Crítica BD – Mattéo – Sexta Época
Com a publicação pela Ala dos Livros desta Sexta Época, que decorre entre Setembro de 1939 e Junho de 1940, Mattéo é mais uma série de banda desenhada integralmente editada em português.
Mattéo testemunha os acontecimentos marcantes de três décadas, desde o início da Primeira Guerra Mundial, passando pela revolução socialista na Rússia e pela Guerra Civil Espanhola, até chegar à Segunda Guerra Mundial em pleno vigor.
O protagonista é peão no meio de acontecimentos imparáveis, a personagem Mattéo é movida pelas utopias que embalaram tantos daqueles movimentos, quanto pelos seus interesses pessoais. A trama vive de paixões, desencontros e reconciliações, provocadas por deslocações forçadas pela fuga às autoridades ou ao invasor.
Neste volume final, Mattéo consegue fugir do forte de Collioure, mas terá de recorrer a velhas amizades para conseguir permanecer oculto e não ser novamente preso. No entanto, essa liberdade é abruptamente interrompida quando o exército alemão invade o território francês. No início da Segunda Guerra Mundial, as circunstâncias obrigam Mattéo a sair do seu esconderijo para tentar salvar a vida do filho.
O argumento, nesta nova entrada, é particularmente mais crente num mundo melhor e mais equitativo com igualdade e justiça para todos.
Mattéo percorreu meia Europa, esteve em França, Espanha e Rússia, vendo e vivendo de perto o crescimento de ideais e observando, muitas vezes, a queda das crenças pelas ganâncias.
Nesta sexta época, com o seu mundo a desmoronar-se devido à ascensão da Alemanha nazi após a vitória de Franco em Espanha, Mattéo, de volta ao ponto de partida, vai passar ao lado do conflito movido, mais uma vez por interesses pessoais: a procura do filho que o desconhece como tal.
Nas ilustrações encontramos um longo e embriagante fresco histórico traçado com mestria, delicadeza e virtuosismo por Jean-Pierre Gibrat, de um modo coerente. As figuras e cenários que o autor projeta, revelam, assim, atmosferas cativantes, capazes de desdobrar os estados de espírito do enredo informal e formal. As cores são esplêndidas, eloquentes como o argumento.
Os tons pastel predominam, destaca-se o realismo do traço, preocupado com as posturas e a cadência das figuras, numa realidade que se revela fria face a sonhos calorosos.
Esta última obra desta história, vinca assim a importância do ser humano sobre as ambições de alguns e a predominância de valores como o companheirismo, a solidariedade, a dedicação e a entrega em prol dos outros.
Uma grande série que finaliza neste número, aliado ao espírito inquietante e inquieto de Mattéo resultam numa obra merecedora de ocupar um lugar em qualquer estante de uma Bedeteca.
Leiam a análise do volume anterior aqui.
Jean-Pierre Gibrat nasceu em Paris em abril de 1954. No seu currículo constam publicações como o “Le Nouvel Observateur”, “L´Événement”, “Science et Avenir” e as revistas infantis “Je Bouquine” e “Okapi”. A partir dos anos 90, a obra de Gibrat regista uma tendência mais adulta, incluindo-se nesta fase as obras “Pinocchia” (1995, com argumento de Francis Leroi) e “Maré Baixa” (1996, com argumento de Daniel Pecqueur).
Autor: Jean-Pierre Gibrat
Ilustração: Jean-Pierre Gibrat
Género: Banda Desenhada, Romance Histórico
Editora: Ala dos Livros
Argumento: 10
Arte: 10
Legendagem: 8
Veredito final: 9
Atriz e professora. Da marginalidade à pureza gosto de sentir tudo. Alcanço o clímax na escrita. Sacio-me com a catarse no teatro. Adiciona-se uma consola, um lightsaber, eye makeup quanto baste e estou pronta a servir.*De fundo ouve-se Fix of Rock’n’Roll, de The Legendary Tigerman*