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Cinema: Crítica – Saint Maud (2019)

A religião no terror sempre foi um tópico controverso no cinema, sobretudo da forma que os devotos são retratados, ou as consequências pela sua devoção oferecerem uma ideia contrária de o que consideram justas pelas sua fé. Isto é feito há décadas, com clássicos como A Semente do Diabo (1968) ou O Exorcista (1973), a serem os mais emblemáticos. Após ter feito furor em diversos festivais no final do ano passado, eis que a estreia da argumentista e realizadora britânica Rose Glass nas longas-metragens, com Saint Maud, chega finalmente ao grande público.

Maud (Morfydd Clark) é uma enfermeira privada, que tem uma grande devoção a Deus, à qual ela dá crédito por mudar a sua vida para um caminho melhor. Ela conhece a sua mais recente paciente, Amanda (Jennifer Ehle), à qual Maud está convencida que tem uma missão de salvar a sua alma, por todos os meios necessários.

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Há um crescendo de eventos ao longo do filme, que desde cedo estabelecem quem Maud é e aquilo que ela representa, confrontada agora com alguém que necessita de alguma intervenção divina. O laço que Maud e Amanda criam, acaba por ser forte, com uma participação especial do grande Senhor do céu, até chegar a um ponto de ruptura.

Saint Maud é uma obra perturbadora, que deixa, assumidamente, calafrios até nos fãs mais assíduos do cinema de terror, não apenas pela abordagem obsessiva de Maud, como também a personificação da religião; esta que não é de todo exagerada, mas cuja mensagem é amplificada pelos visuais hipnotizastes, com uma atenção incrível ao detalhe.

As interpretações de Clark e Ehle, numa dinâmica que transcende para o espiritual, fazem com que estejamos num sofrimento constante de antecipação, à espera do próximo momento que nos irá chocar, fazer saltar da cadeira, ou ambos. Como se isso não bastasse, o visual é aliado a uma banda sonora de deixar os tímpanos a tremer, pelo medo que instaura.

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Rose Glass, um dos novos talentos britânicos, oferece-nos uma obra-prima que olha para as suas influências como inspirações para algo maior, mais ousado e que decididamente será falado durante muitos anos, dando um novo rumo ao género, ele próprio repleto de devotos a um nível quase religioso.

Assim, Saint Maud é a prova que novas interpretações do terror são mais que bem-vindas, tendo a originalidade de olhar para a religião com outros olhos e um ver o ser humano como vaso humano frágil para o pecado que ele realmente é. Garantidamente será um dos novos filmes de culto que assentam como uma luva lado-a-lado com outros novos auteurs do terror, como Ari Aster, Kevin Phillips ou Natalie Erika James, numa estreia marcante.

Nota Final: 10/10

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