Crítica – Todos Falam Sobre o Jamie
Baseado no musical com o mesmo nome, Todos Falam Sobre o Jamie acompanha Jamie New (Max Harwood), um adolescente assumidamente gay de 16 anos que sonha ser drag queen. Trata-se de uma grande ambição, ainda para mais quando tem de enfrentar o preconceito inevitável da comunidade local. Jamie mora em Sheffield com a sua mãe solteira Margaret (Sarah Lancashire), que apoia o filho mas, infelizmente, o mesmo não se pode dizer do seu ex-marido e pai do Jamie, algo que Margaret tenta desesperadamente esconder, encobrindo-o e fingindo que enviou mensagens, presentes, etc.
O filme lida com uma série de temas incrivelmente relacionáveis, como a identidade, a família, os sonhos e a amizade, tudo aspetos que moldam quem somos enquanto indivíduos e que são importantes para definir a nossa identidade. Jamie não tem intenção de se enturmar com os seus pares e, muitas vezes, é intimidado pelos colegas e repreendido pelos professores, algo que ele acaba por conseguir fazer frente. É uma personagem bastante confiante no início, mas torna-se óbvio que tem alguns problemas subjacentes, e as suas complexidades são brilhantemente interpretadas por Max Harwood, à medida que aprendemos mais sobre ele.
Com a ajuda da sua melhor amiga Pritti Pasha (Lauren Patel), uma rapariga tímida com ambições de se tornar médica, ele decide que quer explorar a arte do drag e inclusivamente usar um vestido no baile de finalistas. É uma decisão assustadora, mas ele atira-se de cabeça e visita uma loja local onde vendem vestidos glamorosos. Lá, Jamie conhece o dono da loja e ex-artista de drag, Hugo Battersby (Richard E Grant), que assumia a personagem de Loco Channelle nos seus dias de glória. Após recordar alguns dos seus melhores momentos, oferece-se para ser o mentor de Jamie, que acaba por aceitar.
Tendo visto o musical de palco, a versão cinematográfica perde o ambiente intimista que apenas um teatro consegue oferecer. As canções e coreografias apresentadas nesta versão de Todos Falam Sobre o Jamie são competentes, embora não tão memoráveis como seria de esperar num filme deste género. Ainda assim, são cativantes e extravagantes, o principal chamariz para uma adaptação de uma peça de teatro musical. A ideia passa por ser excêntrico e um pouco exagerado, mas é por isso que resulta tão bem. Todas as personagens principais têm oportunidade de cantar os seus sentimentos, com algumas interpretações a destacarem-se das restantes (Grant e Harwood são as estrelas do elenco).
Apesar de simplificar em demasia determinados aspetos, Todos Falam Sobre o Jamie é um filme importante. Uma vez que a comunidade LGBT continua a ser subrepresentada, é extremamente importante contar histórias como esta e dar esperança a quem possa estar a debater-se com a sua própria identidade. Também não é fácil para Jamie, pois ele tem dificuldade em separar quem é da sua personalidade drag Mimi Me, que é bem mais confiante e capaz de conquistar o mundo. Na verdade, a sua relação com Mimi deixa-o em apuros a certa altura, ensinando-lhe lições importantes sobre como aceitar ambos os lados da sua personalidade.
Trata-se de um filme com uma mensagem positiva e otimista, mas existem elementos perturbadores que são necessários para enquadrar o enredo. O pai de Jamie rejeita-o e alguns dos rapazes da escola assistem ao seu espetáculo drag simplesmente para gozar com ele. Isso levanta algumas questões sobre como tratamos a masculinidade e a feminilidade e como esses estereótipos podem ser perigosos. O filme pretende que o espectador crie empatia com o Jamie e não há motivos para não o fazer. A sua personagem é cheia de vida e paixão, pelo que queremos que ele alcance os seus objetivos, por mais rebuscados que sejam.
Todos Falam Sobre o Jamie é um filme repleto de esperança, sendo fácil deixarmo-nos levar. A história de Jamie é envolvente e é uma lição sobre como é importante aceitar e apoiar quem está ao nosso redor. A película tem os seus momentos exagerados mas, em última análise, é um filme com o qual muitos de nós iremos estabelecer uma ligação próxima.
Nota Final: 7,5/10
Apaixonado desde sempre pela Sétima Arte e com um entusiasmo pelo gaming, que virou profissão.