Cinema Crítica: “Sem Hora Marcada”
O cartaz de Sem Hora Marcada (Out of Death) destaca dois dos anteriores filmes dos produtores: O Irlandês, filme de Martin Scorsese nomeado a 10 Oscars, e O Sobrevivente, filme de acção com Mark Wahlberg no principal papel e nomeado em duas categorias técnicas nos Oscars de 2014.
Mencionar estes dois títulos tem como objectivo transmitir confiança ao potencial espectador. Os “produtores” mencionados no cartaz são Randall Emmett e George Furla, que apesar de terem produzido os filmes indicados e outros com sucesso e interesse, também têm produzido cinema de qualidade duvidosa.
Contudo, o espectador que lê os trabalhos anteriores dos produtores já reparou no protagonista com o crachá de polícia: nada mais nada menos que Bruce Willis! Yippee ki-yay, é o cowboy solitário de Die Hard!!!
Bruce Willis tem participado em muitos filmes nos últimos anos, contudo os seus últimos trabalhos são de origem muito duvidosa!
O IMDb reporta nove produções de 2021 com a participação de Bruce Willis. E aceita-se que o leitor não se recorde de nenhum título!
Pois bem, dos nove títulos, estreou em Portugal Meia-Noite em Switchgrass e agora estreia Sem Hora Marcada. Pelo meio existe ainda uma produção com Gerard Butler, intitulada de Hair of the Dog, cuja estreia poderá acontecer algum dia.
Sobre Sem Hora Marcada, Willis interpreta um polícia com 35 anos de carreira, deprimido pela morte da esposa e de visita à sua sobrinha.
No cartaz do filme destaque ainda para Jaime King, conhecida pelas participações nas adaptações cinematográficas de Frank Miller em Sin City: Cidade do Pecado ou The Spirit.
Agora, King interpreta uma fotojornalista que acaba de presenciar uma agente a assassinar um homem.
Se o espectador chegou até este momento do filme, já terá percebido que a fotografia desta produção terá tido algum problema com os filtros ou com a correcção de cor na edição, numa opção estética inconstante. Seja!
Contudo, esse é o menor dos problemas de um filme fraquíssimo, em que de nada vale ter 41 nomes (!!!) associados à produção!
Numa vila perdida nas montanhas, o futuro de um Sheriff corrupto, com pretensões de ser mayor, é colocado em risco quando Shannon faz uma caminhada de homenagem ao seu falecido pai. Ao testemunhar um homicídio, Shannon corre pela sua vida, mas é apanhada por dois agentes. Desesperada, grita por ajuda e é Jack, o antigo polícia interpretado por Bruce Willis, que se intromete e promete ajudá-la e levar à justiça o pretensioso Sheriff.
Ao longo de 95 minutos, cinco pessoas vagueiam pela natureza, ocasionalmente tentam matar ou fugir. O importante é fazer um garrote para estancar o sangue se a opção for sobreviver, ou soltar o mesmo se pretenderem matar. É útil ter uma arma para o caso de aparecer um urso na floresta; já o telemóvel pode ficar em casa pois o objectivo de andar na natureza é espairecer a cabeça das perdas recentes.
É um claro filme de Série B, daqueles que os estúdios produzem com orçamentos reduzidos e filmados em poucos dias,;que o dinheiro é bem escasso por estes lados. A qualidade cinematográfica também!
Segundo o realizador Mike Burns, o Covid implicou que Sem Hora Marcada fosse filmado em apenas nove dias.
O plano inicial indicava que Bruce Willis filmava todas as suas cenas em apenas dois dias. Contudo, as obrigações impostas pela pandemia implicaram que toda a participação de Willis ficasse resumida a um dia de filmagem.
E o espectador mais atento consegue imaginar que a cena final foi filmada no início do dia de filmagens, depois Bruce Willis trocou de roupa e até ao início da noite terá completado toda a sua presença neste filme.
Preocupante quando as cenas do principal nome do cartaz foram filmadas num só dia… Mas mais preocupante, são, as péssimas interpretações do elenco; são eles os dois agentes (interpretados por Lala Kent e Tyler Jon Olson) que perseguem Shannon, e o Sheriff (interpretado por Michael Sirow).
Mas se o leitor nunca ouviu falar destes nomes, saiba que, em dois anos Lala Kent participou em quatro filmes (!!!) com Bruce Willis: 10 Minutos, Impacto Mortífero, Projecto 725 e este Sem Hora Marcada.
Com tantos filmes bons que não chegam às salas de cinema, é questionável como este filme estreia nos nossos cinemas. E para complicar ainda mais, os espectadores têm de fazer teste covid para assistir à projecção de Sem Hora Marcada. E o filme… não vale o preço do bilhete!
Talvez no dia em que encontrar Sem Hora Marcada em exibição na televisão portuguesa, o espectador pense “-Que giro, um filme com o Bruce Willis”… e dois minutos depois já esteja a divertir-se muito mais com uma edição do Preço Certo!
Muito Mau.
Começou a caminhar nos alicerces de uma sala de cinema, cresceu entre cartazes de filmes e película. E o trabalho no meio audiovisual aconteceu naturalmente, estando presente desde a pré-produção até à exibição.