
Ana Strindberg sublinha as afirmações do realizador Manuel Pureza e relata a experiência da Portugal Film na promoção de filmes portugueses, na esfera internacional. ‘Tudo está ligado à educação e à formação, que é essencial nas escolas. Clubes de cinema são uma excelente opção, por exemplo, logo nas escolas primárias. O Plano Nacional de Cinema tem um trabalho realmente limitado e é por isso que as políticas culturais devem promover o cinema português, assim como os órgãos de comunicação social’.
‘A fonte de financiamento é pública e esse perfil tem condicionantes – é um perfil que nasce no Ministério da Cultura e, do ponto de vista de análise, encerra com a primeira exibição no cinema. Contudo, nós acreditamos que o impacto cultural é muito maior. É fácil falarmos de investimentos proporcionais aos filmes, quando sabemos que o retorno comercial é residual, mas o nosso cinema tem potencial e o nosso público merece a promoção das produções nacionais’, destaca Luís Chaby, presidente do ICA – Instituto de Cinema e Audiovisual, que vai mais além na reflexão e se foca na pluralidade do cinema português, destacando que, na sua diversidade, os filmes nacionais encontram o mesmo entrave – o financiamento.
José Eduardo Moniz, Diretor Geral da TVI, aborda a necessidade de capitalizar o investimento em boas estratégias de abordagem ao mercado. ‘É preciso ter boas políticas de marketing, que sejam eficazes. Se nos fechamos em nichos ou em targets muito pequenos, é evidente que se torna muito difícil chegar a qualquer lado, e quando um filme português consegue obter no máximo um financiamento de 600 mil euros é importante passar a responsabilidade para a iniciativa privada – que quer investir nas ideias’.
Uma das realidades do cinema contemporâneo é o streaming e Ricardo Cabornero, da Prime Vídeo Espanha e Portugal, afirma que o serviço streaming quer apoiar o cinema português. ‘O que vemos é mais talento, mais competência e vontade de criar conteúdo diferenciador. Acho que é fundamental apostar no investimento e na seleção dos projetos-chave. Não podemos competir com os grandes filmes americanos de ficção e ação, porque os budgets são mais limitados. Mas se se investir nos géneros certos, o talento é transferível para as salas de cinema’.
Na 8ª edição dos Encontros Do Cinema Português houve ainda espaço para analisar alguns dados relativos ao mercado do cinema em Portugal. Os números refletem uma estimativa de crescimento em receita bruta para 2023 na ordem dos 20% face a 2022, estando apenas também a 20% do melhor ano de sempre de cinema em Portugal que foi 2019, o que mostra uma boa recuperação do mercado de cinema. No que diz respeito aos filmes portugueses, em 2022, chegaram 53 produções nacionais às salas de cinema, o que representa uma quota de 5,6% em espectadores. ‘Curral de Moinas – Os Banqueiros do Povo’, foi o filme português mais visto do ano, com mais de 316 mil espectadores e 1,8M€ em receita bruta de bilheteira.
Os ‘Encontros do Cinema Português’ tem por objetivo promover a produção cinematográfica nacional. Num total de 8 edições, foram apresentados cerca de 300 projetos e participaram cerca de 1.600 representantes do setor.
Líder de mercado de distribuição de cinema, a NOS Audiovisuais continua a dinamizar e reforçar a sua aposta no cinema de produção nacional, promovendo a cultura e apoiando o setor, com iniciativas como esta junto dos principais agentes do setor.
Começou a caminhar nos alicerces de uma sala de cinema, cresceu entre cartazes de filmes e película. E o trabalho no meio audiovisual aconteceu naturalmente, estando presente desde a pré-produção até à exibição.