Análise: Os Passageiros do Vento 9 – O Sangue das Cerejas Livro 2
Os Passageiros do Vento 9 – O Sangue das Cerejas Livro 2 é o último da famosa série de François Bourgeon e já saiu pela Ala dos livros. Leiam a nossa análise.
Este “Os Passageiros do Vento 9 – O Sangue das Cerejas Livro 2” é um marco nos 43 anos da grande saga de François Bourgeon, pois é o apoteótico volume final que tem, imaginem só, 136 páginas, sendo portanto o maior da série. Ele é também a segunda parte e conclusão do ciclo “O Sangue das Cerejas”, o único publicado pela Ala dos Livros (os ciclos anteriores tinham sido publicados pela ASA que terá abandonado a série em 2010.
Mais uma vez temos uma editora desta nova geração qie faz um trabalho extraordinário com esta publicação, diria até “serviço público” não só pelo trabalho do livro físico em si, mas também por terminar esta marcante série do grande autor francês de 78 anos e meio.
Antes de mais nada, quero deixar claro que sou um grande fã da série e a considero extraordinária. Bourgeon criou aqui uma obra incrível, mas deveriam ter sido mais cuidadosos na sua publicação em Portugal. Acabamos por ter a série praticamente em três formatos diferentes, com os primeiros volumes pela Meribérica, ou já pela ASA, mas numa coleção de capa mole em coedição com o jornal Público. Os Passageiros do Vento mereciam melhor tratamento (mas a culpa não é da Ala dos Livros, diga-se), mas, apesar dos contratempos, o que importa é que a série foi publicada integralmente em Portugal.
Se já leram a primeira parte, sabem que Klervi foi esfaqueada pelo seu ex-companheiro, e Zabo conseguiu vingar-se. Agora, estamos no ponto em que ambas saem (ou fogem?) de Paris. Neste volume, acompanhamos a sua viagem de comboio em direção à Bretanha, enquanto Zabo vai partilhando os traumas que sofreu durante a Semana Sangrenta, até à sua deportação para a Nova Caledónia, na companhia de Louise Michel e Henri Rochefort, duas figuras importantes da Comuna de Paris.
Posto isto, custa-me a admitir que custou-me imenso ler este colossal volume de quase 140 páginas. Confesso que já desde o ciclo “A Menina de Bois-Caiman”, também ele partido em dois livros, que a série tem vindo perdendo gás, sendo que este último volume acaba por ser mesmo o mais fraco deles todos.
Desde o enredo densamente informativo, que parece mais uma lição de história do que uma narrativa envolvente capaz de prender o leitor, até aos diálogos longos e aborrecidos, muitas vezes desprovidos de interesse, este volume foi uma verdadeira tortura de ler, com as páginas a ficaram cada vez mais pesadas ao passar de umas para as outras.
Mesmo na arte, embora pareça bonita ao folhear o livro, quando comparada com os primeiros volumes, é apenas uma sombra do que Bourgeon já fez. Embora o traço esteja mais fino e refinado, há uma sensação de negligência que pode passar despercebida aos mais distraídos. Começando pela cor, que perdeu muito desde os tempos em que era aplicada à mão, agora substituída pela técnica digital na segunda metade da coleção. Mas já mesmo com a colorização por computador, em comparação até com o volume anterior, nota-se que está ainda mais simplista e básica, muitas vezes com cores planas ou degradês simples e poucos toques de sombra.
E o mesmo se aplica ao desenho, com muitos planos super aproximados dos rostos, revelando pouco do corpo para baixo, ocupando o máximo possível da vinheta para evitar o trabalho de desenhar mais. Vejam por exemplo esta página:
O autor optou por criar um volume com 136 pranchas de arte sequencial e sacrificou a qualidade artística e cromática por questões de tempo e trabalho.
Classifico este volume com 6.5 em 10, como forma de reconhecer o autor por nos ter trazido uma saga magnífica, mas como livro isolado, não mereceria mais do que 5 em 10, dada a desilusão que me provocou.
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Co-criador e administrador do Central Comics desde 2001. É também legendador e paginador de banda desenhada, e ocasionalmente argumentista.