Cinema: Crítica – Farta de Mim Mesma (2022)
O cinema escandinavo tem, nos últimos tempos tem, em parte, direccionado os seus talentos para uma espécie de filme que todos os inícios de década vão lançando. Outrora, talentos como Michael Haneke e Lars Von Trier eram apenas dois do realizadores predilectos neste movimento, que chocavam audiências com as suas ideias aparentemente mais extremas, face ao cinema Americano e o restante cinema Europeu, mas que no fundo, tinham algum tipo de mensagem que com certeza deixava toda a gente a pensar. Mais recentemente, filmes como A Pior Pessoa do Mundo e Triângulo da Tristeza, não só têm sido bem recebidos pela crítica e o público, como dado oportunidade de haver uma nova vaga de cineastas; e Farta de Mim Mesma, o mais recente filme de Kristoffer Borgli, tem o prazer de se juntar a essa lista.
Seguimos a história de Signe (Kristine Kujath Thorp) e Thomas (Eirik Sæther), um casal narcisista e muito competitivo, que acabam por jogar um jogo mortal quando Thomas recebe a honra de ser um artista reconhecido. Nisto, Signe decide ir ao extremo para recuperar o seu estatuto e tentar ultrapassar o seu parceiro, na eterna busca de atenção e empatia forçada.
A subtiliza ficou em casa nesta obra, ao vermos estas duas pessoas horríveis a tentarem ser mais esperto que o outro, sem noção das consequências. É igualmente um caso de estudo em como dois narcisistas são capaz de levarem as coisas aos limites, só para irritar o outro.
É fantástico ver com Borgli, que também escreveu o argumento, aborda não só estas duas personagens, vítimas da pressão social dos tempos modernos, como também da própria cultura actual, onde a crítica à contracultura e à obsessão da imagem passam como protagonistas no meio desta história algo tresloucada. Olhando e apontando os dedos à forma que cultura ocidental define a normalidade e o que é aceitável, mesmo que isso não seja de uma forma positiva. Neste modo, Borgli não tem medo em ser politicamente incorrecto, sem filtros e com um objectivo compreensivo de ofender aqueles que se acham protegidos na sua bolha normativa, que nem sabem o que lhes espera do outro lado.
É igualmente importante reconhecer a actuação da dupla de Thorp e Sæther, na forma que ambos interagem e, sobretudo, como a primeira é capaz de encarnar a personagem de forma que tem tanto de cruel como auto-destrutiva, tudo para o nosso entretenimento.
Assim, Farta de Mim Mesma não é um filme para estômagos fracos, muito menos egos frágeis, fazendo dele, para já, um dos filmes que mais fácil e de forma mais divertida toma de assalto os nossos sentidos. O verdadeiro rir para não chorar.
Nota Final: 8/10
Farta de Mim Mesma foi visto no âmbito da cobertura da 20ª edição do IndieLisboa. O filme tem estreia marcada para 1 de Junho nas salas nacionais, distribuído pela Alambique.
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.