Cinema: Crítica – O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017)
O Sacrifício do Cervo Sagrado só estreia no dia 4, mas o Central Comics já foi ver. Será este um dos filmes mais difíceis de digerir do ano?
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Eu tomei conhecimento do trabalho do realizador Yorgos Lanthimos em 2015, com o filme utópico “A Lagosta”. Yorgos tem uma das vozes mais originais no cinema neste momento, com filmes sombrios, performances propositadamente mecanizadas e abordagem de temas sensíveis para a audiência comum. Desde que vi “A Lagosta”, fiquei curioso para saber qual seria a próxima carta na manga deste artista. Eis que surge, este ano, o filme “O Sacrifício de um Cervo Sagrado”.
Tal como na película anterior, esta obra é protagonizada por Colin Farrell, um cirurgião cardíaco que mantém uma relação amigável com o filho de um dos seus pacientes, relação essa que trará consequências desastrosas para a sua família do médico. Um thriller não se procede como um filme comum, criando uma atmosfera obscura e desconfortavelmente hipnotizante para a plateia.
Lanthimos nunca pretendeu realizar filmes categorizados como mainstream – e este não é uma excepção à regra. “ O Sacrifício do Cervo Sagrado” é um mistério que se desenrola lentamente à nossa frente e que pretende colocar a audiência em choque deste o primeiro frame até aos créditos finais.
O filme é uma constante metáfora. Seja as suas próprias personagens com actuações meio mecanizadas, ou o seu enredo deliberadamente lento – tudo exclama mensagens subliminares que a audiência necessita de retirar da cartola de Yorgos à medida que o filme se vai desenrolando, de forma a poder decifrar o sentido daquilo que está a presenciar. Nesse sentido, permitam-me que descreva este filme com uma própria metáfora: ver este filme é como beber um copo de whisky, sendo 3 os motivos que me levam a afirmar isto:
- Os primeiros goles são para a garganta se habituar à textura áspera do whisky – tal como os primeiros momentos do filme necessitam de uma certa “habituação” por parte do público;
- Quando nos habituamos ao whisky e a garganta fica anestesiada à sua rudeza, de vez em quando recebemos um “coice”, para recordar que é whisky que bebemos e não um mero copo de água – no filme, mesmo depois de nos habituarmos e aceitarmos como o mesmo está feito, de vez em quando recebemos um “coice” por parte do realizador, para nos recordarmos que se trata de Yorgos no seu potencial máximo.
- Por último, e não menos importante, tal como o whisky, este filme não será desfrutado por toda a gente.
Este filme é Yorgos no seu melhor. Com todas as suas qualidades e defeitos, este filme merece o estatuto de obra cinematográfica artística. Tal como qualquer arte, consegue repelar ou hipnotizar pessoas. “O Sacrifício do Cervo Sagrado” balanceia-se na corda bamba de querer ser adorado e odiado ao mesmo tempo. Apenas depende da audiência tomar o seu veredicto final.
4/5
João Borrega