Cinema: Crítica – A Rapariga Apanhada na Teia de Aranha
A saga Millennium de Stieg Larsson volta ao cinema, desta vez a adaptar o quarto livro pela mão de David Lagercrantz. A Rapariga Apanhada na Teia de Aranha estreia esta quinta-feira, 8 de Novembro.
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Lisbeth Salander (Claire Foy) é neste filme o upgrade ao James Bond que o panorama socio-cultural deste novo milénio (piada fácil) pedia. Embora superficialmente fiel aos livros, esta Lisbeth continua a ser uma Robin dos Bosques, principalmente focada no salvamento de mulheres em situações de risco: entenda-se que Lisbeth rouba aos ricos para dar às recém-divorciadas que eles espancavam.
Sabemos também que Lisbeth é uma hacker prodigiosa e é assim que se torna uma peça no jogo de xadrez que se desenlaça com o filme.
Tanto Lisbeth como a sua irmã Camilla (Sylvia Hoeks) jogam este jogo pela metragem fora, com peças a trocarem de lado e planos a desfazer-se e recompor-se. Temos em ambas as Salander personagens carismáticas e inteligentes, o que cria no espectador um investimento cada vez maior.
Pelo filme fora conhecemos ainda mais algumas personagens, incluindo o terrívelmente mundano Mikael Blomkvist (Sverrir Gudnason). No passado uma mistura de jornalista/detetive, vemos aqui um homem deprimido cujo maior feito no filme foi babysitting, compreendemos também que é terrivelmente apaixonado pela Lisbeth e que é incapaz de respeitar qualquer outra pessoa. Não que Blomkvist seja particularmente rude ou mau para alguma outra personagem, mas no esquema geral mostra-se desinteressado em tudo o que não seja a Lisbeth. O último jogador de peso é o Agente Needham (Lakeith Stanfield) que acaba por se envolver na trama a fim de não perder o emprego.
Com ou sem óculos postos, não há uma única personagem tridimensional neste filme; uma pena porque a complexidade do argumento teria ganho com alguma profundidade. Acaba por ficar tudo superficial, muito como a adaptação da história em si.
Do livro para o filme mantêm-se uns nomes e trocam-se outros, mutilam-se umas personagens e aumentam-se outras, a história no entanto, mal se vê, preferindo as perseguições de carros e a boa da “pancadaria” ao mistério e qualidade geral do livro.
Tudo isto num esforço de apelar a um público que vai certamente desfrutar do filme, mas todo o sucesso ou falhanço nas bilheteiras fica assim nas mãos do marketing porque, honestamente, são poucos os fãs dedicados da série adaptada e não acredito que este filme lhes seja dirigido.
Um golpe estranho pela Sony sem dúvida, no desejo de voltar a lançar a saga Millennium no cinema começaram por “adaptar”(notem-se as aspas) o penúltimo livro da série (desde 2017).
Cria-se então um dilema grave: Sim o público está habituado aos reboots de super-heróis, mas não de séries de livros.
Mais a mais, nem há muito tempo (2011) tinhamos “Os Homens Que Odeiam as Mulheres”, com Rooney Mara e Daniel Craig nos papeis principais e David Fincher a Realizar. Bem recebido e premiado, foi estranha a ausência das sequelas.
Eis que 7 anos passam e é anunciado e lançado um novo filme, com a mesma equipa a produzir mas toda uma nova vaga de talento, com as suspeitas de termino de contrato desmentidas por Mara em entrevistas, calcula-se então um reboot leve.
A Sony adianta ainda o seu entusiasmo e desejo de prosseguir com mais adaptações da saga Millennium, mas sem a ligação direta ao anterior acabamos por “apanhar do ar” algumas sequências, o world-building desapareceu.
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É feito um enorme (des)serviço ao elenco, no momento em que as relações existem por existir, mas em nenhum momento são fundamentadas. Sem o world-building vemos atitudes e acções que sabem a pouco, uma pena.
De frisar ainda que este filme é lançado em concorrência direta com o novo Halloween e o Bohemian Rhapsody, algo que compreensívelmente não abona a seu favor.
Para aqueles que não buscam sustos nem biopics, mas sim uma história interessante com umas sequências de acção pelo meio, recomendo-lhes A Rapariga Apanhada na Teia de Aranha.
6.5/10
-Henrique V.Correia
Jovem dos 7 ofícios com uma paixão enorme por tudo o que lhe ocupe tempo.
Jedi aos fins-de-semana!