Cinema: Crítica – Cherry (2021)
O que se faz depois de fazer o filme com mais sucesso mundialmente? Com certeza que essa foi uma das questões de Anthony e Joe Russo, que após terem tomado as rédeas do Universo Cinematográfico da Marvel e feito biliões no box-office com Vingadores: Endgame, a dupla decidiu tomar um rumo semi-independente. Com eles levaram Tom Holland, deixando para trás o fato do Homem-Aranha e que se apresenta aqui num papel dramático em Cherry, um filme baseado na vida do soldado veterano Nicholas Walker, numa estreia da Apple TV+.
Cherry (Holland) é um jovem sem um propósito, que depois de se apaixonar por Emily (Ciara Bravo), e esta ter-lhe quebrado o coração, o mesmo decide enlistar no exército. Após ter vivido os horrores da guerra como um soldado-médico, Cherry regressa a casa com uma perturbação de stress pós-traumático, que lhe leva pelo caminho obscuro das drogas; tendo que recorrer ao roubo de bancos para alimentar o vício perigoso.
Esta é uma oportunidade de ver os irmãos Russo noutro registo, do qual levaram Tom Holland atrás, milhas longe do espectáculo dos filmes de banda desenhada; onde efeitos especiais são substituídos por uma enorme carga dramática, ao acompanharmos a ascensão e a queda da vida de um homem a sofrer as consequências das cartas que o mundo lhe deu, numa narrativa estruturada mais ou menos como um coming-of-age ao estilo de Forrest Gump, mas sem todo o desenvolvimento empático que seria de esperar.
Enquanto que visualmente existem momentos interessantes, sobretudo em cenas onde a intensidade da circunstância conta mais que tudo o resto em seu redor, é Tom Holland que carrega sobre os ombros a responsabilidade de fazer acontecer e deixar uma boa impressão, algo que ele faz com um sucesso muito variável num filme demasiado comprido para o seu próprio bem.
Cherry é uma viagem peculiar, uma repleta de tragédia e tristeza que não vai propriamente para algum lado, sem um motivo claro das suas intenções e da mensagem que quer passar. Apesar de tocar em diversos assuntos mais sérios, o filme nunca os explora inteiramente a fundo, rapidamente pondo de lado qualquer tipo de tentativa em vermos as coisas noutra perspectiva.
Não se pode dizer que Cherry seja terrível, apenas não sabe bem onde está a sua alma e onde se situar no panorama actual do cinema, arriscando ser levado por uma irrelevância pouco merecida, mas talvez necessária para haver aqui algum tipo lição.
Nota Final: 5/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.