Cinema: Crítica – Hitman (2015)
“Senhoras e Senhores, meninos e meninas de todas as idades, não sejam envergonhados e não se acanhem! Entrem, entrem e vejam com os vossos próprios olhos algumas das aberrações mais fantásticas do mundo do cinema! Temos destruidores de franchises! Sequelas que ninguém pediu como Elektra! Filmes com membros e orgãos trocados como o mais recente Fantastic Four! Realizadores quase a explodirem! Comédias que ninguém viu! Um Deadpool sem boca e adaptações falhadas de videojogos como o nosso primeiro Hitman e Max Payne! Venham sentir na pele alguns dos mais tenebrosos horrores cinematográficos com a promessa de que nunca mais serão os mesmos! Nunca mais! NUNCA MAIS!” [fbshare]
Baseado na série de videojogos da IO Interactive, Hitman teve a sua primeira tentativa no grande ecrã em 2007 com Timothy Olyphant no papel do Agente 47. O resultado? Uma mistura PG-13 de thriller Euro-trash repleto de CGI, acção bombástica e material reciclado da série Dark Angel (literalmente!) – com a assinatura de Skip Woods (X-Men Origins: Wolverine e A Good Day to Die Hard), também conhecido como “Oh Não!”.
Basicamente, tudo o que Hitman não é.
Hollywood viu uma nova oportunidade de estabelecer o franchise e decidiu marcar Rupert Friend com o icónico código de barras.
A sua missão caso ele a decida aceitar (infelizmente não há grande opção de escolha aqui) é localizar a misteriosa Katia van Dees (Hannah Ware), que procura saber mais sobre o seu difuso passado. No seu trilho, está não só o nosso ISBN andante, mas John Smith (Zachary Quinto) e Le Clerq (Thomas Krestchmann) – líder da Syndicate International – nome gourmet para agência terrorista.
Poucos segundos depois da fanfare da Twentieth Century Fox invadir as colunas da sala e enquanto os créditos iniciais fazem o seu trabalho, somos bombardeados com a informação necessária para acompanharmos o filme. Sem dó, nem piedade.
Vemos os nomes do elenco principal, música de Marco Beltrami, história e co-argumento de Skip Woods, realização de Aleksander Bach.
WHOA, WHOA. História e co-argumento de Skip Woods? História. Argumento. Skip. Woods. OUTRA. VEZ.
Sim, eu sei que é um cliché dizer que “eu já vi este filme uma vez”, mas eu literalmente já vi este filme uma vez. Em 2007. E uma das últimas coisas que queria fazer era repetir a experiência.
Rupert Friend é um bom agente 47 e consegue ainda injectar alguma humanidade e expressão no seu papel (em especial numa cena de elevador com os seus olhares curiosos), mas está preso num filme tão genérico e aborrecido que nada do que fizer elevará o argumento a outro patamar.
O resto do elenco está basicamente a fazer isto de olhos fechados com Zachary Quinto basicamente sem material para trabalhar e sejamos honestos, quantas vezes não vimos já Thomas Krestchmann e Ciarán Hinds em papéis semelhantes e/ou em filmes semelhantes?
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Se o primeiro filme pediu emprestado a Dark Angel, cada metade deste reboot fica, respectivamente, com o esqueleto de The Terminator e T2.
Espero que alguém na Fox esteja a passar cheques debaixo da mesa a James Cameron, porque a este andar o próximo Hitman vai ter uma missão numa plataforma petrolífera e o agente 47 será azul. Com uma cauda.
Contra a sua vontade, o filme mostra por alguns segundos o agente 47 a usar as suas competências de fashion designer com alguns disfarçes característicos e ainda consegue meter à pressão a famosa imagem da banheira de Blood Money, mas é tudo em vão. Piscar de olhos não chegam para que isto funcione.
E não esperem muito pelo famoso elemento stealth dos jogos, porque mais uma vez ficou no sótão a apanhar pó com explosões, perseguições, shaky cam, sangue e helicópteros digitais a dominarem o espectáculo – o que faz do filme não só um horrível filme de acção, como uma outra oportunidade desperdiçada de transpôr o universo da IO para o grande ecrã com sucesso (mais Hitchcock/DePalma, menos Luc Besson), preferindo tratar todo o processo com uma mentalidade direct to video.
O resultado? Uma mistura PG-13 de thriller Euro-trash repleto de CGI, acção bombástica e material reciclado dos dois primeiros Terminators – com a assinatura de Skip Woods, também conhecido como “Oh Não!”.
Basicamente, tudo o que Hitman não é.
A minha reacção? Bah humbug!
O próximo alvo do agente 47? Moi.
PS: Tecnicamente o filme é “R” e não “PG-13”. Mas, por favor. Já vi mais sangue e profanidade naqueles livrinhos de banheira.
Tiago Laranjo
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