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Cinema: Crítica – Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (SEM SPOILERS)

A lenda dos dez anéis é finalmente desvendada, o que significará isto para o futuro do Universo Marvel?

Mais um herói da Marvel atravessa as dimensões do papel para a tela, este novo integrante do panteão cinemático da “House of Ideas” é o famoso Artista Marcial Shang-Chi.

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis

 

Digo famoso mas confesso que por bastante tempo conheci o Vingador em questão como sendo o herói que ajudou Parker a desenvolver as suas próprias técnicas de combate nas vésperas da infestação de Manhattan durante o evento “Spider-Island”.
Entretanto com a análise pendente, tal qual espada de Dâmocles, decidi aproveitar o tempo desde o visionamento para ir à descoberta sobre a personagem nas BDs. Agora devidamente informado, e em cima da hora de entrega desta crítica, trago-vos a minha opinião sobre o filme tão livre de spoilers quanto possível.

“A Lenda dos dez Anéis” conta-nos não só a história de Shang-Chi mas também do legado que ele traz às costas, e essa palavra cabe tão bem aqui: “Legado”
Pois o nosso protagonista nasce primogénito do lendário guerreiro Xu Wenwu, um tenebroso senhor feudal que fundou os Dez Anéis, uma organização terrorista cuja origem remonta às primeiras batalhas de Wenwu durante a Idade Média.
O infamo Mandarim pretende então reunir-se com o seu filho e fortalecer o seu clã. Mas quais serão os seus verdadeiros motivos, irá Shang-Chi aceitar a sua ascendência ou reinventar-se nesta sua primeira aventura?

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis

 

E com tão poucos spoilers quanto possível, é isto. Um filme com aquele sabor dos filmes a solo da Marvel da Fase 2 para diante, e uns toques de coreografia e cenografia que lhe atribuem um travo muito característico e, arriscaria até dizer, fiel à identidade.
Não consigo fintar a comparação, muitos esperam de Shang-Chi o “Black Panther” do público asiático, mas o que é que isso significa?
Não vejo aqui a magnificiência de Wakanda, embora re-encontre um pouco da aura imponente do falecido Chadwick Boseman e do seu elenco. Não, em Shang-Chi vejo uma questão de identidade. O que define o lar, a diferença entre o local onde nascemos e o local onde crescemos, onde nos tornamos quem queremos ser.
Em Shang-Chi, Destin Daniel Cretton mostra-nos a crise de identidade de quem sai do seu mundo para entrar noutro, com claras alusões aos movimentos migratórios de chineses que procuram vidas melhores para as suas famílias. Fala-se da adoção de nomes ocidentais, traçam-se contrastes entre as tradições antigas e os costumes modernos.

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis Tudo isto num filme mais genuíno e honesto do que o nosso céticismo nos faria esperar. Claro é um “filme da Marvel” ou um “filme de super-heróis” com todas as conotações que os mais empinados narizes insistem em impingir a esses rótulos, mas como é que num mundo pós-Black Panther, pós-Guardiões da Galáxia, pós-Watchmen, Pós-The Dark Knight é que nós ainda deixamos que os limitem dessa forma?
Não há aqui lugar para visão em túnel, não se pode limitar o resumo ao monomito, e fazendo-o não se pode limitar a opinião ao resumo como quem diz “todas as outras histórias são iguais” ou “isto é tudo muito derivativo”. Existe uma extensa tapeçaria de temas e questões, interlaçadas com artes marciais, e imagens, e enquadramentos, e criaturas, e fantasia. “A Lenda dos Dez Anéis” é uma vasta janela para o Oriente do universo Marvel.
Não é uma visita a Seoul ou outro destino turísitco a meio do filme, não é uma homogeneização da cultura, não é “esta personagem é asiática, GRITEMOS ‘REPRESENTAÇÃO ÉTNICA!'”. É sim um filme, giro por sinal, sobre uma data de coisas, com uma data de personagens, uma data de soberbas sequências de(perdoem o meu latim) pancadaria, e muito coração.

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis

Mas afinal porque é que eu demorei tanto tempo nesta análise? É simples, caro leitor, demorei porque este Shang-Chi tem muito(e no entanto tão pouco) a ver com o Shang-Chi da BD.
Partilham o nome e o leque de habilidades, são ambos filhos de lendários e ancestrais líderes de poderosos grupos(com nomes, passados e objetivos interamente diferentes), ambos têm stresses com os respétivos pais, e ambos tem problemas com irmãos(se bem que o do filme só se tem de ralar com uma irmã, por agora pelo menos).
Depois há algum overlap meio pateta, nomeadamente os “Olhos do Dragão”, artefactos importantes que fazem coisas bem diferentes dependendo do meio que se visite. E coisas que não fazem sentido nenhum, nomeadamente a relação(na BD inexistente) entre Shang-Chi e os tais Dez Anéis.

Então surge a questão: Com tanta diferença, será este filme uma adaptação boa?
Sim, embora pouco fiel.

Paradoxal? Nem por isso.
O Facto é que as raizes e as bases da persongaem estão todas lá, a reinvenção e alinhamento com outros fatores presentes no MCU apenas faz do filho de Zheng Zu(Ou será Fu Manchu?) um tanto mais relevante e presente no MCU.
Assentam assim o personagem na mitologia já construida, em vez de o deixarem nas margens, tangencialmente relacionado, como na BD.
Não descredito com isto a personagem como existe no seu meio original, no entanto, apenas acho que ficou um tanto melhor integrada no universo ao ter todo este legado intrinsicamente ligado à história que o MCU nos tem vindo a contar durante os últimos 13 anos.

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis

E com isto deixo bem assente, gosto dos dois, mas não escondo o entusiasmo por voltar a ver Liu nas salas de cinema.

Nota Final: 8/10

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis estreia a 2 de Setembro nos cinemas portugueses

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