Cinema: Crítica – A Gaivota (2018)
A adaptação de uma obra literária ou de uma peça de teatro para o grande ecrã não é tarefa fácil. É necessário transmitir a essência da obra, tendo o cuidado de não cortar aquilo que seja visto como essencial para o enredo.
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Neste contexto, chega-nos o filme A Gaivota, filme adaptado da peça de teatro do dramaturgo russo Anton Chekhov e realizado por Michael Mayer. A história gira em torno de uma família artística do século XX, em que nos papéis principais se encontram o filho Konstantin (Billy Howle), um escritor pouco valorizado pela sociedade e pela sua família, e a sua mãe Arkádina (Annette Bening), uma actriz de renome que está de visita à sua família que vive no campo.
No seio desta família existem rancores, desamores, ciúmes e falsidades. Nenhuma das personagens é feliz e todas ambicionam algo que nunca conseguem alcançar, resultando numa espiral de discussões que irão colocar em risco o bem-estar da própria família.
Tem de se tirar o chapéu ao cast presente em A Gaivota, a todo o talento presente neste filme. Para além dos actores já mencionados, encontramos ainda a jovem Saiorse Ronan, a estrela da série The Handmaiden´s Tale Elizabeth Moss e ainda Corey Stoll, que este que vos escreve reconheceu por ter sido o vilão do primeiro “Homem-Formiga”. Todos estes actores dão o melhor de si nestes papéis, criando personagens complexas e com mais profundidade do que aquilo que aparentam.
Porém, o seu forte cast e o excelente desempenho de todos os actores torna-se tanto o ponto forte do filme como a sua maior fraqueza. Todos se destacam incomensuravelmente, tornando-se difícil para o argumento balancear todas as personagens. O mesmo peca por não fornecer nenhuma personagem principal através da qual poderemos seguir e desenvolver a história. Pretende contar a história do descambar de uma família em pouco mais de 90 minutos, sem aprofundar nenhuma personagem em especial e sem impactar o espectador como seria suposto.
Em termos de tom, A Gaivota sofre por ser um filme demasiado sóbrio e, de certa forma, negro. Tal como na própria peça de teatro, todo o enredo do filme demonstra a infelicidade das pessoas, o desejo inalcançável da condição humana. Nesse sentido, não existe réstia de esperança para as personagens, deixando o espectador a rebolar entre momentos de choro, discussão e ciúme, tornando-se um filme difícil de se tirar algum proveito enquanto se vê.
A Gaivota é um filme realizado de forma competente, mas com um argumento que conta a história a meio gás. Com um pé entre a adaptação fiel da peça de teatro e o outro em executar a mesma em formato cinematográfico, o filme não chega a concretizar concretamente nenhuma delas, deixando-nos apenas com boas performances para preencher o currículo dos seus protagonistas.
- A Gaivota estreia dia 26 de julho de 2018 nos cinemas
2,8 / 5
João Borrega