Carta aberta à Ministra da Cultura pelo cancelamento das bolsas de BD
Saiu há dias o novo programa anual de bolsas de criação literária e foi anunciado que as modalidades de banda desenhada e infantojuvenil foram excluídas, ficando sujeitas a futuros apoios a definir.
Meio universo dos seguidores, autores, editores e leitores de banda desenhada em Portugal ficaram em choque com esta notícia, achando-a injusta para com este meio que todos consideram arte.
Nesse sentido, irá ser enviada na próxima Segunda-feira uma carta aberta à Sra. Ministra da Cultura, que esperamos ver igualmente publicada em alguns órgãos de comunicação social nesse momento.
Se concordarem com o seu teor, está a ser pedido que enviem, em mensagem simples, o vosso nome e título (“autor”, “professor”, “editor”, “leitor”, “estudante”, etc.), para ir anexada à carta. O prazo é Domingo, dia 16, às 24h00. Poderão fazê-lo através do formulário no final da carta aqui apresentada:
CARTA ABERTA À MINISTRA DA CULTURA
Exma. Sra. Ministra da Cultura, Prof.ª Doutora Dalila Rodrigues,
Enquanto autores, investigadores, editores, docentes e discentes, e leitores de banda desenhada,
dirigimo-nos a Vossa Excelência para manifestar a nossa preocupação e discordância face à medida
recentemente anunciada de remover a categoria de banda desenhada do novo programa anual de bolsas de criação literária, atribuídas através da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, ficando a mesma sujeita “a futuros apoios a definir”.Recordamos, antes de mais, que o papel dos vários programas de apoio da DGLAB à banda
desenhada tem sido meritório, levando à criação de vários livros de grande excelência pelos autores
recipientes das suas bolsas, assim como à publicação de autores portugueses em várias traduções
internacionais, sempre de excelente recepção crítica.Reconhecendo o potencial de novas configurações de apoios, acreditamos que a supressão deste apoio à criação não dignifica a banda desenhada. Numa busca contra a precariedade nesta área criativa, o programa de apoios deveria ser antes reforçado nos moldes de outros programas mais abrangentes, como acontece em relação a áreas como o cinema, animação e artes visuais, com apoios à criação, produção, edição, e circulação, em múltiplas categorias.
Segundo comunicação da Sra. Ministra, esta área de produção artística passará a ser contemplada
por residências artísticas nas bibliotecas. Esta substituição parece-nos uma decisão equívoca por mais de uma razão. Não obstante o potencial valor que um programa descentralizado de residências poderá ter na produção e promoção de uma cultura de banda desenhada por todo o país, se devidamente financiado, um regime de residência não é equivalente a um regime de criação independente.Por inerência à sua natureza, as residências artísticas impõem aos seus participantes a permanência, por curto ou longo prazo, num local distinto do da residência ou trabalho, restringindo dessa forma a sua autonomia. Uma das consequências será a potenciação da precariedade financeira, desfavorecendo autores com responsabilidades familiares ou profissionais.
Acresce a esta questão o facto de que regimes afectos a instituições poderão tornar os projectos candidados dependentes das prioridades das autarquias (intervenções locais, valorização do património, formação de leitores). Restringe-se assim a promoção e parâmetros de uma criação artística independente, já que os seus processos, conceitos e temáticas nem sempre são compagináveis com o contexto institucional das bibliotecas ou autarquias.
Concordamos com a necessidade de contribuir de uma forma activa para a integração da banda
desenhada em vários programas educativos. Defendemos e apoiamos a oferta de formações das mais
diversas actividades criativas de modo equalitário por todo o país, do cinema à poesia, teatro, música, e inclusive a banda desenhada.Todavia, parece-nos que aliar a criação da banda desenhada a putativas formações locais cria um equívoco, subsumindo de forma utilitária esta actividade artística à formação de leitores, facilitação de conteúdos, abordagens didáticas do desenho e outras dimensões.
Consideramos que o desenvolvimento anímico da banda desenhada no nosso país se deve não à
ausência de talento ou de massa crítica, sendo clara e consolidada a sua existência pelas produções,
exposições, certames, debates académicos e cursos que lhe estão afectos, mas antes à ausência de condições de produção, nomeadamente que permitam a dedicação exclusiva dos autores, assim como de uma legitimação institucional e mediática que permitiria a devida integração da banda desenhada na vida cultural nacional.A remoção da banda desenhada do programa anual de bolsas de criação literária sinaliza uma
desvalorização da banda desenhada como forma de expressão artística, em contraciclo com a recente
aprovação na Assembleia da República de um Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa e o
reconhecimento pela Academia Nacional das Belas-Artes da banda desenhada como uma “forma superior de expressão cultural e artística”.Face a esta alteração, os subscritores dirigem-se à Exma. Sra. Ministra da Cultura, Profª Drª Dalila
Rodrigues, solicitando uma reunião em que possam ser definidos princípios de circunstâncias e condições mais adequadas à sua criação e prática.Com os melhores cumprimentos,
Os signatários
17 de Fevereiro de 2025
Se concordas, preenche este formulário até Domingo, dia 16, às 24h00.
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Co-criador e administrador do Central Comics desde 2001. É também legendador e paginador de banda desenhada, e ocasionalmente argumentista.
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