Cinema: MOTELx 2018 – Resumo do 6º Dia
O sexto e último dia do MOTELX – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa apresentou-nos uma mulher de limpeza com problemas graves, um gangue de miúdos que sabem que os tigres não têm medo, um mistério japonês em estreia mundial e uma mulher que de repente percebeu que existe algo de errado na sua vida.
The Cleaning Lady, Estados Unidos da América, 2018
Depois do grande Goddess of Love, o realizador Jon Knautz e a escritora-actriz Alexis Kendra reúnem-se para The Cleaning Lady, um filme sobre Shelly (Rachel Alig), uma rapariga com a cara desfigurada depois dum acidente, que cria uma amizade com Alice (Alexis Kendra). Porém, o que Alice não sabe, é que a história de Shelly esconde vários segredos.
Enquanto que as duas criam um laço, a simpatia de Alice leva-lhe pela melhor quando a sua nova melhor amiga começa a revelar as suas verdadeiras cores.
São muitas as vezes que este filme cai em clichés do género, num argumento imprevisível com personagens que pelos menos têm alguma profundidade. Tendo em conta muitas das previsibilidades do filme, The Cleaning Lady acaba por se fazer num filme de televisão sem grande conteúdo com um conceito que até tem interesse.
Nota Final: 4/10
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Tigers Are Not Afraid (Vuelven), México, 2017
Quando o realizador mexicano Guillermo Del Toro incluiu Tigers Are Not Afraid na sua lista de filmes favoritos de 2017, fãs de terror rapidamente se fizeram a caminho da obra de Issa López e o seu filme de conto de fadas moderno.
O filme é sobre um grupo de crianças sem pais que se veem numa fuga constante dos cartéis de drogas durante o dia e dos monstros à noite, tentando sobreviver dia após dia. Nunca sendo uma tarefa fácil, estes miúdos sabem bem cuidarem-se uns aos outros, mas o mundo é certamente injusto por lhes tirar os parentes.
Não é surpresa nenhuma que López revele uma capacidade incrível de contar uma história, ainda que o trabalho feito até agora (e depois) tenha sido fortemente focado na comédia.
Os momentos mais fantásticos nunca se sobrepõem à narrativa dramática, preferindo antes expandir nesse sentimento e avançar com a história a modos que ao virar de cada esquina, há algo novo a explorar.
No fim, há uma lição importante a aprender, sobretudo no que toca ao medo e à coragem, num dos melhores filmes do ano.
Nota Final: 9/10
Exorcism of Mary Lamb (Shinmashi), Japão, 2018
Em estreia mundial, o MOTELX decidiu brindar-nos com Exorcism of Mary Lamb, um thriller-noir japonês, realizado por Yasumasa Konno. Contando a história de Imamura, um detective com graves problemas em seguir as regras a quem é atribuído um caso dum homicídio bizarro, quando encontram um corpo dentro de um saco de plástico cheio do sangue da própria vítima.
A investigação leva Imamura até a um sanatório nas montanhas, onde estão internados seis pacientes com diferentes problemas entre si. Enquanto que os crimes continuam, a busca das pistas torna-se num jogo entre a Imamura, a polícia e os pacientes.
Tal como é habitual no cinema de género vindo do Japão, os casos nunca são tão simples quanto parecem, muito menos a sua resolução, sendo tudo um enorme puzzle que cabe não só ao investigador perceber, mas também a nós espectadores, compreender todos os lados e ver as provas.
Enquanto que vemos o enredo a desenrolar, não podemos senão notar uma ligeira inconsistência no ritmo do filme, sendo ou muito lento a desenvolver a sua ideia ou a ser demasiado rápido para chegar ao próximo ponto na história, causando algum desconforto a nível de percepção.
Fora isto, Exorcism of Mary Lamb é um filme que agarra na tradicional fórmula dos mistérios asiáticos e conta a sua versão da história, fazendo bom uso dos elementos dos quais aborda.
Nota Final: 7/10
Elizabeth Harvest, Estados Unidos da América, 2018
Existe uma certa nuance no cinema, um em que a cumplicidade entre realizadores e actores específicos se juntam com regularidade, ou então um em que por uma obra, o estatuto de “musa” é glorificado até mais não.
Para o escritor-realizador Sebastian Gutierrez, Elizabeth Harvest é a sua musa, à qual deita pétalas de rosas sobre o tapete para que neste caso a sua actriz, Abbey Lee, possa andar em cima.
A premissa do filme terá de ver vaga, com Elizabeth a ser uma jovem que entrou numa vida nova e luxuosa que cometeu o erro de entrar numa sala em que não devia. A partir daqui, algumas consequências desencadeiam uma reacção em cadeia, onde passará a ver a vida doutros modos.
Quando chega a altura de irmos descobrindo realmente o que se está a passar, já há muito que se perdeu fios os da meada nas personagens e na narrativa. Por outro lado, as cores vivas e fortes, como também os enquadramentos, cortesia do cinematógrafo Cale Finot, dão alegria aos nossos olhos.
Não é de todo fácil contar uma história cujo tema central explora a identidade, dum perspectiva cientifica, já que essa própria manipulação é muitas vezes olhada de lado por muitos. Mas aqui também não existe uma abordagem de incitar algum tipo de curiosidade ao espectador, preferindo segurar as suas cartas mais perto de si e deixar tudo desenrolar; o que nem sempre corre bem.
Em 2014, Ex Machina tornou-se no epitome do cinema sci-fi moderno sobre androides, deixando Elizabeth Harvest apenas como um aperitivo menos interessante e um filme facilmente esquecível.
Nota Final: 5/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.