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Crítica BD – Unico Livro 1: Despertar

Reimaginar a obra de Osamu Tezuka é uma tarefa surreal, mas Unico: Despertar, de Samuel Sattin e Gurihiru, ousam fazê-lo.

Unico - Livro 1: Despertar    

Na generalidade, Unico: Despertar adapta fielmente “O Gato na Vassoura”, uma das histórias originais de Unico. A narrativa comovente das amizades que Único faz na sua aventura, que se torna numa missão para ajudar uma gentil mas pobre senhora mantém-se intacta. Esta continuidade é essencial para preservar o encanto e a carga emocional que definiram o manga original. Contudo, Sattin entrelaça um arco narrativo mais amplo ao incorporar as origens mitológicas de Unico e a vingança ciumenta de Vénus, elevando a deusa de uma ameaça distante a uma antagonista central.

Esta releitura não se limita a transpor a história para um ambiente moderno, mas integra Unico no ritmo de 2024, conferindo uma nova visão contemporânea aos temas de amor, compaixão e cuidado ambiental. A narrativa também evoluiu para agradar ao público moderno, abandonando os painéis densos e os apartes cómicos de Tezuka em favor de uma abordagem visual mais elegante.

 

Unico - Livro 1: Despertar

A arte de Gurihiru é um dos elementos a destacar-se em Unico: Despertar. Ao invés de imitar o estilo icónico de Tezuka, inspirado na Disney, a equipa opta pela sua própria estética, caracterizada por linhas limpas, personagens expressivas e composições dinâmicas. A reinterpretação de designs chave equilibra habilmente homenagem e originalidade. Unico mantém a sua inocência característica, enquanto Vénus se transforma numa figura muito mais ameaçadora, com uma aparência alienígena que sublinha a sua crueldade sobrenatural.

Se há uma crítica a apontar, é o facto de Unico: Despertar não conseguir replicar por completo a genialidade multifacetada da obra original de Tezuka. A sua mistura única de experimentação visual, humor slapstick e comentário moral profundo continua insuperável. No entanto, os novos criadores compreendem esta limitação e apoiam-se sabiamente nos seus pontos fortes, oferecendo uma releitura que se sustenta pelos seus próprios méritos.

Unico - Livro 1: Despertar

Por fim, gostaria de dizer que esta edição do Distrito Manga, além de ter uma tradução fabulosa, é um livro que dá gosto ter na mão. Mesmo sendo um pouco extenso, torna-se algo leve de se ler, enquanto folheamos as páginas maciais desta aventura.

Unico - Livro 1: Despertar

Resta concluir que, Unico: Despertar é um testemunho do apelo duradouro das criações de Tezuka e da versatilidade das suas histórias. Sattin e Gurihiru criaram uma releitura que é simultaneamente uma homenagem sentida e uma obra independente capaz de cativar aqueles que não conhecem a obra original. Embora possa faltar-lhe um pouco da magia de Tezuka, consegue capturar a essência de Único e apresentá-lo a uma nova geração.

Nota Final: 8/10

António Moura

Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.

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