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Análise: Listen (2020)

Foi em estado de euforia que, no passado mês de Setembro, Ana Rocha de Sousa regressou do Festival de Veneza. Com um tema pertinente e uma força imensa, Listen, a sua primeira longa-metragem, conquistou o júri, o público, e agora promete conquistar Portugal.

Bela (Lúcia Moniz) e Jota (Ruben Garcia) são um casal português emigrante em Inglaterra. Devido às dificuldades que enfrentam, os Serviços Sociais Britânicos levantam suspeitas sobre a segurança emocional e física dos seus três filhos. Para complicar a situação, Lu, a filha do meio, é surda. Um dia, quando simplesmente esperam uma visita da assistente social, Bela e Jota vêem os seus filhos serem levados.

No Reino Unido, as crianças quando são retiradas aos pais entram directamente num sistema de adopção forçada. O que significa que há uma hipótese muito remota de os pais conseguirem recuperar a custódia dos filhos. Apesar de Listen não se basear numa história verídica específica, pretende retratar um exemplo entre os muitos casos que surgem nestas situações, denunciando o procedimento padrão de desenvolvimento destes processos. 

É impossível ficar indiferente quando surgem histórias como a de Bela e Jota. Muitas vezes somos até confrontados com um duelo interior originado pelo conflito entre a união das famílias e todas as suas condições e, em alguns casos, privações. Inicialmente, Listen provoca esta sensação. Contudo, é incontestável a empatia que se gera através da forma como Ana Rocha de Sousa conta esta história. Todo o filme apresenta um olhar claro e cuidado que nos aproxima de Jota, de Bela e das crianças. Num curto espaço de tempo são visíveis o amor e a luta diárias para recuperar o que por certo está perdido. 

Parece que tendencialmente escolhemos um lado. Acabamos por questionar as prioridades dos serviços sociais. Qual é a sua função quando as famílias não sentem confiança para recorrer ao seu apoio, sabendo que em vez de receber ajuda podem ser destruídas? E curioso que uma instituição dedicada a resolver estes assuntos ouça menos que uma menina de 7 anos dependente de um aparelho auditivo. 

Mas, Listen é tudo menos tendencioso. É bastante transparente na forma como nos dá a conhecer o lado menos bom da rotina diária de Bela e de Jota. Por isso mesmo, é um filme bonito, intenso e de uma angústia crescente. É impactante pela sua relevância, pela realidade que representa e pela condução assombrosa das interpretações de Lúcia Moniz e de Ruben Garcia. Não é para menos que tenha saído do Festival de Veneza com seis prémios. Quem sabe se não poderá vir a ser o abanão que o cinema em Portugal precisa para levar mais espectadores às salas até ao final do ano. 

Classificação: 9,5

Listen estreia em Portugal a 22 de Outubro

 

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