Cinema – Crítica: Kingsman: Serviços Secretos (2015)
Quem diria que o produtor Matthew Vaughn teria uma carreira mais interessante do que o seu realizador, Guy Ritchie, que em 2002 realizou a sua última parceria com Vaughn – o remake de Swept Away, que quase levou também a carreira de Ritchie. No entanto, Vaughn sentou-se na sua própria cadeira e têm-nos dado filmes como Stardust, Kick-Ass (a sua primeira aventura pelo mundo de Mark Millar) e o revitalizador X-Men: First Class. [fbshare]
Chegou a vez de The Secret Service, a obra de Mark Millar e Dave Gibbons (ou pelo menos, o seu esqueleto) ser adaptada ao grande ecrã com o título de Kingsman – The Secret Service, uma paródia e homenagem aos velhos James Bond da era Connery/Moore, com ainda uma mistura da personagem italiana Diabolik.
Gary “Eggsy” Unwin (Taron Egerton) é um jovem problemático que vive com a sua família (e o tradicional padrasto que não é nada simpático) num bairro da working class no Sul de Londres. O seu pai verdadeiro? Um Kingsman que salvou a vida do agente Galahad, alter-ego de Harry Hart (Colin Firth) que recompensou este acto de coragem ao dar a um pequeno Eggsy uma medalha com um número misterioso (é dífcil não nos lembrarmos de relógio de Christopher Walken, certo?).
17 anos mais tarde, Eggsy vai entrar na Kingsman, no caminho de Richmond Valentine (Samuel L. Jackson) e do seu plano maléfico que envolve cartões SIM e internet grátis para todos.
A equipa Vaughn/Goldman molda a história deliciosamente num tom tongue in cheek e pega nos clássicos “Bondismos” para lhes dar o seu próprio toque como muitos outros filmes fizeram ao longo da história do cinema (o que nem sempre evita o feeling de “been there, done that“), com um belo punhado de gags inspirados e ainda uns salpicos de humor meta (o professor Mark Hamill dos comics é agora o professor James Arnold interpretado pelo próprio Mark Hamill).
Egerton como personagem principal tem carisma e química suficiente para andar (quase) lado-a-lado com Colin Firth, que entra aqui perfeitamente no seu primeiro filme de acção, e será provavelmente o vencedor do prémio para “Cena de Acção mais Memorável do Ano” ao som da épica “Free Bird” dos Lynyrd Skynyrd. E mais não digo.
E se o vilão de Jackson (uma mistura de Dr.No e Mike Tyson) e a sua Oddjob de saltos altos, Gazelle (Sophie Cookson) não forem razões suficientes para gostar do elenco secundário então talvez os agentes Chester King (interpretado por “quanto mais Michael Caine melhor”) e Merlin (Mark Strong) o sejam.
Contudo, a grande falha do filme encontra-se no departamento digital. A pergunta: “onde é que Vaughn & Co. gastaram o dinheiro?” começa-se a repetir ao longo do filme, com grande parte do CGI a não parecer nada característico de um filme com um orçamento de quase $82 milhões.
Mas para cada negativo há um positivo, e a violência e ritmo frenético que Matthew Vaughn consegue injectar nas suas cenas de acção é algo de contagioso e original, com rápidos cortes e uma espécie de shaky cam que não é shaky cam que dá resultado a diversas cenas que fariam um realizador como Sam Raimi orgulhoso.
A parceria Vaughn/Goldman/Millar dá cartas pela segunda vez e embora o resultado não seja tão imediato ou consistente como no primeiro Kick-Ass, o filme tem algumas sequências e cenas fantásticas para justificar uma ida ao cinema. Fâs de Millar e Vaughn, não se preocupem – o Brad Pitt não vos comeu a sanduíche (esta referência só resulta se virem o filme, portanto vejam o filme!).
Tiago Laranjo