Cinema: Crítica – The Flash
O Flash corre para os cinemas na sua primeira aventura cinemática. Mas será que corre no sentido correcto? É o que vamos ver já a seguir:
Barry Allen(Ezra Miller) é um cientista forense que perdeu tudo durante a sua infância, desde então dedica a sua vida à justiça, tanto através do seu emprego como do seu passa-tempo: ser super-herói!
É quando Barry descobre que consegue viajar no tempo que este decide voltar ao seu passado de forma a salvar os seus pais e, dessa forma, salvar-se a si mesmo.

O filme de Andy Muschietti é competente mas pouco mais. Os efeitos especiais estão por finalizar, sintoma da máquina de super-heróis hollywoodesca que nos tem alimentado mais e pior estes últimos anos. Muito do argumento é “falas para trailers” e “referências que quebram a imersão” a história é amadora, principalmente na conclusão, e o desenvolvimento dos personagens é nulo.
Tudo isto é pontuado com setpieces que vão do “excelente” ao “pateta” de forma halucinante, e os atores, coitados. Alguns fazem o que conseguem com o que têm, outros sabem perfeitamente o filme em que se inserem e nem isso.
Não consigo dar parabéns a ninguém sem ser à Warner, pela coragem de lançar isto neste estado, especialmente depois de tanta controvérsia, o melhor ator é sem dúvida o James Gunn quando tweetou que isto estava bom.

A metáfora ideal é a do menu infantil: A caixa é colorida e chamativa, o brinde é copia barata dum brinquedo a sério, e o hamburger não mata a fome. O brinde são os cameos, note-se, a coisa que ainda assim mais valor tinha pelo meio, o que só por si já sinaliza a qualidade do produto final.
Só não insinuo que vai ser êxito para ver em streaming, porque quando lá sair já o Twitter spoilou todas as surpresas interessantes, sem os dissabores do final do filme, e garanto-vos que mais vale viver nessa ignorância.
Quando conheci Barry Allen na “Liga da Justiça”(o cameo no BvS não conta) acreditei que fosse um barómetro para a progressão da personagem. Era um puto entusiasmado e ia crescer pelos filmes fora. Afinal, era um barómetro para a falta dessa mesma progressão, está igual ou pior, não aprendeu coisa alguma, e é chato que dói.

A leviedade de Barry ajudava a balançar o filme grimdark de Snyder(posteriormente escavacado por Whedon), mas aqui, a leviedade de dois Barrys tira qualquer um do sério.
Keaton desistiu de salvar o filme, não o censuro, continua a ser um ponto alto, mas neste filme não era difícil. Sasha Calle merecia uma estreia melhor, aqui, como atriz, faz pouco ou nada, justamente o que o argumento lhe pediu.
Até sempre “Snyderverse” merecias melhor(leia-se acabar no Man of Steel ou, alternativamente, não ser mismanaged).
Ao menos o Aquaman há de ser divertido, e o Blue Beetle prepara-se para ser qualquer coisa de especial.
A parte chata é que havia tudo para correr bem, menos o argumento. O design está todo lá, os atores já tinham assinado(Ezra, controvérsias à parte, já nos mostrou bom trabalho no passado, e claramente oferece-nos algo fiel ao argumento), as personagens são ícones… enfim

Termino com uma declaração menos feliz. Eu comecei nestas andanças de super-heróis com o Cavaleiro das Trevas, para mim as aventuras noturnas de Bruce Wayne foram minhas também pela minha vida fora, isso começou com uma VHS do clássico de 89 pelas mãos de Tim Burton.
Este filme deixa-me triste pela forma como ignora e manda para trás tudo o que veio antes, com uma conclusão atabalhoada e de muito mau gosto. Tal como visto no inicio do filme, Barry pega na porcaria que fez e esconde tudo, vira costas e ignora. Barry Allen que deu a vida pelo multiverso, Barry Allen que foi Lanterna Azul nos comics. O homem que incorporou, por vezes de forma literal, a esperança. Esse homem desiste? Esse homem, aqui, neste filme, põe a narrativa a andar impetuosamente e, no final, marimba-se na coisa, esconde as consequências atrás do sofá e volta a ser o palhacinho do costume?
Porque é isso que Barry é, caro leitor, um estereótipo. Barry é aqui a definição de “neurodivergente” dum executivo qualquer sem imaginação. São mil passos dados para trás no que toca à representação.
Como fã das personagens, dos universos, de cinema e de entretenimento em geral, eu sinto-me desapontado. Tinham tudo e tudo estragaram, esperemos que os projetos escritos por Gunn corram melhor que isto, mais valia terem mandado este projeto para o lixo em vez da coitada da Batgirl. Percebam a desilusão que é chegar a um filme que abre a mostrar-nos uma data de coisas boas, divertidas, interessantes, e depois: “Poof”, desaparece, tomem antes um terceiro ato horrível.
Não recomendo, muito menos aos fãs, há coisas melhores em exibição. Se tiver mesmo de ser haverá com certeza proveito, mas rende mesmo é pelas pipocas.
Classificação: 3/10
Jovem dos 7 ofícios com uma paixão enorme por tudo o que lhe ocupe tempo.
Jedi aos fins-de-semana!