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Cinema: Crítica – Não Abras (2023)

No panorama do cinema de terror norte-americano, é fácil cair nas fórmulas tradicionais do género sem acrescentar algo de novo, efectivamente recriando o estereótipo clássico com pequenas variações. É por isso que o mais recente filme de Bishal Dutta, o cineasta de Não Abras, agarra em muito da cultura indiana, e adapta-o numa visão de como seria uma obra de terror pelos olhos de filhos de pais imigrantes nos Estados Unidos, contribuindo com um conjunto de novas experiências capaz de cativar um novo público.

Sam (Megan Suri) é uma estudante do liceu com uma crise de identidade cultural, que vê a sua amizade com a sua melhor amiga cair, lançando involuntariamente o medo em forma de uma entidade demoníaca, que não irá parar por nada.

Agarrando no pano de fundo da experiência do liceu norte-americano, Dutta introduz inúmeros elementos da cultura indiana, proporcionando algo diferente para os espectadores que se foquem mais nas produções americanas. Acontece que muito do que está ligado aos mitos e figuras indianas têm um lugar muito especial no cinema daquele país, surgindo em todo um sub-género de folk, que aborda mais a fundo algumas das ideias de Não Abras.

O equilíbrio é um factor importante para manter-nos interessados no desenvolver da história, à medida esta se desenrola. Como seria esperado, não cobre propriamente território novo no que toca ao género, mas deixa espaço para que as suas novidades façam uma diferença impactante para se destacar dos demais.

Fora isso, Não Abras cumpre tudo dentro dos parâmetros esperados, vendo muitos dos seus aspectos mais interessantes, como o racismo internalizado e a experiência imigrante, a frequentemente serem usados meramente como contexto e menos com motivo narrativo; algo que o filme beneficiava se abordado noutros modos.

Por outro lado, o elenco vai fazendo alguns milagres, com Megan Suri num papel mais sério que a sua contra-parte da série da Netflix Never Have I Ever…, demonstrando aqui muito potencial para integrar projectos mais dramáticos. Da mesma forma, o visual do demónio Pishach, desenhado e construído para o filme, é algo que tem tanto de assustador como de memorável, recorrendo à mitologia original a que se baseia, de forma coerente.

Assim, Não Abras é um filme que se esforça para encontrar o seu lugar no meio de tantos filmes assustadores, cimentando de alguma forma o seu espaço com garra e postura. Pode não oferecer nada inteiramente novo, mas o que oferece irá com certeza agradar a fãs do género, que sem dúvida irão apreciar as suas qualidades notórias.

Nota Final: 7/10

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