Cinema – Crítica: Venom (2018) SEM SPOILERS
O mais conhecido Anti-Herói da Marvel chega aos cinemas pelas mãos da Sony. Venom estreia a 4 de outubro.
Estreado como vilão em Maio de 88, no Amazing Spider-Man #300 de David Michelinie e Todd McFarlane, Venom foi um marco dos anos 90 e o seu estatuto foi aumentando e aumentando.
A galeria de inimigos do Aranhiço, embora composta, tem muito que se lhe diga. Dum lado temos os ilustres Fisk, Octavius e Osborn, mas do outro temos os palermas como Schultz, Octavius e Beck (a caminho do MCU?), no entanto Venom foi e continuará a ser o mais importante de todos.
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Um bom vilão tem de ser simpatético, daí a maioria desta galeria ser composta de reflexos: Fisk é uma versão de Ordem e Paz muito pessoal, um esforço por manter o seu ecossistema, Osborn procurou poder sem responsabilidade, Octavius apresenta-nos um lado mais sombrio da ciência que Peter sempre valorizou, e recentemente tornou-se efetivamente um Homem-Aranha muito mais cínico, mas nada se compara a Venom.
A sombra de Parker em muitos aspetos, Venom foi concebido como o arqui-inimigo perfeito e a sua evolução de vilão para herói tem sido em iguais partes tumultuosa e divertida.
Com isto em mente o anúncio do filme a cargo da Sony com intenções de lançar franquia, a pouca presença da personagem titular no material publicitário e a infeliz memória de Homem-Aranha 3 (de Sam Raimi) e dos dois filmes de Mark Webb, os fãs mostraram-se preocupados. Ganância, mesquinhice, todos os dedos foram apontados à Sony durante a produção, e com o levantar do embargo temos lido muita meia-verdade pelas redes sociais. Serve então esta crítica para tirar algumas dúvidas e, claro, dar a minha opinião.
Pegamos então na história, um molde simples mas com pano para mangas, existem alguns problemas de pacing mas nada demasiado grave.
O filme abre com a chegada dos Simbiontes à Terra, a bordo duma nave espacial em queda livre. Vi a primeira inconsistência logo no despenho, com a nave envolta em chamas e a destruir-se durante a reentrada não acredito que os Simbiontes tivessem sofrido menos, com isso assente é nos mostrada alguma tolerância ao fogo pelo filme fora.
Eis que o filme eventualmente nos apresenta Eddie Brock, um jornalista ambicioso, cheio de boas intenções, com uma fanbase em crescimento e um sentido de justiça bem definido. Eddie tem o hábito de usar a sua posição como repórter para fazer as perguntas difíceis e, à sua maneira, salvar o mundo.
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No entanto foi com uma destas perguntas difíceis que a sua vida desmoronou, mas nem tudo é mau, porque é nas piores alturas que reconhecemos os nossos verdadeiros amigos, por muito viscosos que sejam.
Não pretendendo entrar em muitos mais detalhes, a fim de preservar o filme aos interessados, é de frisar que nesta primeira meia hora já íamos com umas 7 ou 8 instâncias (que eu tenha apanhado) paralelas aos primórdios do Venom nas BDs, um deleite para os fãs dedicados.
Com este início de resumo acho que faz sentido abordarmos o elenco:
Eddie Brock é interpretado por Tom Hardy que faz um papel divertidíssimo, toda a sua interação com o Simbionte e em particular o processo de simbiose propriamente dita é divertido e sempre com um pouco de “assustador” à mistura. Ver o mundo a interagir com Eddie torna-se um verdadeiro gozo, no entanto continuamos a levar a sério esta pessoa que quer verdadeiramente ser um herói, mesmo que esteja sempre a ser contrariado pelos seus “poderes”.
É de frisar a camada de “Macabro” escondida atrás da faceta de normalidade que Eddie dá ao mundo e ao espetador após o clímax, estranhamente bem escondido, talvez até intencional, mas há lá algo sinistro (e não é um sexteto).
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Anne Weying é a ex-namorada de Eddie, protagonizada por Michelle Williams. A sua presença no filme é a meu ver muito maior que nos livros de onde originou e mostra-nos uma personagem bastante mais forte, em constante conflito com as circunstâncias à volta de Eddie e com um carinho ainda muito forte pelo anti-herói, não obstante ao seu muito recente passado difícil.
Temos ainda um par de cenas de ação com a participação de Anne que, embora mais subtil, não deixa de ser importante para o desenrolar da história. Uma personagem que acaba por subverter algumas expectativas e tem bastante mérito próprio. Entrei a pensar que seria pouco mais que um recorte de papelão, mas Anne acabou por ser das personagens que mais gostei.
