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Cinema: Crítica – Kaiju nº 8: Missão de Reconhecimento

Kaiju nº 8: Missão de Reconhecimento propõe um resumo atrapalhado que poderá afastar potenciais novos fãs.

Kaiju nº 8: Missão de Reconhecimento

Não é tarefa fácil condensar o estrondoso rugido de uma épica série kaiju de doze episódios num único filme cinematográfico, mas Kaiju No. 8: Missão de Reconhecimento tenta precisamente isso. Sendo uma espécie de recapitulação da primeira temporada do anime (e dos primeiros capítulos do manga, da autoria de Naoya Matsumoto e editado em Portugal pela Devir), com um “episódio bónus” incluído, pode tornar-se difícil para aqueles que não conhecem a obra original manterem-se interessados na história. 

No centro da narrativa está Kafka Hibino, um trintão desmotivado com um sonho antigo de combater monstros que, no seu percurso — de limpador de monstros a anti-herói meio-kaiju — tem tanto de trágico como de enternecedor. A sua jornada equilibra-se entre o absurdo e a autenticidade e, embora a sua transformação no icónico “Kaiju No. 8” esteja bem animada e carregada de emoção, o filme não lhe dá a evolução nuanceada que merece.

O filme aposta fortemente na acção e na construção do mundo, com visuais de cortar a respiração, cortesia da Production I.G. Se estás aqui por lutas cinéticas, tripas de monstros espalhadas por todo o lado e manobras militares de alta tecnologia, Missão de Reconhecimento entrega em grande. Os kaiju são grotescamente belos — pesadelos lovecraftianos filtrados por uma lente de anime hiperestilizada. O CGI mistura-se perfeitamente com a animação 2D, e a coreografia das batalhas é de tirar o fôlego.

Kaiju nº 8: Missão de Reconhecimento

Mas, apesar de o espetáculo ser inegável, a narrativa vacila. Ao adaptar uma temporada inteira num só filme, grande parte da profundidade emocional e dos arcos de personagem da série são reduzidos ao essencial. A relação de Kafka com Mina Ashiro, a sua amiga de infância estoica e agora comandante da Força de Defesa, mal é abordada. O Vice-Capitão Hoshina, cuja dinâmica com Kafka prometia muito, é relegado para segundo plano — apenas parcialmente redimido pelo episódio “bónus” pós-créditos, O Dia de Folga de Hoshina. Este pequeno interlúdio cómico é encantador por si só, oferecendo a leveza e o carisma de personagem que estavam em falta, mas sente-se como um extra colado no final.

Personagens como Kikoru Shinomiya e Reno Ichikawa trazem energia e excentricidade ao grupo da Força de Defesa, mas têm pouco espaço para brilhar. A sua presença parece mais um item a assinalar numa lista do que uma necessidade narrativa.

Não quer isto dizer que Missão de Reconhecimento não tem coração. O arco emocional de Kafka tem uma ressonância inegável. A tensão entre as suas intenções heroicas e a sua identidade monstruosa podia ter sido explorada com mais profundidade psicológica e temática. O filme sugere essas ideias, mas não se demora nelas o suficiente para causar impacto. É como vislumbrar a grandeza através de uma lente rachada.

Kaiju nº 8: Missão de Reconhecimento

Curiosamente, o humor é um dos pontos fortes do filme. Não tem medo de quebrar a tensão com piadas bem colocadas e momentos lúdicos entre personagens. O humor equilibra bem as batalhas sangrentas, impedindo que o tom se torne demasiado sombrio. Esta destreza tonal ajuda Missão de Reconhecimento a manter-se divertido mesmo quando está narrativamente mais frágil.

Queria, no entanto, dizer que é um filme dedicado aos fãs. Aqueles que já tiveram contacto com a obra vão divertir-se, principalmente porque serve como uma boa recapitulação. No entanto, se esperam que seja uma porta de entrada, voltem atrás e vejam os 12 episódios disponíveis — sobretudo porque uma das melhores batalhas da temporada foi completamente cortada.

Kaiju nº 8: Missão de Reconhecimento

Resta concluir que Kaiju No. 8: Missão de Reconhecimento é como um álbum de grandes êxitos que salta os versos e vai directo ao refrão. É impactante, é deslumbrante, mas nem sempre toca fundo. E, ainda assim, é difícil não se deixar levar pelo seu brilho visual e pelo charme sincero do herói improvável.


Nota: 6/10

Kaiju No. 8: Missão de Reconhecimento está em exibição nos cinemas portugueses

António Moura

Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.

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