Cinema: Crítica – Horizon: Uma Saga Americana – Capítulo 1
O primeiro capítulo do projecto de paixão de Kevin Costner chega aos cinemas, mas será este o épico western ou apenas uma série de televisão no cinema?
Kevin Costner já é considerado um dos actores mais veteranos na actualidade, com uma filmografia bastante invejável, numa multitude de géneros. Desde O Guarda-Costas, Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões, e JFK, passando por Waterworld e Os Intocáveis, foi com os western que o mesmo parece ter uma enorme paixão; algo que pode ser traçado até 1990 e a estreia de Danças com Lobos, do qual realizou e protagonizou.
Mais tarde, em 1997, The Postman: O Messageiro permitiu expandir para um filme mais neo-western, numa altura em que a experimentação cinematográfica era melhor aceite. Mas foi em 2003, Open Range – A Céu Aberto, que o mundo percebeu que a sua zona de conforto é mesmo nos desertos áridos e a ser algum tipo de pistoleiro. É um papel que até hoje, através da série Yellowstone, permite que Costner deixe um legado dentro dos western, reforçada com o épico de quatro filmes de Horizon: Uma Saga Americana.
Este primeiro capítulo, que decorre entre 1861 e 1865, aborda uma América em plena Guerra Civil, através de vários pontos de vista, de todos os lados envolvidos na construção dos Estados Unidos como a conhecemos hoje; desde indígenas, aos soldados do exército, àqueles que buscam uma vida melhor, algures. Todos têm as suas motivações e, aos poucos, vamos percebendo onde se integram na grande história, com os muitos sub-plots que vão servindo de fundo para a grande história americana.
Há um pouco de tudo para todos aqui pelo meio: acção, drama, romance, alguns poucos risos, e tudo que temos direito num western equilibrado pelas suas múltiplas personagens, todas com as suas personalidades distintas e que participam activamente no desenvolvimento da narrativa, na sua própria forma, esperando que eventualmente os fios se cruzem para justificar as motivações.
Ainda que seja relativamente cedo opinar sobre a grande narrativa, podemos desde já celebrar a forma como tudo é nos apresentado, com afinco e sem grandes contenções, sobretudo a nível da violência. De igual forma, este primeiro capítulo permite que o espectador se envolva o suficiente a nível emocional para garantir que volte para os próximos capítulos.
A linha entre as grandes produções feitas para televisão – ou serviços de streaming – e o grande ecrã nunca foram tão inócuas de forma tão óbvia como este projecto. Ao fim de três horas do chamado épico, saímos da sala de cinema a questionar porque é que isto não foi parar a qualquer um dos serviços de streaming, que dividido em pelo menos dois episódios.
Ao mesmo tempo, questionamos se somos hipócritas ao queixar-nos que estamos a ver televisão num dos melhores contextos para consumir media. Para ajudar à confusão, a montagem no final do filme, que inclui durante uns bons dois minutos cenas dos próximos capítulos, deixa-nos a pensar no que realmente estamos a ver afinal, para no fim chegarmos à conclusão que estaremos todos juntos daqui a um mês para ver o segundo capítulo.
Assim, Horizon: Uma Saga Americana – Capítulo 1 é, de facto, o primeiro passo para um projecto de muita paixão de Kevin Costner, sólida o suficiente para entreter, não indo para além do que é esperado dentro do espectro do género. Considerando o tempo que Costner quis desenvolver a sua ideia, isto poderia ter corrido mal de muitas formas. Felizmente, tem qualidade suficiente para não ofender ninguém.
Nota Final: 6/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.