Análise: Mulher-Maravilha 1984 (SEM SPOILERS)
A Mulher-Maravilha regressa ao cinema para a última aventura do 2020. Será que vai ser o filme do ano das bilheteiras nacionais nesta era da Pandemia?
Décadas passaram desde a sua última aventura a solo, mas Diana(Gal Gadot) continua assombrada por tudo o que perdeu e investida nas suas carreiras como Antropóloga e Super-heroína. No entanto, o Status Quo começa a mudar com o aparecimento da Dr Barbara Minerva(Kristen Wiig) e do magnata do petróleo Maxwell Lord(Pedro Pascal). Unidos no seu interesse por um misterioso artefacto, os três rapidamente sobem ao palco principal desta emocionante missão.
E após tanto atraso e adiamento… falta brio no produto final. Tanto temos visuais soberbos e inspirados como temos puré de batata cinzento. Efeitos especiais tanto ficam fantásticos como mal conseguidos num produto final atabalhoado, mas com coração. Sim, a componente técnica é manhosa, o argumento rege-se por leis inacreditáveis dando-nos um Deus Ex Machina surreal que só fica devidamente explicado no final do segundo acto. Tanto temos sequências de perseguição no deserto que lembram uns certos Salteadores como temos absolutos tédios oculares na maioritariamente insossa Washington DC.
Mas também temos o carismático Pedro Pascal a mostrar os seus dotes menos Mandalorianos. O destemido e aldrabão Lord é a personagem mais bem conseguida do filme. A sua introdução, maneirismos, o seu código de conduta e a sua performance são pontos altos do filme. Muito como ele, o regresso de Chris Pine também deu muito ao filme. Embora rebuscado, este peixe fora de água serve como um excelente guia para o público, fazendo-nos perceber o quanto o mundo mudou nas décadas após a Primeira Guerra Mundial. A química partilhada com Gadot é um autêntico deleite, e volta a mostrar que, ao contrário dos seus colegas de equipa, a Mulher Maravilha tem um trajecto um tanto mais heróico. O serviço sem recompensa, com riscos presentes e reais, única e exclusivamente porque Grande Poder traz sempre Grande Responsabilidade, ou lá como o tio do outro dizia.
Infelizmente Wiig fica atrás, talvez pela natureza fútil embora relacionável da sua personagem. O filme tenta fazer-nos perdoar a sua troca de bondade por ego, mas acaba por desvalorizar um tanto mais a vilã ao roçar clichés e tentar semear simpatias que seriam perfeitamente desnecessárias e só pioram o produto final.
É com pena que volto a reparar na instabilidade da performance de Gadot. Não sei se será o sotaque, maneirismos, argumento ou uma mistura de todos. Ora temos uma cena magnifica em que realmente sentimos o trauma e a dedicação da Amazona, ora temos outra na qual o dialogo parece copiado e colado, robótico, sem paixão. É uma pena atroz que um desses momentos dúbios chega quase no final do filme, um dialogo que podia ter salvo o filme e acaba a cair por terra.
Não é fantástico por muito que tente, certos momentos e sequências parecem querer desrespeitar o público. Uma em particular, pela execução técnica atroz, cospe no legado da DC e dos super-heróis no cinema. Um momento de viragem, evolução e crescimento, com efeitos tão maus que mais parecia um vídeo de Youtube ou um filme “aceitável” de 2000 e troca o passo.
Infelizmente, isto deixa a longa-metragem aquém das expectativas. Com o final de 2020 o público precisava de uma vitória, um último “Viva!” para assegurar que nem tudo se perdia neste ano, como no climax de um filme de desportos. A Warner Bros. também teria lucrado, claro. Um filme melhor podia ter sido o murro no estômago que começava a reviravolta contra o monopólio Marvel.
Como está, Mulher-Maravilha 1984 é mais um filme. Vê-se. Não é o pior do ano, se calhar até é o melhor, mas em retrospectiva isso não vale muito…
Os actores tornam um argumento medíocre, uma produção aceitável, num filme bom, é esse o grande mérito desta sequela. Contudo, é bom para uma dose de pipocas quando o vírus decidir acalmar, ou quando chegar às plataformas de streaming.
Classificação: 6/10
Jovem dos 7 ofícios com uma paixão enorme por tudo o que lhe ocupe tempo.
Jedi aos fins-de-semana!