Cinema: Análise – Uma Sereia em Paris
Lulu (Marilyn Lima) é uma sereia que habita no rio Sena. Apesar de só querer viver uma vida tranquila e sem problemas, ela tem o infeliz hábito de atrair homens com recurso à sua bela voz. Quando a ouvem, apaixonam-se imediatamente por ela e o coração deles explode. Literalmente.
Desconhecendo esta terrível maldição, Gasper (Nicolas Duvauchelle), um sonhador músico, assim que se depara com Lulu inconsciente no cais, decide levá-la para o apartamento dele numa tentativa de a ajudar. Ao lá chegarem, Lulu fica incrédula ao aperceber-se que o canto da sereia não tem qualquer efeito em Gasper, ao que este responde que tal se deve ao facto de o seu coração já ter explodido em relacionamentos passados. Contudo, nenhum dos dois é imune ao verdadeiro amor e, à medida que se apaixonam um pelo outro, a mulher de uma vítima de Lulu enceta uma vingança sem fim. Conseguirá Gasper manter Lulu em segurança antes que seja tarde demais?
Este é um filme que primeiro se estranha e depois se entranha. As histórias com sereias, sobretudo as que têm um romance como temática central, são sempre um pouco estranhas e levam o seu tempo a assimilar. Há sempre o aspeto de que a sereia não é tecnicamente humana, o que torna o relacionamento algo difícil de encarar como “real”. “Uma Sereia em Paris” também sofre deste problema a espaços, mas a fotografia, ambientes e cores quentes dos cenários atenuam esse sentimento. Além disso, nos poucos filmes com sereias que vêm à memória (“Splash” e “A Pequena Sereia” à cabeça), há a necessidade de transformar a fisionomia, tanto de Ariel como de Madison, de modo a que estas possam deslocar-se. Aqui, Lulu nunca deixa de ser uma sereia, permitindo a Gaspar apaixonar-se por ela como realmente é, não por uma versão fictícia.
Tendo em conta que “Uma Sereia em Paris” é sobre um músico e uma sereia que canta, não surpreende que a banda sonora seja maravilhosa. O canto de Lulu percorre-nos os poros da pele e faz-nos sentir dor em cada som, contrastando com os números alegres de jazz produzidos por Gasper. O dueto inevitável mais perto do fim é uma espécie de balanço, com sonoridades mais country e folk. Além de soar maravilhosamente, “Uma Sereia em Paris” é um deleite para os olhos. Malzieu introduz tanta cor, vivacidade e magia no ecrã que quase parece uma obra de arte. Faz lembrar a estética de filmes como “Amelie” e “A Forma da Água”, com toques de Wes Anderson.
Com influências tão díspares, “Uma Sereia em Paris” não é um filme para todos os tipos de público.
Estranho e fora da caixa é, também por isso, uma experiência que merece ser vista. Trata-se de um conto de fadas encantador e de uma bonita história de amor entre dois seres à procura de redenção e que a encontram da forma mais invulgar possível.
Nota final: 7/10
1 de Outubro nos cinemas
Apaixonado desde sempre pela Sétima Arte e com um entusiasmo pelo gaming, que virou profissão.