Cinema: Crítica – Operação Entebbe (2018)
Operação Entebbe – Numa altura em que o mundo está profundamente marcado por cicatrizes da guerra que ocorre no Médio Oriente, José Padilha, realizador dos filmes “Tropa de Elite”, traz-nos um filme onde pretende afirmar o seu cunho pessoal neste conflito.
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“Operação Entebbe” conta-nos a história real que ocorreu em 1976 quando os passageiros de um avião foram sequestrados e feitos reféns por um grupo da revolução palestiniana. Entre os passageiros do avião estavam israelitas, o que invoca uma missão de resgate dos mesmos, considerada por muitos historiadores como um dos resgates mais perigosos de sempre.
Este filme, com o tema em questão tão real e fascinante tal como a presença de excelentes actores que desempenham o seu papel na perfeição, em especial Rosemund Pike (Gone Girl) e Daniel Bruhl (Rush), tinha todo o potencial para arrebatar audiências e críticos por todo o Mundo. Porém isto não se observa, sendo que está a passar despercebido pelas massas e muitos críticos estão a virar as costas ao filme. Qual o motivo?
De um modo geral, o filme está aprazível em termos visuais. Pelo motivo de o argumento ser 90% diálogo, José Padilha tem a noção de como guiar os seus actores e as cenas de modo a que não se torne aborrecido. A câmara em constantemente movimento nos momentos de exposição narrativa consegue injectar algum dinamismo e energia nos momentos em que a inércia é evidente. Por estes motivos, “Operação Entebbe” poderia ser considerado um filme interessante para se desfrutar e ter uma visão mais pessoal sobre um acontecimento real. Porém, dentro do argumento ocorrem dois erros que, a meu ver, servem como uma âncora que arrasta o filme para o fundo do baú da memória.
Em primeiro lugar, é demasiado parcial. O filme foca-se mais numa certa perspectiva do acontecimento (o que é comum em qualquer história do gênero), e quando nos tenta oferecer uma visão 360º da situação, não o faz da melhor forma, enaltecendo os actos de uns em detrimento dos actos de outros. Ao colocar como protagonistas principais os terroristas que sequestraram o avião, é motivo mais que suficiente para receber um backlash por parte do público que não considera que este seja o melhor ângulo para contar esta história. Num clima político e social demasiado efervescente como o de hoje em dia, é normal que este filme tenha recebido tão duras críticas devido a este motivo.
Em segundo lugar, o filme é demasiado superficial. Para além de querer contar a história do acontecimento, o argumento tem a intenção de humanizar as personagens, de forma a que a audiência possa criar laços de empatia para com as mesmas. Contudo, a forma como nos apresenta o enredo não é suficientemente forte para que consiga criar a faísca entre a audiência e o que está a acontecer na tela. Se não nos preocupamos com o que possa acontecer às personagens, então estamos apenas a presenciar algo que não produzirá impacto que nos faça recordar este filme.
Assim, podemos afirmar que “Operação Entebbe” é um filme morno, com uma visão da história muito particular que não está a ser recebida de braços abertos pela audiência. Para além da excelente edição da última sequência do filme, em que apresenta a acção em contraposição com uma cena de dança artística, nada será memorável depois de sair da sala de cinema. E, aquilo que se lembrar, pode não ser pelos melhores motivos.
-What are you doing here?
–I want to throw bombs into the consciousness of the masses
2,5 / 5
João Borrega