Cinema: Mataram o Pianista – Crítica

Mataram o Pianista é um filme que aborda vários géneros sempre com uma temática central: a música.

Comecei a ver o filme sem grande ideia do que se tratava. Sabia que era animação, mas pouco mais. No entanto, nada me preparava para o que ia ver. Não era uma simples animação, era também um documentário fascinante. Tanto que vos escrevo este texto ao som de uma playlist que encontrei no Spotify relacionada com o pianista de que nos fala o filme, e que poderá ser uma boa companhia enquanto se lê este texto.

Nesta pelicula, Fernando Trueba e Javier Mariscal convidam-nos a conhecer Francisco Tenório Júnior (ou apenas Tenório Júnior), um dos maiores pianistas brasileiros da era da bossa nova que desapareceu prematuramente, por conta de uma situação de estar no local errado à hora errada.

Se há algo que impressiona no filme, foi a forma como foi montado. Toda a história é narrada através da lente de um escritor que reconstituiu a vida de Tenório e aproveita entrevistas daqueles que o conheceram para nos moldar a vida do pianista ainda mais (nestas entrevistas temos participações de grandes nomes da música brasileira, como por exemplo, Caetano Veloso). Esta abordagem oferece uma rica tapeçaria de perspectivas, mas também pode deixar os espectadores ansiosos por um olhar mais profundo sobre o próprio Tenório. Obtemos vislumbres do seu talento através de trechos de música e do impacto que causou nos outros, mas o próprio homem permanece um tanto esquivo.

No entanto, o grande trunfo do filme está no estilo de animação. O trabalho de Mariscal é repleto de cores e energia, e complementa perfeitamente os ritmos contagiantes da bossa nova que compõem a banda sonora do filme. Essa vibração é justaposta ao mistério em torno de Tenório, acabando por criar uma tensão cativante. Devo, no entanto, dizer ao leitor que caso goste bastante de música vai deliciar-se com a mesma. Confesso que em certos momentos sentia as lágrimas a chegarem-me aos olhos de tão belas as composições que me entravam pelos ouvidos.

Quero, no entanto, referir que, Mataram o Pianista é mais do que uma biografia. É uma carta de amor à bossa nova, uma era que aconteceu num momento em que a liberdade artística encontrava-se à beira da repressão política. Algo que o filme faz com maestria é conseguir transportar o espectador para o coração da cena musical do Rio, de forma a deixá-lo à vontade para se aprofundar neste fascinante gênero musical.

Resta concluir que, Mataram o Pianista é um filme visualmente deslumbrante, mas aquilo que vai chamar mais à atenção é a música e a história em si, que poderá levar a que fiquem com vontade de aprender mais sobre bossa nova e o enigmático Francisco Tenório.

Nota: 8/10