BD – Análise: New York Cannibals
“New York Cannibals”, de Jerome Charyn eFrançois Boucq é uma das últimas novidades editoriais lançadas pela Ala dos Livros. Mas será que vale a pena ter na nossa colecção?
A personagem principal é Azami, uma agente da polícia amante do culturismo, mas que obteve o seu grande tamanho com a ajuda da toma de esteróides. Infelizmente, esse consumo de substâncias impediu-a de ser mãe, apesar da sua grande vontade para tal. Assim, quando encontra um bebé abandonado numa das suas missões de trabalho, decide adoptá-lo, como também ela o tinha sido por Pavel, o seu tutor. Este é ponto de partida de onde daqui em diante segue-se uma montanha-russa de situações que irão afectar esta estranha família.
A história passa-se em 1990, numa Nova Iorque suja e violenta, e é interessante ver o quão sentido cinematográfico Boucq tem que, com a sua arte, faz-nos transportar automaticamente para as imagens que víamos nos thrillers e policiais dos anos 1980/90. Mas ao contrário dos filmes de Hollywood onde todos os actores são bonitos, aqui as personagens são muito mais próximas da verdade, com todos os defeitos, caras e corpos reais, tornando a nossa viagem a este mundo muito mais palpável e credível.
Apesar de ser uma história muito urbana, temos algumas escapatórias no argumento, como um flashback na vida de Pavel, ou um final que envereda numa toada mais mística. O que é bom, pois acaba por refrescar e dar um pouco de diversidade ao enredo deste longo álbum de 140 páginas.
Li New York Cannibals convencido que era um livro único, autoconclusivo e despegado de qualquer outro livro ou série. Só bem mais tarde é que descobri que estas personagens já tinham sido exploradas num volume anterior chamado “Little Tulip”, publicado em 2014 (em França, mas inédito em Portugal). Por isso, deixem-me sublinhar que sim, o livro lê-se perfeitamente bem isolado e sem conhecer o anterior. Até pelo que percebi, passam-se 20 anos entre cada um. Logo, isto não pode ser um impeditivo de deixarem de comprar e lerem New York Cannibals. Presumo que o facto de a editora não ter lançado primeiro Little Tullip talvez tenha sido para aproveitar o lançamento deste álbum em coedição, de forma a conseguir um custo de produção menos caro. Nesse sentido fico com a esperança que Little Tulip ainda possa sair em Portugal, como se de uma prequela se tratasse, pois de certeza que valerá a pena.
Com diálogos equilibrados e fluidos de Jerome Charyn, e a magistral arte François Boucq, a qual já me falta palavras para descrever, empacotada num livro bem encadernado e papel de alta qualidade, New York Cannibals é uma excelente adição à colecção de banda desenhada de qualquer um.
Como nota final só espero que o pouco legível “Edição Portuguesa” na capa, não prejudique nas bancas, enganando potências compradores pensando que o livro esteja em inglês. (A versão original francesa também tem o título e inglês).
Argumento: Jerome Charyn
Desenhos: François Boucq
Cores: François Boucq, Alexandre Boucq e Denis Béchu
Editor: Ala dos Livros
Argumento: 8
Arte: 9
Legendagem: 6
Encadernação: 9
Veredicto Final: 8
[Atualização]: Após a publicação desta análise, fui informado que a Ala dos Livros já tinha anunciado, através da sua página de Facebook, que iria publicar o livro “Little Tulip” em 2021. A própria editora também já nos esclareceu que a opção da coedição e do lançamento do NYC antes do LT, foi tomada para acompanharem o lançamento da obra ao mesmo tempo de França (que na verdade até saiu uns dias antes). Por isso, não se tratou de uma opção económica, mas sim a oportunidade de terem em Portugal este título mais cedo.
E para não perderes nada sobre o Central Comics no Google Notícias, toca aqui!
Além disso, podes seguir também as nossas redes sociais:
Twitter: https://twitter.com/Central_Comics
Facebook: https://www.facebook.com/CentralComics
Youtube: https://www.youtube.com/CentralComicsOficial
Instagram: https://www.instagram.com/central.comics
Threds: https://www.threads.net/@central.comics
Co-criador e administrador do Central Comics desde 2001. É também legendador e paginador de banda desenhada, e ocasionalmente argumentista.