Crítica BD – Comissário Ricciardi: Primeiros Inquéritos
Já chegou às livrarias um novo volume da colecção Aleph – dedicada aos “heróis” Bonelli, “Comissário Ricciardi: Primeiros Inquéritos”, que A Seita estreia no nosso país, uma personagem criada por Maurizio de Giovanni. Nesta obra são publicados curtos episódios da história mãe.
A fisionomia do protagonista foi baseada no ator Andy Garcia. Para Além do comissário Luigi Alfredo Ricciardi, é-nos apresentado o principal elenco em “Primeiros Inquéritos”: A sua vizinha e paixoneta platónica Enrica Colombo, a sua ama Rosa Vaglio, o seu superior António Garzo, Sargento Raffaele Maione, braço-direito do comissário, e também o médico-legista Doutor Bruno Modo.
Mas o que torna esta narrativa tão especial e singular? É exatamente o dom do comissário em ver os momentos finais de vítimas de mortes violentas, devido a esta sensibilidade Ricciardi segue rotas inesperadas na sua vida e, com ele, arrasta o leitor.
Legado materno ou maldição, esta capacidade do protagonista é a gema e, simultaneamente, o ponto de ação da história. Esta primeira obra é, literalmente, um retrato das primeiras investigações do comissário, enquanto inspetor da polícia italiana.
A ação da narrativa localiza-se em Nápoles em 1930, a cidade fala por si, os seus detalhes fazem com que o leitor a assuma também como uma personagem – talvez a mais misteriosa de todas. Um lugar que se divide entre purezas e impurezas, a riqueza e a pobreza, cada rua guarda cicatrizes das duas grandes guerras e prepara-se para a ameaça do fascismo. Nápoles é, então, tanto um pináculo de fascínios como de infortúnios sociais e pessoais.
De facto, não só o enredo, mas também o homem que acompanhamos se prova transtornado e isolado, os seus silêncios são mais reconfortantes do que as suas visões. A imersão é um dos pontos-chave desta BD, partilhamos os tormentos e as contrariedades das vidas que seguimos.
É também importante destacar que, apesar das diferentes equipas criativas responsáveis por cada um dos três contos, achamos uma unidade na forma e na linha do conteúdo exposto.
Na imagem, vemos cenários noir, com um traço atento e em relação com as emoções das figuras que o percorrem, a dicotomia entre vivos e mortos é bem realçada, o efeito “estranheza” é invocado, bem como uma curiosidade perversa.
“Primeiros Inquéritos” é uma excelente introdução ao universo macabro, mas, igualmente, justo da série de Ricciardi. Projeta-nos claramente entre o ar e o sufoco, entre a paz e o temor… incita-nos a sair do meio, a reconhecer os lados das matérias acima e abaixo de terra.
Formado em arquitectura, Daniele Bigliardo nasceu em 1963. Com apenas dezassete anos, colabora com o grupo teatral Falso Movimento, criando cenários para produções teatrais e cinematográficas. Em 1994, funda a Scuola Italiana di Comix e a partir de 1996 começa a trabalhar em Dylan Dog para a Bonelli, série para a qual já desenhou várias histórias, e é atualmente um dos ilustradores de Comissário Ricciardi.
Autores: Sergio Brancato, Claudio Falco
Ilustração: Daniele Bigliardo, Luigi Siniscalchi
Género: Banda Desenhada, Paranormal, Policial
Editora: A Seita
Argumento: 9
Arte: 9
Legendagem: 9
Veredito final: 9
Atriz e professora. Da marginalidade à pureza gosto de sentir tudo. Alcanço o clímax na escrita. Sacio-me com a catarse no teatro. Adiciona-se uma consola, um lightsaber, eye makeup quanto baste e estou pronta a servir.*De fundo ouve-se Fix of Rock’n’Roll, de The Legendary Tigerman*