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Análise: Summerland (2020)

Encenadora consagrada com um prémio Olivier, dramaturga e argumentista, Jessica Swale assina Summerland como a sua primeira longa-metragem enquanto realizadora. Apesar de já contar com alguma experiência enquanto realizadora de curtas-metragens, estaria preparada para esta estreia?

Summerland
Summerland Feature Film Stills by Michael Wharley

 Summerland transporta-nos para Dover, Inglaterra, em plena 2ª Guerra Mundial, onde vive Alice (Gemma Arterton), uma mulher independente, dedicada aos seus estudos sobre mitos e lendas do folclore inglês e, aos olhos dos habitantes da sua localidade, um pouco irreverente. Um dia batem-lhe à porta e dizem que está encarregue de tomar conta de Frank (Lucas Bond), um dos muitos jovens evacuados da cidade de Londres vítima de bombardeamentos. Com muito trabalho em mãos e uma tese académica para terminar, Alice aceita com a condição de que ao fim de uma semana Frank terá de ficar com outra família. Como irá um espírito livre como Alice lidar com Frank, um rapaz que transborda curiosidade, alguma traquinice e que apenas se quer integrar?

Summerland

Mais um filme que nos mostra como a vida pode ser afectada pela forma como reagimos e que devemos procurar iluminar os sítios mais escuros, Summerland não foge muito do previsível. O seu ponto forte acaba mesmo por ser a mística envolvente criada pela fotografia de Laurie Rose, que alia a belíssima paisagem costeira onde se localiza a pequena casa de Alice às colinas verdejantes de Dover. É impossível não pensar que Frank parece ter fugido para uma espécie de paraíso na Terra ainda que esteja apenas a cerca de duas horas de Londres e da realidade que a assola. Se retirarmos esse elemento, resta-nos a forma calorosa, alegre e cúmplice com que Gemma Arterton e Lucas Bond conduzem o filme. Chega a ser comovente a influência que um exerce sobre o outro.

Summerland

Contudo, Summerland não deixa de se mostrar relevante. Foram tantos os filmes que a 2ª Guerra Mundial nos trouxe que às vezes nos perguntamos se ainda existe algo mais para contar. Jessica Swale, que também escreveu o argumento, diz-nos que sim. Uma das ideias centrais em Summerland é a de que todas as histórias vêm de algum lado. Por isso mesmo, é reconfortante saber que ainda existem, de facto, histórias para contar e vozes para serem ouvidas, mesmo quando se trata de contextos que aparentam ser nossos conhecidos. Alice representa uma dessas vozes, o que torna a personagem mais interessante e fácil de compreender, se contarmos também que o filme nos conduz através de flashbacks a fragmentos de momentos mais pessoais do seu passado. Poder-se-ia até dizer que Summerland é a resposta que Jessica Swale dá à sua própria curta-metragem Leading Lady Parts (2018), arranjando formas de mostrar que há espaço para novos papéis femininos no cinema e que estes têm de ser explorados.

Summerland acaba por ser um filme familiar, mas cativante. Não há nada que nos faça despertar. Tudo encaixa na atmosfera criada pelas personagens, pelos espaços e pela música de Volker Bertelmann. Desta forma, Jessica Swale tem uma estreia em realização bastante promissora e provavelmente chegará onde o teatro já a levou.

Classificação: 7/10

Summerland estreia em Portugal a 24 de Setembro.

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