Por fim temos Riz Ahmed no papel do malvado Carlton Drake. Muito como outros “empresários maléficos”, Drake é um vilão que não olha a meios para os seus fins, que começaram por ser relativamente nobres. A usar a sua “Life Foundation” para desenvolver a medicina e explorar os recursos da galáxia numa mensagem cada vez mais forte de sustentação da vida humana, sem destruir os ecossistemas terrestres.
No entanto as suas experiências são moralmente questionáveis e a sua ética mostra um claro desdém perante a vida alheia. O Simbionte Riot acaba por unir-se a ele, mas os seus motivos são mal explicados.
Drake é a meu ver é um vilão interessante mas mal-explorado. Torna-se num prazer em odiá-lo mas ele vai de “génio malvado e cinicamente lógico” a “idiota que Riot está a usar” assustadoramente rápido, pode-se dar isto à força de Riot como Simbionte, mas há algumas situações que contradizem essa falta de “voto na matéria” por parte de Drake. Enfim, teria sido giro vê-lo a ser uma simbiose mais forte e igualmente egocêntrica, mas acaba por não passar dum vilão para o Venom andar à bulha.
Há que frisar o problema da escala cinematográfica. Depois do Afro-Futurismo de Black Panther e das consequências astronómicas de Infinity War, é fácil para o público ficar mal-habituado, algo que não ajudou na receção do segundo Homem-Formiga e que pode bem vir a causar problemas à Marvel.
Há que ter em conta que, embora este meio dos Heróis viva de universos partilhados, nem todos os filmes a solo dos heróis vão juntá-los todos, Civil War não é tanto um terceiro Capitão América como é um Avengers 2.5, e Thor Ragnarok trouxe-nos um panteão de personagens boas num cenário e circunstância onde nunca os tínhamos visto.
Black Panther é considerado um dos melhores filmes de heróis por toda a história que o acompanha, a importância do que herdamos para a criação do nosso futuro. Entretanto Venom tem uma mensagem muito menos acentuada, é outra variante do Hero’s Journey mas foca-se mais nas consequências de pequenas decisões, bem como a dificuldade de fazer o bem e todo o mal que pode vir disso, é sobre não fazermos mais nem menos do que devemos e preservarmos as nossas morais.
Enfim, Venom não foi feito para ser uma história intemporal, mas é um filme com principio meio e fim, e com uma exploração de personagem que dá algo que pensar e entretém o público.
Os efeitos visuais estão bem conseguidos, Venom e Riot movem-se duma maneira assustadoramente divertida e bastante fiel ao material adaptado. Venom é fluido mas pesado, os seus tentáculos e o seu corpo emitem aquela percepção de viscosidade necessária, as instâncias em que vemos Brock a transformar-se em Venom e vice versa são soberbas. Infelizmente há algumas cenas menos bem conseguidas, não gosto de ver Venom a falar com Eddie, parece-me mais “água” que “gosma”. Isso e algumas instâncias são um tanto mais estranhas, nomeadamente quando Venom é sujeito a alguns testes sensivelmente a meio do filme.
Riot, visualmente falando, deixa um pouco a desejar. Acredito tratar-se da sua coloração, mas o simbionte prateado que vemos no final ou é liquido ou é sólido, a meu ver não conseguiram atingir o meio-termo certo.
Por fim, o pacing,o filme é lento a começar e passa demasiado tempo a focar-se na vida de Eddie e nas suas desventuras durante a simbiose inicial. No entanto com a primeira sequência de ação, que é comparável a muito blockbuster recente em termos de qualidade e fator “Epah!”, o filme resolve este problema, e embora tenha havido mais umas instâncias de “ok, está toda a gente a parar para falar sobre o que vimos”, todas elas compensam, umas mais que outras.
Adiciono ainda que uma das minhas cenas favoritas do filme vem logo após uma destas paragens no pacing, e honestamente chegou na melhor altura.
O clímax deixa um pouco a desejar, depois de algumas setpieces que o filme nos dá a batalha sabe a pouco. A meu ver, foi comparável à luta entre Tony Stark e Obadiah Stane que fechou o primeiro Iron Man, felizmente o resto do caminho é espetacular e vale a pena.
VENOM chega já esta semana, 4 de outubro, aos cinemas e vem recomendado para os fãs do personagem, aconselho apenas a mente aberta, isto afinal de contas não é um filme da Marvel.
7/10
Henrique Correia
Jovem dos 7 ofícios com uma paixão enorme por tudo o que lhe ocupe tempo.
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