Cinema: Crítica – My Animal
As noites de lua cheia estão sempre associadas com certos fenómenos, sobretudo sobrenaturais. Seja a forma como ela influencia a mente das pessoas mais sensíveis ao satélite natural, ou a revelação de lobisomens depois da meia noite, este aspecto místico que a lua traz consigo é definitivamente cinematográfico.
Jacqueline Castel estreia-se nas longas-metragens com My Animal, um filme onde a lua cheia é um elemento importante no conceito desta obra escrita por Jae Matthews, membros do popular grupo Boy Harsher, que em 2022 também criou a curta The Runner.
Seguimos Heather (Bobbi Salvör Menuez), uma jovem que vive numa terra rural no meio do nada, e de repente vê a sua vida a dar uma reviravolta quando conhece Jonny (Amandla Stenberg), uma patinadora de gelo atormentada. À medida que a sua relação se desenvolve, Heather sente uma vontade de revelar um dos seus segredos mais obscuros, mas que poderá ter consequências inabaláveis.
Estamos perante um filme que equilibra um conjunto de estilos visuais e musicais muito bem pensados e propositais na obra. Todos os enquadramentos, as cores, a banda sonora, servem na missão de nos deixar imersos na histórias destas duas mulheres e o mundo que vivem, onde sentimentos virão ao de cima.
É uma história sobre a naturalidade das crises existenciais, numa altura em que ainda estamos a lutar connosco mesmos, mas também perceber como lidar com o que o universo nos atira para cima. Nem sempre é fácil, mas este filme estende uma ponte para curar almas magoadas. Acima de tudo, é uma obra que não esconde o seu lado mais vulnerável, assumindo-a com muito orgulho, e desarma-nos de uma forma para que consigamos ser sinceros connosco mesmos, e a nossa luta interna.
A sensibilidade e experiência estabelecida previamente por Castel é um dos pontos mais fortes, com a cineasta a demonstrar-se mais que preparada para este desafio e deixa-nos verdadeiramente curiosos em saber o que fará a seguir. Se a parte técnica nos deixa seduzidos, o elenco convence-nos que estamos perante uma obra de muito amor, com Salvör Menuez e Stenberg a demonstrarem uma química inigualável, culminando num filme muito especial, e uma banda sonora igualmente especial para acompanhar todos os sentimentos envolvidos.
Assim, My Animal é com certeza uma das estreias mais cativantes deste ano, com um filme que sem dúvida merecerá o seu eventual estatuto de culto junto a certos grupos de seguidores, esperando ver mais da cineasta.
Nota Final: 8/10
Este filme foi visto durante o festival MOTELX – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa.
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.