Cinema: Crítica – A Lenda do Dragão (2016)
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Pensem no plateau de filmes que John Carpenter tem.
Nem vale a pena enumerar, pensem simplesmente no período dourado de 1975-1988. Filme após filme, um marco de culto. Uma filmografia quase perfeita. [fbshare]
Claro que num espaço de dois anos, a contar a partir de 2005, Hollywood veio bater à porta e como prenda deu ao mundo três remakes da obra de Carpenter com um oscilante nível de qualidade entre eles. Um grande nível.
Não sei o nível entre o Pete’s Dragon de 1977 e este remake do realizador David Lowery, mas sei que um era uma tentativa da Disney recuperar os seus dias gloriosos nos musicais com um dinossauro animado pelo grande Don Bluth e o outro é uma aventura dramática e melancólica que aborda os temas da amizade, perda e família. Sim, e tem um dragão fabuloso por parte da Weta.
Pete (Oakes Fegley) sofre um terrível acidente, onde perde os pais. À deriva pelo bosque, conhece uma misteriosa criatura que se transformará no seu melhor amigo e mais importante, na sua única família.
A Lenda do Dragão é familiar, sim. É Homem vs. Desconhecido. É Frankenstein. É King Kong. É Mighty Joe Young. É E.T. É The Good Dinosaur e raios, é até Mac & Me. E como a maior parte dos exemplos nesta lista, é uma história bem contada, com um coração gigante dentro do seu corpo. Bom batimento cardíaco, também.
E é talvez o remake mais sincero e honesto desta colheita recente da Disney – oriundo de uma propriedade nostálgica, mas não universalmente familiar e amada como uma Cinderella ou um Jungle Book.
Com essa vantagem, David Lowery e o argumentista Toby Halbrooks jogam a sua carta remake em pleno, re-imaginando assim o tom e a estética de um musical dos anos 70, com um admirável espírito que se mostra em cada frame, começando exactamente pelo elenco.
Bryce Dallas Howard, Oakes Fegley e Robert Redford são fantásticos nos seus papéis, conseguindo uma extraordinária e sentida química que revitaliza a história do papel para o grande ecrã, acompanhados ainda de Wes Bentley, Karl Urban e Isiah Whitlock Jr. (para quem conhece o seu dote, não, ele não o utiliza aqui).
Se querem escapar a mais uma cidade a ser destruída numa sala ao lado, A Lenda do Dragão oferece-vos o Noroeste Pacífico dos Estados Unidos como pano de fundo, dando assim uma brisa de ar fresco a uma escala relativamente pequena. Garanto-vos que faz parte de uma raça cada vez mais rara.
John Kassir (voz do vosso velho amigo Cryptkeeper) dá a voz ao dragão Elliot, numa fantástica criatura dos estúdios Weta, que nos maravilha a cada piscar de olhos. Incrível o que um monte de pixels nos pode fazer sentir.
A Lenda do Dragão é exactamente aquilo que deve ser. E ainda mais um pouco. É uma deliciosa (e fantástica) fatia de tarte americana. É um remake no verdadeiro sentido da palavra e um dos melhores dos últimos anos. Uma excelente aposta da Disney e uma de igual grau se o escolherem num cinema mais próximo.
Mas ainda é John Carpenter, tradicionalmente cínico, que tem a melhor resposta que um artista pode dar a um remake: “Desde que me paguem, tudo OK comigo. Mas se não me pagarem, que se f****!”
Palavras sábias, sr. Carpenter. Palavras sábias.
PS: Mal posso esperar pelo tão aguardado remake do Song of the South.