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Análise: O Ninho

“Casa (ou neste caso o ninho) é onde a nossa família está”. Muitas vezes é o que se diz quando são exigidas algumas mudanças que envolvem mudar de bairro, cidade ou país. Por vezes, há o receio de deixar uma vida estável em busca de novas oportunidades. Mas esse receio desaparece quando se procura eliminar a insatisfação que cresce dia após dia. Em O Ninho, o realizador e argumentista Sean Durkin apresenta-nos uma espécie de análise dos efeitos que determinadas dinâmicas familiares podem sofrer quando ocorrem mudanças que despertam micro problemas desconhecidos.

O Ninho

Em plena década de 80, Os O’hara são uma família de classe média alta dos subúrbios americanos, aparentemente feliz e cúmplice. Contudo, para Rory O’hara (Jude Law) os pontos altos do dia são o momento em que, carinhosamente, acorda a esposa Allison (Carrie Coon) com uma chávena de café antes de esta ir trabalhar, e o momento em que leva os filhos, Samantha (Oona Roche) e Benjamin (Charlie Shotwell), à escola. Rapidamente se percebe que Rory, antes banqueiro investidor e agora desempregado, está cansado da vida doméstica. Felizmente, surge-lhe a oportunidade de voltar a trabalhar no seu antigo escritório sediado em Londres, a sua terra natal. Por ter de deixar um emprego que adora e por achar que a família não pode enfrentar uma quinta mudança num espaço de dez anos, é com bastantes reticências que Allison aceita a proposta do marido. No entanto, os problemas apenas começam a surgir quando a família se muda para a nova casa escolhida previamente por Rory: uma mansão antiga e isolada da cidade. 

Sean Durkin entra a pé juntos ao abordar questões ligadas às questões de género e à desconstrução de estereótipos familiares.  À medida que o filme avança, percebemos que Rory poderá sofrer um complexo de inferioridade em relação a Allison. Além do mais adopta constantemente um discurso afincadamente capitalista e ambicioso em que a qualidade e quantidade são proporcionais em todas as matérias da vida. Isto e a sua incapacidade de visualizar os detalhes que o rodeiam são a sua doença. 

O Ninho não procura escolher lados, limitando-se a mostrar preto no branco o colapso desta família. A cada instante mói o impacto de uma inversão súbita dos papéis familiares, a falta de comunicação dentro do seio familiar e a falta de atenção para com a dificuldade dos filhos em se adaptarem à sua nova vida. Os detalhes do quotidiano, que começam por ser invisíveis aos olhos de Rory, com o tempo passam também a ser invisíveis aos olhos de Allison – Samantha e Benjamin acabam por ficar esquecidos. 

Desde início a falta de dinâmica familiar é pouco discreta e o filme está feito de forma a acentuar o afastamento das personagens e a sua transição inconsciente de conhecidos para quase estranhos.  Contudo, a determinado momento o filme estagna. De repente as personagens parecem agir sem qualquer motivação e cada momento parece desligado do que aconteceu antes e do que vai acontecer a seguir. Passamos a acompanhar as personagens individualmente e a resolução do conflito familiar parece impossível.  A última parte de O Ninho acaba por nos fazer questionar acerca do verdadeiro sentido do filme. Na verdade, apenas mostra que o filme desde início nunca é o que parece. É uma análise de Rory, de Allison, do casal, da família…? Para não falar de que a partir do momento em que a acção muda para a mansão de Londres permanece a sensação de que que O Ninho é um thriller psicológico à espera do momento perfeito para se converter num filme de terror. Portanto, não só a relação entre as personagens fica presa por uma linha, como também a relação da história com o espectador.

O Ninho é daqueles filmes que não têm meio termo e, tanto pelo que tem de bom como pelo que tem de menos bom, é um filme que paira entre o interessante e desapontamento provocado pela falta de desenvolvimento, que culmina num final pouco impactante. Ainda assim, bem acompanhada com uma das melhores interpretações de Jude Law e com a Carrie Coon a roubar grande parte das cenas do filme, a história que Sean Durkin quer contar ganha pela relevância que tem na actualidade.  

Classificação: 6,5/10

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