Cinema: Crítica – Esquadrão Suicida (2016)
HA! HA! HA!
Ha!
Ha.
Já estão aí?
Peço desculpa. Estou pronto. A sério.
O quê?
Sim, isto era eu a tentar a minha melhor gargalhada do Joker.
Desculpem, não ouvi…
Ok. Querem saber se– Ok, eu digo. Por ser o Central Comics e isto uma propriedade da DC, revelo já que não, não gostei do filme.
Não, não quero ir para esse sítio e a minha mãe não é isso! Mas podem cuspir-me para a cara, se quiserem…
A DC continua a construir o seu universo cinematográfico, que com esta sua terceira peça começa a parecer-se mais com uma partida de Jenga do que com um franchise a tentar seguir os passos da Marvel. Depois do prato frio que foi Man of Steel e da tarte na cara que foi Batman v Superman (sim, sei que alguns conseguiram-na comer mesmo assim), chega-nos Esquadrão Suicida – o mais recente filme de David Ayer, nome atrás do argumento de um dos mais subvalorizados filmes da década passada (Dark Blue) e de um dos mais electrizantes veículos da carreira de Arnold Schwarzenegger (Sabotage).
Ou, por outro nome, “a resposta da DC ao Guardians of the Galaxy“. Se isso foi decidido antes da pós-produção, é o verdadeiro mistério.
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Um grupo de más, más serpentes (não literalmente!) é recrutado pela oficial do Governo, Amanda Weller (Viola Davis) e supervisionado pelo experiente Rick Flag (Joel Kinnaman) para tratar de missões com uma vertente, por falta de uma palavra melhor, suicida.
Infelizmente estas personagens rapidamente morrem nas páginas do argumento de Ayer com as suas backstories a serem cuspidas para o espectador a um ritmo vertiginoso, o que equivale a: exposição desnecessária.
Mas o pior crime de todos é que o filme não faz absolutamente nada com elas, salvo Deadshot (Will Smith) e Harley Quinn (Margot Robbie).
Imaginem dois comboios. Um, em andamento, onde vamos conhecendo os seus passageiros à medida que este viaja por maravilhosas paisagens e túneis infinitos. O outro, está parado num velho apeadeiro onde os passageiros são contados um a um, muito lentamente. A viagem ainda nem começou.
Diz-se por esses caminhos abandonados que este segundo é o “método Esquadrão Suicida“.
Agora imaginem que neste mesmo comboio existem dois revisores. Um, supostamente, é o revisor principal. Aparece poucas vezes. Tem pouca personalidade. Vê um ou dois bilhetes ao acaso e está feito. O outro, mais popular, aparece ainda menos e está mais preocupado com o próximo comboio do que neste em que está.
E com estas idióticas metáforas ferroviárias quero dizer que a) este filme (tal como Batman v Superman) tem uma estrutura narrativa completamente distorcida e pouco efectiva e b) o vilão que pensavam que era o vilão está no filme com um tempo total de aproximadamente 10 min.
Mas por uma boa causa, certo? O vilão com que ficámos é melhor, certo?
Não. Aliás, aceito explicações futuras para perceber o que raio estava a acontecer, porquê e como é que acabámos em mais uma batalha genérica de mau CGI e cujo objectivo é acabar com o mundo. Yikes!
Mas não que o Joker de Jared Leto seja algo de especial. Aliás, arrisco-me a dizer que temos o pior Joker de sempre, numa personagem mais perto do Tony Montana que David Ayer nos apresentaria se o seu Scarface não tivesse sido cancelado.
Se o nosso relógio ficasse sem estes 10 minutos, o resultado na narrativa seria exactamente igual – um defeito ao qual nem a Marvel escapa (olá, Scott Lang e Peter Parker no Civil War!)
Deadshot e Harley Quinn repetem o motto “somos maus, é isto que fazemos”. E eu digo “és um filme, tens que me dar mais do que isso caso queiras contar uma história como deve ser”.
Posso estar completamente errado aqui, mas não me lembro de uma única set-up/pay off. Nem com um plot point, nem com uma personagem. Isto é o equivalente de o Deadshot dar dois tiros certeiros nos calcanhares do filme.
Em boa luz, a película de David Ayer revela-se como um monstro do Dr. Frankenstein, completo e cozido com várias tonalidades, toques e retalhos que nunca chegam a colar completamente.
Mas até um monstro tem coração e o deste está nas perfomances de Smith, Robbie e Jay Hernandez (que apesar de não receber muito material, brilha nas suas cenas) que conseguem elevar o material que lhes é dado e meter uma mudança neste veículo defeituoso.
Em último lugar, a música. Se no Guardians, a música era uma companhia perfeita e agradável, aqui é uma boombox a gritar “PERSONAGEM NOVA” num estranho batido de géneros que transborda por todos os lados, incluíndo Black Sabbath, Eminem e Creedence Clearwater Revival… uns a seguir aos outros. Uma estranha experiência.
Sim, e o Scott Eastwood entra como “Wally”, tal não é a dificuldade de o encontrar entre a multidão.
Esquadrão Suicida é uma autêntica confusão. Uma experiência frustrante com uma narrativa incoerente, efeitos especiais importados do Spawn, vilões descartáveis e um (quase) completo abandono de personagens.
Se o tio Spielberg estiver certo e esta fase de super-heróis for nada mais que um ciclo (como tudo em Hollywood), a fatiga do género será entregue exactamente por filmes como este Esquadrão Suicida.
Agora que penso nisso, o nome é mais que apropriado.
Deixem-me só limpar o cuspo com que acabei de levar.
Obrigado.