BD: Crítica – Black Widow # 1 – A primeira desilusão do ano
A sinopse de Black Widow # 1 diz que já vimos a Viúva Negra como uma Avenger e até como uma Agente Shield. Mas no seu tempo livre, ela tenta expiar os pecados cometidos (quando foi uma assassina da KGB) de uma forma que os membros daquelas equipa não aprovam. E por incrível que pareça, é apenas isso que se pode ler na primeira revista deste título escrito por Nathan Edmonson e desenhada pelo Phil Noto.
Habitualmente, as sinopses de comics americanos são escritas para criar expectativas (que frequentemente são defraudadas assim que o livro chega às nossas mãos) e é comum assistirmos ao lançamento de uma nova série com uma sinopse que promete muito. Também é habitual os autores darem várias entrevistas em que revelam a excitação que sentem em trabalhar juntos naquele título em particular. Afinal de contas, esta é uma indústria Americana e os americanos são e andam excitados por natureza e por isso os leitores já se habituaram a esta forma de fazer marketing.
Em boa verdade todos compreendemos que quem trabalha nesta indústria fá-lo por paixão e não faria sentido apresentar o seu trabalho dizendo que é uma coisa mediana que podemos ler noutro lado. Cabe ao leitor saber navegar neste mar de expectativas que nos são atiradas.
No caso deste Black Widow, eu nem li entrevistas, nem me dediquei muito a conhecer os planos da editora para esta personagem. Para mim bastou saber que o desenhador é o Phil Noto.
Todos nós temos artistas ou desenhadores de que gostamos e Phil Noto é um dos meus preferidos (conforme tive oportunidade de salientar no texto anterior sobre esta série: BD: Crónica – BLACK WIDOW e o assalto á carteira dos leitores!)
Essencialmente gosto do seu desenho quase minimalista, sem traços desnecessários e a forma como desenha as faces e corpos (humanos, claro) sem preencher os seus painéis com demasiados elementos.
Quando olhei para as primeiras páginas desta revista, quase caí da cadeira e até hoje ainda estou em estado de dissonância cognitiva (mais de uma semana depois).
Eu não me lembro de Phil Noto desenhar outras séries como desenhou o Black Widow # 1 e, ou é a minha memória está a pregar-me uma partida ou ele mudou (ligeiramente) a forma de desenhar (para pior).
É certo Phil Noto desenha este Black Widow # 1 de forma semelhante ao que já vi noutras revistas. No entanto, além dos traços que caracterizam o seu desenho, as páginas deste comic americano estão cheias de traços e tracinhos e coisas completamente desnecessárias e que nada adicionam à história.
O desenho desta primeira revista é a primeira desilusão, a outra é a história que conta. Não posso dizer que a revista é má. O que posso dizer é que o trabalho de Phil Noto é inferior ao talento que tem demonstrado em outros trabalhos e a história que Nathan Edmonson conta é (no mínimo) banal. Há uma leve tentativa de nos dar a conhecer melhor a actual Viúva Negra, mas é muito pouco para (1) a primeira revista de (2) uma nova serie ongoing que ainda por cima (3) custa 3.99USD e (4) com apenas 20 páginas.
A história pode dividir-se em 4 actos: (1) acção, (2) seguida de uma breve cena que dá contexto à história recente de Natalia Romanova (ou Natasha Romanoff) e onde ficamos a conhecer o advogado/”dealer” dela, (3) acção novamente e (4) por fim algumas páginas de mais contextualização e demonstração da vida “caseira” desta personagem (um pouco à la Hawkeye. Alias, nota-se que a Marvel e a equipa criativa tentam dar a este título um “tom” semelhante ao da série Hawkeye, mas neste caso adicionam um pouco mais de acção).
É muito pouco para 20 páginas de uma revista da Marvel.
Na crónica anterior, comentei que discordava da existência de 2 revistas desta série no mesmo mês, mas agora sou obrigado a mudar de opinião. A próxima revista devia sair já esta semana para ver se limpa o sabor amargo deixado por este primeiro número.
Parece-me que a avaliação desta revista seria ligeiramente melhor se estivéssemos perante um onshot ou o número Zero porque são situações um pouco afastadas da continuidade, em que a exigência é menor e em que muitas vezes se tenta sair do modelo estabelecido pela série ao longo de vários números.
Outro pormenor muito relevante e que deixa a editora muito mal na fita é o número de páginas. A Marvel promete 32 páginas na previews de Outubro mas em Janeiro entrega apenas 20 páginas!
Esta crítica, não pode terminar sem abordar aquela que é uma das principais forças deste novo título da Marvel, refiro-me ao facto de ser uma nova série com uma personagem feminina como personagem principal.
Durante muitos anos os comics americanos, estiveram quase monopolizados por personagens masculinas e brancas (salvo raras excepções que os nossos leitores podem querer recordar na caixa de comentários aqui em baixo), mas esta situação tem vindo a alterar-se de forma mais acentuada nos últimos meses, em que é notório o esforço que as editoras tem desenvolvido no intuito de alargar os horizontes de género, étnicos e raciais das suas revistas.
Este acaba por ser um motivo adicional para pegar nesta revista, porque temos a possibilidade de ler algo que até recentemente era escasso.
Desta vez não dou nota.
Pesando todos os pontos favoráveis e desfavoráveis que mencionei, acho melhor esperar pela próxima revista para decidir se continuo a ler (e pagar) esta série.
Dário é um fã de cultura pop em geral mas de banda desenhada e cinema em particular. Orgulha-se de não se ter rendido (ainda) às redes sociais.
Onde é que compras os comics?