Cinema: Miss – Crítica
Miss, a nova comédia de Ruben Alves está quase a desfilar pelos cinemas portugueses. Será que correrá bem ou será um desastre completo?
Ruben Alves não é um nome completamente desconhecido do público português, especialmente depois do lançamento em 2013 de “A Gaiola Dourada” o ter catapultado para a fama e sucesso por terras lusas. No entanto, em pleno 2020, apresenta-nos Miss, um filme completamente diferente do que tinha apresentado anteriormente, mas com uma história que poderia ser real, mesmo que bastante exagerada ao longo do filme.
A história que nos é contada é a de Alex, que desde muito novo tinha o sonho de ser eleito Miss França, sofrendo com o facto de ser um rapaz. Anos mais tarde e já com uma tragédia na bagagem, aos 24 anos surge essa oportunidade e, enquanto esconde a sua identidade, entra na competição. Com este ponto de partida, é uma comédia francesa pura a encaminhar-se. E se pensam que a personagem de Alex (interpretado por Alexandre Wetter) é a mais cativante ao longo do filme, estão completamente errados. Sim, a confusão entre géneros é um dos temas principais de todo o filme, mas, se tivermos que dizer quem são as verdadeiras estrelas temos mesmo que falar de algumas personagens que compõe a “família” de Alex. As personagens Yolande (Isabelle Nanty), a dona da casa onde todo este composto vive e Lola (Thibault de Montalembert), uma prostituta travesti que tenta ensinar o melhor que pode a Alex como ser uma mulher, são simplesmente deliciosas. Acabam por nos cativar de várias formas e feitios nos momentos em que aparecem em cena, sempre com alguma extravagância à mistura.
Por outro lado, o mundo das Miss é completamente diferente. Se de um lado temos algo bastante cómico, do outro temos algo feroz e impiedoso. Para conquistar a apreciação das suas colegas Miss, Alex viu-se num momento bastante complicado. É aqui que em parte enta a “transformação” para mulher e a tentativa de descobrir a forma como a personagem é. Executada de forma brilhante com pitadas de comédia e de drama aqui e ali, não via melhor forma de mostrar essa confusão de identidade e é aqui que a realização de Ruben Alves brilha. Breve nota para a personagem de Pascale Arbillot, que mostra que uma pessoa impiedosa, poderá ser um coração bom e frio ao mesmo tempo.
No entanto, é um filme cheio de clichês e exageros. É aqui onde peca, especialmente porque pega muito na mudança de personalidade, do choque da descoberta, de pessoas a irem para o hospital em alturas cruciais do filme e mostrar que uma personagem que esteve sempre contra toda a fachada, na realidade estava orgulhosa de Alex. Até mesmo cenas de assédio são mostradas diversas vezes e já estaríamos à espera que tal acontecesse. Mesmo com uma banda sonora fantástica, acaba falhando neste ponto.
Resta concluir que, durante a hora e meia que Miss dura é mostrado ao espectador vários momentos para rir, vários momentos para pensar e também momentos que vão cansar o espectador. É um filme interessante, mas, ao mesmo tempo e face ao sucesso de “A Gaiola Dourada” não vai atrair muitos dos espectadores e provavelmente poderá “morrer na praia” como mais um filme francês nas salas portuguesas.
Nota Final: 6/10
Miss será o filme de abertura da 21ª Festa do Cinema Francês. Chegará brevemente aos cinemas portugueses.
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.