Cinema: Crítica – O Próximo a Marcar Ganha
Não há dúvida que Taika Waititi se tornou numa das figuras mais rapidamente acarinhadas dentre os apreciadores de cinema.
O realizador
Thor: Ragnarok (2014) colocou-o no radar e Jojo Rabbit (2019) consolidou-o como uma das vozes a se acompanhar, com atenção, dali adiante. A chegada à nova década não foi simpática com o realizador neozelandês ao entregar Thor: Love and Thunder (2022), um dos mais divisivos do MCU, para lá de toda a saturação no ar em relação a esse subgénero.
Agora, com uma aposta muito mais pessoal através de Next Goals Wins (O Próximo a Marcar Ganha em Portugal e Quem Fizer Ganha, no Brasil), produzido pela Imaginarium e distribuído pela Searchlight Pictures, o cineasta regressa às origens da sua veia mais autoral que marcou o início da sua filmografia.
O Próximo a Marcar Ganha
Esta longa-metragem é baseada no documentário de mesmo nome, que acompanha a equipa de futebol da Samoa Americana, naquele que foi o seu regresso aos grandes campeonatos, após a derrota histórica de 2001, em que perderam por 31-0.
Waititi pega nesta base documentária e real para lhe adicionar algum do seu estilo ímpar, sempre com muito humor à mistura, sem nunca perder, claro, o viés factual dos eventos. Ao contrário do que se podia esperar neste tipo de narrativa, imaginando-se ser uma história de superação coletiva, com personagens-tipo a compor a equipa, aqui, e embora isto seja parcialmente o que acontece, o guião essencialmente constrói-se em torno de Thomas Rongen (Michael Fassbender), o treinador que é chamado para colocar a equipa em forma no mapa futebolístico.
A situação que o filme relata é um tanto irónica porque vendo de fora, pode parecer que o trabalho dos argumentistas foi um tanto preguiçoso, ao recorrer a tantos ingredientes da fórmula que expus em cima, que assombra este tipo de produções à várias décadas, mas a verdade é que de facto foi o que aconteceu, por isso, se se tivesse fugindo isto, ter-se-ia alterado uma parte simbólica e de relevo da nação aqui visada.
Portanto, as escolhas são até justificáveis, se observarmos sob esse prisma. Por outro lado, para quem vê e e para quem analisa torna-se difícil não revirar os olhos ao quão irónico, inúmeros instantes parecem retirados da imaginário ficcional, inclusive, Waititi tem uma ser certa obsessão aqui em homenagear Any Given Sunday (1999). Seja como for, embora simples, é uma longa-metragem cheia de alma e coração, talvez aquela produção da qual o realizador tem uma forte ligação, pelas proximidades culturais e históricas, o que faz sentido a escolha deste projeto.
Mas será bom?
Embora curto em duração, a comédia que o preenche falha mais do que acerta, beirando inúmeras vezes constrangimento alheio… De qualquer modo, há um público para isto. O quão descontraído e leviano é na sua abordagem pode chocar em alguns momentos mais pesados tematicamente, como questões ligadas à sexualidade, que efetivamente merecem o tratamento devido, entre outros.
Este choque de tons é gritante no climax e no último terço do filme, que lhe retira boa parte da construção, ainda que fraca, que havia empilhado até então.
O verdadeiro, e único, trunfo do filme recaí nas mãos de Fassbender, a sua interpretação vai além das exigências do guião, e fazem-no destacar tremendamente, pois sem a sua presença, o resultado final teria sido ainda mais abaixo do mediano.
As restantes atuações passam despercebidas, o que é de estranhar num elenco que contempla figuras como Elizabeth Moss e Will Arnett. A nível técnico não há destaques a apontar.
Em jeito de conclusão
O Próximo a Marcar Ganha é um filme que funciona se aceitarmos todos os tropes aqui presentes, que vão desde a clássica história de autossuperação coletiva ao underdog em ascensão. Não resulta inteiramente como comédia, nem inteiramente como biopic, é um assim-assim filme do Waititi, um que acredito que caíra no esquecimento, ao longo dos anos, quando se olhar em retroespectiva a sua filmografia.
Alguém que vê de tudo um pouco, do que se faz no mundo da Sétima Arte, um generalista por natureza. Mas que dispensa um musical ou comédia