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Cinema: Crítica – Birds of Prey (e a Fantabulástica Emancipação De Uma Harley Quinn)

Num panorama preenchido de filmes de super-heróis chega aos cinemas a aventura da irreverente e divertida Harley Quinn em “Birds of Prey (e a Fantabulástica Emancipação De Uma Harley Quinn)”. E nós já fomos ver!

Numa relação a longo prazo existe algo de mágico, a camaradagem e o conforto. Como por magia tudo desaparece no momento em que caímos de rabo no cimento, e nos apercebemos que fomos postos fora de casa. Harley não era novata no mundo do amor, mas nunca pensou que o Joker –  por quem tinha feito tanto e a quem tinha dedicado tudo – a abandonasse tão prontamente.
Infelizmente Harley viveu sem preocupações, protegida pelo estatuto do cônjugue durante tanto tempo, que a determinado momento é suicídio anunciar que está solteira.
E eis que todos os bruta-montes de Gotham, com algo contra ela, preparam-se para a matança. O prémio que Black Mask lhe põe na cabeça também é um bónus agradável.
Na sua aventura, Harley cruza-se com outros personagens. Até que, frente-a-frente com Roman Sionis, cria a aliança com as heroínas que se viria a intitular Birds of Prey.

Sem  spoilers, o filme resume-se a uma aventura interessante, com personagens divertidas, um setup curioso e pouca confusão.
Não existem objetos milagrosos, Deus Ex Machina portáteis ou raios laser gigantes a atravessar a camada do ozono no meio de uma metrópole suspeitosamente inabitada. Existem personagens divertidos numa aventura engraçada. Enfim, um filme simples.

Em salas ocupadas por blockbusters e ubermensch trajados a lycra e/ou armaduras nano-tecnológicas, onde magias ou engenharia extra-terrestre ajudam a salvar ou a destruir o planeta, ou a galáxia, e tudo mais que possa existir. Existem filmes como Birds of Prey ou Deadpool  que apontam o dedo à parvoíce e entretêm o espectador, e ainda gozam com o nosso investimento nos universos expansivos de mutantes, super-soldados, ciborgues e meta-humanos.

Não quero com isto comparar as Aves ao infamo Wade Wilson. A troça que ele faz e proporciona ao espectador é bem diferente. A Doutora Quinzel também recorre a narrações e a alguns momentos na proverbial quarta parede, mas nunca atinge o nível oferecido pelo Mercenário Tagarela. Afinal de contas, o filme é principalmente sobre como Harley lida com o seu “breakup” e toda a torrente de infortúnios que a persegue, assim que perde o estatuto e a proteção. As graçolas são secundárias.

Existe uma certa nuance na forma como o filme aborda o heroísmo dos personagens, talvez por ser uma história mais “terrestre”. Não acontecem invasões, os heróis e os vilões são “super”, mas não muito. E, o receio que nasce da humanidade deles, a tensão em vê-los em perigo, dá muito mais cor ao projeto. Por outro lado também se pode argumentar que o festim visual perde-se.  Ainda assim, temos bastantes sequências para o deleite dos clientes menos investidos no argumento.

Há que apontar, no entanto, os defeitos.
No inicio da narrativa, sob o pretexto da falta de jeito para contar histórias da nossa protagonista, há um esforço por replicar a um menor nível a estrutura temporalmente desfazada de Pulp Fiction. Enquanto, que, no clássico de Tarantino temos uma estruturação inovadora (para a altura) e pertinente no contexto da história, aqui assistimos a um esforço mais trapalhão, com cenas repetidas de perspetivas diferentes espaçadas por 15, 20 e 30 minutos de outra aventura. Sim, aponta-se o dedo à insanidade de Quinn, mas não é divertido, é apenas chato.

Contudo isto toma segundo plano à fotografia medíocre. Muito trabalho rotineiro, sem dote artístico, aparentando ser feito por encomenda. Não seria necessário um nome sonante na ficha técnica, apenas algum cuidado com o trabalho. O resultado acaba por ficar distante do seu potencial.

Há que destacar que tanto o guarda roupa como a cenografia estão muito inconsistentes. Todos os fatos da Harley são bons, todos os fatos da Caçadora sabem a pouco; o cenário no clube de Sionis é lindo, o cenário na feira de diversões – em concreto o ultimo andar da atração – é  e monótono. Embora essa cena seja complementada por uma sequência divertidíssima num andar mais colorido da atração, o espectador percebe que é um estúdio pequeno e sub-decorado. A iluminação é básica e, embora haja boas ideias em prática, a falta de espaço ou a separação do mesmo desvalorizam bastante o filme.

Contudo temos desempenhos maioritariamente bem conseguidos, resultando em  2 horas de entretenimento e uma mensagem muito forte.

Claro que não se pode abordar a Emancipação de Harley Quinn sem dar o devido protagonismo ao elenco feminino. Mas, honestamente, nesta história em concreto, existe subtileza.
Não digo com isto que o filme esconda o seu elenco ou engane o público. Mas a história e as personalidades das personagens acabam por ser mais desenvolvidas que aquilo que possam “ter nas calças”. Nesse aspeto Birds of Prey serve como exemplo positivo na evolução da protagonista feminina na narrativa, e espero que mais argumentistas possam ter em conta.

Uma boa aposta para uma tarde bem passada. Não oferece muito ao palato visual, mas o que traz tem qualidade. A história, embora pior contada em certos pontos, apresenta-nos personagens e situações interessantes e divertidas.

7/10

Henrique V.Correia

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