Cinema: Crítica – Midsommar – O Ritual (2019)
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Quando Ari Aster estreou em Janeiro do ano passado a sua primeira longa-metragem no festival de Sundance, as primeiras reacções causadas por Hereditário pareciam ser exageradas, tal como tantos outros filmes de terror que vieram antes e ganharam o selo de causaram mau estar entre o público. Quando estreou meses mais tarde, confirmou-se que era dos casos raros , sendo um dos filmes mais assustadores da década, com o seu retrato de uma família em luto. Pouco mais de um ano depois do caos instalado, Aster regressa ao grande ecrã com Midsommar – O Ritual, prometendo continuar a tirania no cinema de terror moderno.
Dani (Florence Pugh) é uma rapariga que de repente perde a sua família num terrível homicídio-suicídio pelas mãos da irmã bipolar. Ainda em luto, ela está a passar por momentos difíceis com a sua relação amorosa com Christian (Jack Reynor), que lhes leva a uma viagem com os amigos até à Suécia, para visitarem Hårga, uma pequena comunidade de onde pertence Pelle (Vilhelm Blomgren). O grupo chega numa altura em que estão prestes a começar as celebrações do solstício de Verão, mas nada lhes preparou para o que vão viver.
Nesta viagem de descoberta de outra cultura, pouco a pouco vamos percebendo que estamos perante algo que irá causar algum tipo de choque, ao testemunharmos estas tradições folclore, que nós estando do lado de fora, é-nos completamente estranho o tipo de comportamento dos Hårga. A nossa experiência é assim partilhada ao mesmo tempo que as personagens. É uma viagem com uma carga pesada, onde algumas coisas acontecem fora do ecrã, pedindo um grande investimento e atenção da parte do espectador, mas que acaba por recompensar com uma das mais arrepiantes experiências do ano.
Visualmente, tudo é incrível ao olho, desde a fotografia, às cores, aos ínfimos detalhes que frequentemente nos perdemos à procura de algum tipo de pista para nos prepararmos para o que virá a seguir. Todo o design de produção foi visivelmente pensado ao mais pequeno detalhes, como os inúmeros desenhos e pinturas que decoram os vários cenários, que aliados à cinematografia, deixam-nos verdadeiramente mesmerizados.
Por outro lado, Pugh garante que a construção meticulosa da sua personagem é explorada ao extremo nas suas formas complexas, algo provado nas muitas cenas que parecem tiradas de vários pesadelos, criando uma forte pressão emocional, não nela, como também no espectador, que certamente irá estar boquiaberto e com as mãos na cabeça.
Ari Aster mantém em Midsommar – O Ritual a sua visão de fazer um filme brilhantemente trabalhado em todos os níveis, sem negligenciar nenhum aspecto, pois todos eles são importantes para a interpretação da obra, estando perante um autêntico trabalho de mestre; isto considerando que foi gravado em apenas dois meses. Hoje, são raros os talentos capazes de ir até onde muitos não são capazes, criando um filme que irá ser falado durante anos pela sua ousadia intransigente, neste caso em função de contar uma história sobre luto e relações amorosas.
Nota Final: 10/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.