Cinema: Crítica – Butt Boy (2019)
Se existe um género que permite experimentar conceitos aparentemente absurdos sem grandes consequência, é certamente o terror. Pelo menos é a ideia de Tyler Cornack, que escreveu, realizou e protagonizou Butt Boy.
Chip Gutchell (Cornack) é um homem com uma vida mundana, até ao dia que faz o seu exame da próstata e descobre todo um mundo novo de prazer. O pior de tudo, Chip acaba por meter literalmente tudo pelo cu acima, desde objectos, a seres humanos; este último que lhe causa alguns problemas com a lei. Anos mais tarde, este conhece o detective Russel B. Fox (Tyler Rice) numa reunião de alcoólicos anónimos e torna-se seu padrinho, quando os seus caminhos cruzam novamente num caso de uma criança desaparecida.
É impossível não ficar, no mínimo, intrigado com a ideia geral de Butt Boy, mas é admirável a forma com o filme não se mostra envergonhado pela sua abordagem, enquanto que o faz sem escárnio, levando a sério algo que muitos achariam pouco usual. Muito disto vem da dupla de Cornack e Rice, que fazem dos seus diálogos intensos verdadeiros momentos de desenvolvimento, onde vemos a fundo as cartas que a vida lhes deu.
É igualmente divertido todo o sentimento de filme de série-B dos anos ’80 que este oferece, quase como se tivéssemos a ver um VHS de algo super desconhecido, o que cria quase um status de culto só por si. No entanto, dois terços da obra são dedicadas a um thriller relativamente desequilibrado, onde a cada momento esperamos que o ridículo tome conta da narrativa, algo que nunca inteiramente chega a fazer; e um último terço que faz jus do título do filme.
Há algo de profundo em Butt Boy, que vem de um lugar de uma criatividade genuína em contextualizar algo conhecido pela sua saturação de clichés, e colocar uma situação tão fora do que se poderia imaginar, conseguindo escrever e realizar uma película com boas intenções e fazê-lo com muito sucesso. São muitos poucos os auteurs capazes de agarrar e fugir com uma ideia tão absurda e torná-la em algo palpável e é exactamente isso que Cornack fez.
Assim, Butt Boy é uma das surpresas mais interessantes do ano, capaz de convencer até o espectador mais cético, indo muito mais para além da sua sinopse, que se lê de forma ridícula; oferecendo uma visão séria o suficiente para escapar à paródia e ser algo doutro mundo. Mesmo que esse seja no cu.
Nota Final: 8/10
- Butt Boy passou no MOTELX – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, na Terça-Feira, 8 de Setembro às 00h00 (Cinema São Jorge – Sala Manoel de Oliveira) e novamente na Segunda-Feira, 14 de Setembro às 23h45 (Cinema São Jorge – Sala 3).
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.