Cinema: Nova Crítica – Logan
O ano é 2029 e os mutantes estão praticamente extintos. Logan (Hugh Jackman) passa os seus dias afogando as mágoas em álcool e vivendo em anonimato e isolamento num local em ruínas próximo da fronteira do México. Encarregado de cuidar de Charles Xavier (Patrick Stewart) com a ajuda de Caliban (Stephen Merchant), Logan trabalha como motorista de aluguer para conseguir comprar os medicamentos que mantém os poderes do poderoso telepata sob controlo.
Porém, esta rotina é completamente destroçada quando uma mulher misteriosa (Elizabeth Rodriguez), pede a sua ajuda para proteger Laura (Dafne Keen), uma jovem com poderes extraordinários. Perseguidos por inimigos poderosos, começa uma corrida contra o tempo para salvar a jovem mutante.
Desde o primeiro momento é possível perceber que este não é, definitivamente, um clássico filme de super heróis. Vemos um Wolverine alquebrado e desiludido muito diferente do poderoso mutante de antigamente, escondido do mundo, afogando-se em álcool, sozinho e amargurado. As questões da velhice, da solidão e da doença conferem à narrativa uma humanidade que raramente está presente em filmes deste género, onde os heróis são fortes e poderosos. Aqui os vemos em um estado pungente de fragilidade e vulnerabilidade.
É definitivamente um choque nos depararmos com esta dinâmica, um Professor X a sofrer de uma doença mental degenerativa, com terríveis consequências, e o próprio Wolverine, um pobre reflexo do que fora. É impossível não considerarmos a dialética humana da vida e da morte, já que presenciamos a decadência física e mental das personagens e nos defrontamos com a inevitável efemeridade da nossa existência.
Embora aborde assuntos de grande seriedade, o filme nos presenteia com cenas de acção impecavelmente filmadas e que nos levam aos tempos áureos dos X-Men. A violência, no entanto, apresenta o carácter mais pessoal e intimista de uma trágica epopeia grega, onde os destinos já estão traçados independentemente dos actos heroicos dos protagonistas.
A realização é brilhante. O roteiro magistralmente escrito e interpretado de forma exemplar pelos actores. As cenas de acção e os efeitos especiais, embora tenham um papel secundário na narrativa, não desapontam e conferem uma profundidade maior a determinados personagens e ao seu percurso.
Embora o pathos seja uma constante, Logan também é uma história de esperança e, por esta razão, é um filme magnífico. Tendo em consideração que tanto Hugh Jackman como Patrick Stewart estão a se despedir de seus personagens, o filme acaba por tomar a forma de uma “Canção do Cisne” mas, definitivamente, não há um adeus mais perfeito.
Classificação: 10/10.
Juliana Carvalho
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