BD: Entrevista a André Diniz
Morro na Favela está prestes a ser lançado em Portugal pela editora Polvo, e o Central Comics conseguiu fazer uma pequena entrevista ao autor brasileiro André Diniz. E vejam também o vídeo. [fbshare]
Central Comics: Olá André, antes de mais queria agradecer-te pelo tempo dispensado para responder a estas poucas perguntas. “Morro da Favela” alcançou grande reconhecimento no Brasil e recebeu vários prémios. Para ti foi algo de inesperado ou achas que o público sentia a necessidade de algo no género?
André Diniz: Percebi algo curioso no caminho desta minha BD… Em um primeiro momento, senti um pouco uma desconfiança, “ah, mais uma história sobre favela…”. Não que o tema tenha virado um filão, mas foi mais explorado nos últimos anos em filmes e séries de TV, todos atingindo uma boa audiência. A reação inicial em si já seria questionável ao meu ver, pois ninguém fala “ah, mais um filme no velho Oeste, mais um filme sobre a II Guerra Mundial”… De qualquer forma, foi interessante ver a segunda reação, quando viu-se que a HQ ia por um caminho diferente. Em vez de mostrar a violência e a miséria como espetáculo, optei por mostrar esses e outros elementos inseridos na rotina dos personagens, como um ingrediente a mais em seu cotidiano. Um ingrediente decisivo, mas não único. A história de vida de Maurício também é algo lindo de se conhecer, e isso ultrapassou qualquer gênero ou nacionalidade. Creio que foram esses fatores que fizeram a BD conquistar o carinho da crítica e dos leitores.
AD: Essas foram influências decisivas na minha busca por um estilo próprio de desenho. Em maior ou menor grau, eu as uso bastante em meus trabalhos. São duas paixões minhas que eu digeri e retrabalhei ao meu modo. Em uma BD sobre favela, então, creio que o aspecto mais rústico destes dois estilos se encaixa muito bem.
CC: Duas das tuas influências notórias neste livro são a arte africana e a xilogravura. Em que medida estas contribuem para o teu método peculiar de trabalho? Fala-nos dele, em que consiste exactamente e como te permite poupar tempo ao nível do desenho.
AD: Sobre o meu método de trabalho, eu o formulei em 2008, aperfeiçoando-o com a prática desde então. Foi um período interessante e decisivo para mim. Eu já havia publicado várias BDs como roteirista e queria passar a desenhar minhas próprias BDs. Eu sabia contar uma história com desenhos, mas eles ainda não tinham vida própria. Foi aí que rasguei tudo o que sabia ou pensava saber sobre se desenhar uma página de BD e recomecei do zero, de uma forma meio metódica. Elegi como o principal vilão para um desenhista de BDs o tempo que se gasta não para criar, mas para executar cada página. Acaba-se usando 20% do tempo para se pensar a página e 80% para executar no papel aquilo que já está formado na cabeça. Decidi inverter isso, e a informática me foi fundamental. Criei uma série de atalhos, ações pré-configuradas no Photoshop, passei a utilizar técnicas usadas nos desenhos animados e aprofundei-me em algo que me fascina, e que também dita a minha criação de roteiros: como dizer mais com menos. Assim, busquei caminhos para passar mais emoção com menos traços, o que acelera a produção ao mesmo tempo em que enriquece a página, ao meu ver.
CC: Este é o teu trabalho de estreia em Portugal. Alguma mensagem para os leitores portugueses?
Respostas Andrè Diniz:
AD: Tenho uma relação de carinho e gratidão com os meus irmãos portugueses, que vão além da nossa proximidade cultural, histórica e sanguínea. Nos anos 90, uma fase crucial para a minha formação como pessoa, como leitor e como autor de BDs, eu consegui conhecer uma diversidade grande de BDs graças às edições portuguesas que vinham ao Brasil, principalmente as da Meribérica-Liber. Se não fossem as edições portuguesas, eu certamente seria um autor muito menos.
E para terminar, vejam o fantástico vídeo promocional animado por Wesley Rodrigues com música de Pedro Milman.
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Co-criador e administrador do Central Comics desde 2001. É também legendador e paginador de banda desenhada, e ocasionalmente argumentista.